«O Convento das Grilas, fundado em 1663 por ordem de D. Luísa de Gusmão, teve diferentes utilizações ao longo da história, desde recolhimento de freiras da Ordem de Santo Agostinho a dormitório militar. A sua reconversão integra agora um polo tecnológico e criativo que acolhe mais de 1500 pessoas e empresas internacionais, incluindo unicórnios tecnológicos e startups». Isto pode ser lido no site da Câmara Municipal de Lisboa.
Com o preço crescente das casas, Carlos Moedas participou ontem no arranque das obras do novo espaço de co-living no antigo Convento das Grilas. O espaço «terá 84 unidades habitacionais de diferentes tipologias, num total de 137 quartos» e «destina-se a estadias de média duração, direccionado para trabalhadores temporários, nómadas digitais ou profissionais deslocados».
A indignação de vários lisboetas multiplica-se porque, para além da crise habitacional, verifica-se o aumento do número de pessoas em situação de sem-abrigo na cidade de Lisboa. Apesar deste facto, o anúncio do novo espaço mantém a lógica de privilegiar um determinado perfil de pessoas, uma vez que o projecto visa reforçar a Fábrica de Unicórnios, espaço dedicado a startups que querem ser avaliadas em mil milhões de dólares ou mais, sem estarem cotadas em bolsa.
Neste sentido, o Executivo PSD/CDS-PP, que contou com a abstenção do PS, aprovou em Fevereiro de 2024 a alienação de património público e a empreitada que será realizada pela Mota-Engil. «Este não é apenas um edifício. É um novo modelo de habitação urbana. Um espaço de vida que acolherá inovação, comunidade e futuro. Este projeto é um gesto de confiança no futuro: uma resposta habitacional sustentável, acessível e transformadora, ancorada em partilha, colaboração e pertença», disse Carlos Mota Santos, CEO da Mota-Engil, à agência Lusa.
O espaço que colide directamente com as necessidades de todas aqueles que são esmagados pela especulação imobiliária terá quatro pisos e zonas comuns, como cozinhas partilhadas, lavandaria, salas de estar e terraços, pensadas para «estimular a convivência, a partilha e o espírito de comunidade».
Apesar de dedicado a actividades especulativas e a nómadas digitais, e não a pessoas com necessidades reais, numa publicação na rede social X, Carlos Moedas diz que este é «um projeto que reabilita um edifício histórico e reforça a resposta habitacional da cidade», insultado, assim, quem precisa realmente de casa.
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