Milhares de crianças perderam a vida e centenas de milhares correm risco de vida, devido a doenças evitáveis ou à fome, afirmou Catherine Russell, directora executiva do Fundo das Nações Unidas para Infância (Unicef), após uma visita ao Iémen.
«É provável que o verdadeiro número de vítimas deste conflito seja bastante maior», disse Russell, ao comentar as consequências da guerra e a situação de crise humanitária no Iémen.
Em Março de 2015, a Arábia Saudita, com o apoio dos EUA, do Reino Unido, da França e de outras potências europeias e regionais, lançou uma agressão militar contra o Iémen, tendo como objectivo declarado suprimir a resistência do movimento Huti Ansarullah e recolocar no poder o antigo presidente Abd Rabbuh Mansur Hadi, aliado de Riade, sem sucesso.
A campanha militar, acompanhada por um cerco que privou o país dos bens essenciais, provocou milhares de mortos, feridos e deslocados, destruiu as infra-estruturas do mais pobre dos países árabes, espalhou a fome e disseminou doenças infecciosas, estando na origem daquilo que as Nações Unidas classificaram como a mais grave crise humanitária dos tempos modernos.
Neste sentido, Russell apelou à reactivação imediata da trégua que, sob os auspícios das Nações Unidas, entrou em vigor a 2 de Abril deste ano, por um período de dois meses, e que foi renovada duas vezes – em Junho e Agosto –, prolongando-se até 2 de Outubro último.
«A renovação urgente da trégua seria um primeiro passo positivo que permitiria um acesso humanitário crítico», disse Russell, acrescentando que, «em última instância, só uma paz sustentada permitirá às famílias reconstruir as suas vidas destroçadas e começar a planear o futuro».
Milhões de crianças à beira da morte
De acordo com a Unicef, 2,2 milhões de crianças iemenitas sofrem de má-nutrição severa, um quarto das quais têm menos de cinco anos, e correm um risco extremo de contrair cólera, sarampo, difteria e outras doenças que a vacinação pode evitar.
Centenas de milhares de iemenitas perderam a vida desde o início da guerra, de forma directa ou indirecta, em bombardeamentos e explosões de minas terrestres, devido à falta de acesso a água potável, serviços de saneamento e infra-estruturas de saúde.
O bloqueio terrestre, marítimo e aéreo imposto pelos sauditas, que impediu a chegada de alimentos, medicamentos e combustível ao país, é fundamental para se entender a actual situação humanitária no Iémen, em que, revela a Unicef, «mais de 23,4 milhões de pessoas (três quartos da população) necessitam de ajuda e protecção».
Desses, mais de 11 milhões são crianças, sendo que, actualmente, dois milhões de rapazes e raparigas não vão à escola, acrescenta o organismo.
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