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A «solução final» em directo

Não dá para seguir com a nossa vida, enquanto ao jantar nos servem a morte de crianças como as que temos em casa. Não se toleram discursos alegadamente incomodados por parte de quem patrocina o extermínio de um povo. 

Na marcha de celebração da ocupação israelita de Jerusalém Oriental, esta segunda-feira, nacionalistas congratularam-se com as crianças palestinianas assassinadas
Na marcha de celebração da ocupação israelita de Jerusalém Oriental, esta segunda-feira, nacionalistas congratularam-se com as crianças palestinianas assassinadas CréditosHaitham Imad / EPA

O holocausto (sacrifício) a que estamos a assistir, com maior violência desde 7 de Outubro de 2023, «é o sacrifício dos palestinianos no altar da culpa europeia». As palavras para descrever o inferno a que o povo palestiniano tem tentado resistir foram usadas em Novembro do ano passado pela autora Alexandra Lucas Coelho, uma das poucas vozes públicas desassombradas sobre a ofensiva que Israel tem levado a cabo na Faixa de Gaza (também na Cisjordânia), matando milhares de crianças e suas famílias, à bala ou à fome. As imagens chegam-nos diariamente, mais ou menos filtradas, muitas vezes condicionadas por comentários que apenas contribuem para desumanizar ainda mais um povo condenado por ter nascido numa terra em que outro se veio a constituir de forma violenta e mentirosa.

Desde 1948, data inicial da limpeza étnica, que os palestinianos se vêem privados do acesso pleno à sua terra e ao essencial à vida, como a água. Desde então que resistência é alimento para os palestinianos ocupados por um Estado sionista com a cumplicidade da dita comunidade internacional, com o falso argumento da segurança (como pode um país agressor pedir paz?). O mesmo, agora. A pretexto das vítimas isrelitas de 7 de Outubro, com que o governo de Netanyahu nunca esteve genuinamente preocupado, já se mataram mais de 56 mil palestinianos, entre os quais 17 mil crianças, muitas queimadas vivas. Imaginem se toda a população de Ovar fosse dizimada. É da mesma proporção que estamos a falar. 

Desde o passado dia 2 de Março que o governo de extrema-direita israelita bloqueou a entrada de ajuda humanitária e de alimentos na Faixa de Gaza, usando a fome como intrumento para o extermínio de 2,2 milhões de pessoas (e se fôssemos nós?). É sabido e consentido que Israel comete crimes de guerra. É sabido e consentido que as potências europeias patrocinam o genocídio, como a alemã, que pela culpa do holocausto dos judeus patrocina agora um novo, tão condenável como o levado a cabo pela Alemanha nazi. Um genocídio a que vamos assistindo pelas redes sociais e pela comunicação social, apesar de Israel já ter assassinado pelo menos 230 jornalistas, nos últimos 19 meses.

A ofensiva vai motivando críticas cínicas e sonsas de quem tem as mãos manchadas de sangue. Esta segunda-feira, o chanceler da Alemanha, país que vai continuar a vender armas a Israel, dizia já não compreender o objectivo do exército israelita na Faixa de Gaza. Mas se há coisa de que o Estado ocupante não pode ser acusado é de alguma vez ter tentado esconder os planos para o território da Faixa de Gaza e o ódio pelo povo palestiniano a que tem estado a aplicar a «solução final». Neste quadro de inacção, onde lastimavelmente aparece o nosso ministro dos Negócios Estrangeiros a «avaliar a possibilidade» de reconhecer o Estado da Palestina, cabe aos povos levantarem-se contra a indiferença e a barbárie, e exigir que nem mais um palestiniano morra em nosso nome. 

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