Mais de mil pessoas participaram, esta semana, numa iniciativa convocada por um conjunto de partidos de esquerda e seculares para denunciar o genocídio em curso na Palestina, perpetrado pelas forças de ocupação israelitas, e exigir ao governo indiano que rompa todas as relações que mantém com o regime sionista.
O protesto realizou-se na Azad Maidan, apesar das fortes chuvas, com os participantes a exibirem bandeiras comunistas e da Palestina, bem como faixas a denunciar o apartheid israelita nos territórios ocupados e o genocídio em curso na Faixa de Gaza, e a declarar apoio a um Estado palestiniano soberano, refere o Peoples Dispatch.
Gritando palavras de ordem como «Do rio até ao mar, a Palestina será livre», os manifestantes contestaram também a política externa do governo de Modi no que respeita a Israel, bem como as ligações entre a ideologia supremacista hindu e o sionismo.
Autorização recusada duas vezes
A realização do protesto, esta semana, representou uma forma de «desafio à política de silenciamento das vozes que apoiam a Palestina» no país sul-asiático, indica o Peoples Dispatch, lembrando que o governo de Modi tentou classificar estas acções solidárias como «irrelevantes para os indianos».
Na sua conta de Twitter (X), o Partido Comunista da Índia (Marxista), que integra a plataforma de partidos de esquerda e seculares que convocou o protesto, lembra que a ofensiva sionista em Gaza provocou mais de 62 mil mortos e motivou uma onda de contestação a nível mundial.
Nesse sentido, denuncia o facto de a Polícia de Mumbai ter declarado o protesto «ilegal» e recusado por duas vezes a autorização para a sua realização, em Junho e em Julho.
O caso seguiu para a Justiça, com o PCI(M) a classificar a recusa por parte da Polícia como «arbitrária e injusta». No entanto, os juízes posicionaram-se ao lado da Polícia, questionando a lógica destes protestos, afirmando que a Índia tem muitas questões internas para resolver e que «o patriotismo deve começar com as preocupações com os cidadãos do próprio país».
Os juízes também sublinharam a dimensão «internacional» do protesto e o seu impacto para a Índia, chegando a questionar o «patriotismo» dos organizadores, o que motivou ampla contestação do PCI(M), que classificou as observações judiciais como «profundamente anti-constitucionais».
Face à indignação crescente da plataforma de partidos de esquerda e de outras organizações com as recusas da Polícia e as observações da Justiça, no passado dia 12 a Polícia decidiu retirar as alegações e permitir a realização do protesto.
Defesa da causa palestiniana
Ao intervirem no protesto, vários oradores questionaram o papel da Justiça e lembraram que a questão da Palestina não é uma coisa «remota», mas bem presente para muitos indianos.
Outros destacaram a matança deliberada do povo palestiniano na Faixa de Gaza por parte de Israel e refutaram o direito à defesa que os sionistas alegam, uma vez que «a guerra contra a Palestina não começou a 7 de Outubro de 2023». Pelo contrário, sublinharam o direito dos palestinianos a resistir à ocupação.
Outro tópico abordado foi a utilização sistemática da fome, por Israel, como arma de guerra, como forma de levar por diante o genocídio em Gaza.
Ao intervir, o jornalista P. Sainath condenou também a «traição» do governo indiano à causa palestiniana dentro e fora das Nações Unidas, tendo sublinhado a longa tradição de solidariedade da Índia com os movimentos de luta anti-colonial pelo mundo fora.
O facto de o governo de extrema-direita se ter repetidamente recusado a condenar o genocídio ou a exigir um cessar-fogo foi amplamente condenado, com o realizador Saeed Mirza a destacar a proximidade entre a hindutva e o sionismo.
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