A Santa Casa da Misericórdia de Serpa (SCMS) anunciou, a poucos dias do final do ano, a sua intenção de encerrar o serviço de urgência do Hospital de Serpa durante o período nocturno, entre a meia noite e as 8h da manhã. Esta suspensão entra em vigor hoje, 3 de Janeiro de 2022 e prolongar-se-á, pelo menos, até ao fim do mês.
A administração do Hospital desculpa-se com a incapacidade de encontrar médicos que assumam esta escala, o que permitiria reabrir o serviço. Nenhum dos médicos que trabalha nas urgências deste hospital está em regime de exclusividade, cumprindo funções e horários em várias outras instituições de saúde.
O Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP/CGTP-IN), em comunicado, considera inadmissível a decisão tomada pela SCMS, relembrando que esta entidade assinou «um Acordo de Cooperação com o Ministério da Saúde, a Administração Regional de Saúde do Alentejo (ARSA) e a Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo (ULSBA)» para gerir o Hospital de Serpa, algo que manifestamente não consegue fazer.
Apesar da gestão da SCMS, esta continua a ser uma instituição do Serviço Nacional de Saúde. «Na defesa da saúde das populações que o Hospital de Serpa serve, o SEP considera que a única alternativa é que a ULSBA/ARS volte a gerir o Hospital», como acontecia antes do acordo assinado entre estas partes.
«A degradação dos serviços de saúde no concelho»
Também a Comissão de Utentes de Serviços Públicos do Concelho de Serpa, que há muito defende a gestão pública e inteiramente integrada no SNS deste Hospital, criticou a decisão. «Temos assistido a uma degradação dos serviços de saúde no concelho, sendo este mais um lamentável episódio no filme de terror em que se converteu a saúde neste território».
«O concelho de Serpa é o 11.º maior em área a nível nacional e o 3.º em população o Baixo Alentejo», relembra a comissão de utentes. A situação é agravada pela falta de condições existente nos concelhos limítrofes, «nomeadamente na margem esquerda do Guadiana», onde existe uma oferta deficiente nos cuidados de saúde.
Os deputados do PCP João Dias e Paula Santos, endereçaram um conjunto de questões à Ministra da Saúde, Marta Temido, sobre este encerramento. «É por demais evidente que o acordo de cooperação tem sido violado com gravidade», não restando outro caminho para o Hospital de Serpa, no distrito de Beja, que não «o da sua reversão para Ministério da Saúde», tal como já está previsto.
«Num momento em que deveria estar a ser reforçada a resposta do SNS, mediante a contratação de profissionais em falta, de mais investimento em equipamentos e meios materiais para prestar cuidados de saúde de qualidade, o que assistimos é exatamente ao inverso: o encerramento de serviços» essenciais.