|Itália

Partido de esquerda italiano denuncia infiltração policial

O Potere al Popolo revelou esta semana ter sido «infiltrado e espiado durante dez meses». «Sinal preocupante do autoritarismo do governo», a operação encoberta está a ser denunciada no país transalpino.

Manifestação em Itália contra o belicismo, o militarismo e os planos de rearmamento na Europa Créditos / Peoples Dispatch

Na terça-feira passada, um representante do Potere al Popolo revelou que o partido de esquerda pôs cobro à infiltração de dez meses de um jovem agente policial, que se fez passar por um apoiante.

Enquanto participava em mobilizações e debates, ia passando informações sobre o partido às autoridades, denunciou o Potere al Popolo, que, juntamente com outras forças progressistas do país, dirigiu fortes críticas ao governo de Giorgia Meloni e ao aparelho de Estado que alinha com as suas políticas e ministérios.

Em comunicado, o partido alerta para uma situação «cada vez mais preocupante, quando se começa a juntar os pontos».

«Primeiro, as notícias de espionagem via spyware Paragon contra jornalistas (Fanpage) e organizações não governamentais (Mediterranea), agora a infiltração num partido político. Devemos pensar que este governo não é capaz de tolerar qualquer forma de dissidência ao ponto de ter de recorrer a métodos de regime?», lê-se na página do partido.

Infiltração descoberta

Giuliano Granato, representante do Potere al Popolo, revelou o caso numa entrevista à página Fanpage, na qual descreveu a aproximação de um jovem à organização do partido em Nápoles.

Participou em várias mobilizações e iniciativas partidárias, mas o seu comportamento levantou suspeitas entre militantes do partido.

Apesar de haver muito pouca informação sua em perfis de redes sociais, uma investigação rápida na Internet revelou registos da sua ligação à Polícia, como a graduação de um curso nas forças de segurança e a entrada ao serviço em 2023, ou várias fotos junto a outros agentes, em uniforme.

As suspeitas foram confirmadas durante as manifestações do Primeiro de Maio, quando o jovem polícia foi visto a conversar num restaurante com várias pessoas vestidas de fato.

Então, elementos do partido decidiram confrontá-lo e, segundo revela Granato na entrevista, o agente nem sequer se tentou explicar ou negar as acusações. «Desejou-nos simplesmente um bom dia e afastou-se.»

Uma ameaça mais abrangente

«Esta história não é apenas sobre nós, mas sobre a ideia de "democracia" que o aparelho de Estado e o governo de Meloni têm em mente: um modelo de sociedade cada vez mais reaccionário e autoritário», escreveu Granato no seu perfil de Twitter (X), também no contexto da aprovação recente, em Itália, do Decreto de Segurança, descrito como uma «verdadeira ofensiva liberticida».

No passado dia 24, o Potere al Popolo organizou assembleias em Nápoles e Roma com vista à criação de um movimento que seja capaz de se opor com firmeza aos planos belicistas e de rearmamento na Europa, com a participação de vários partidos de esquerda e progressistas europeus.

Ali, refere o Peoples Dispatch, vários oradores alertaram para o ambiente cada vez mais repressivo em relação a forças de esquerda e movimentos sociais, alimentado pela direita e alguns governos.

Neste sentido, defenderam que a resposta à agenda belicista e à criminalização do protesto na Europa passa pelo reforço da solidariedade e da mobilização de massas.

Preocupação quanto às «liberdades constitucionais de organização política e sindical»

A Unione Sindacale di Base (USB) foi uma das vozes que se puseram ao lado do Potere al Popolo e lhe declararam a plena solidariedade.

«É inaceitável que uma associação democrática, transparente e com participação pública seja espiada por um infiltrado pertencente a uma força policial da República Italiana», declarou a organização sindical em nota.

A propósito desta notícia, o sindicato mostra-se preocupado e fortemente alarmado no que respeita à «protecção das liberdades constitucionais de organização política e sindical».

«Este vício, o de espiar e provocar aqueles que lutam abertamente entre a população e os trabalhadores para mudar legítima e democraticamente o modelo político e social através do conflito, revela a verdadeira face do governo de Meloni», denuncia.

Tópico

Contribui para uma boa ideia

Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz.

O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.

Contribui aqui