A cidade portuária de Hudaydah, principal porta de entrada de bens e ajuda humanitária no Iémen, pode estar apenas «a um ataque aéreo de uma epidemia imparável», alertou a representante das Nações Unidas num comunicado emitido este domingo.
«Ao longo de semanas, temos estado a fazer tudo o que é possível para ajudar centenas de milhares de pessoas a residir em Hudaydah ou nas suas imediações», mas «estes ataques estão a pôr civis inocentes em risco extremo», afirmou Lise Grande.
Apoiadas pela aviação saudita, forças militares dos Emirados Árabes Unidos e milícias leais a Abd Rabbuh Mansur Hadi, ex-presidente do Iémen, apoiado por Riade, lançaram uma ofensiva contra Hudaydah no passado dia 13 de Junho – prometendo, face aos alertas internacionais que apontavam para o agravamento da crise humanitária no país, ser céleres na expulsão das forças do movimento popular iemenita Ansarullah. Depararam-se, no entanto, com uma forte resistência dos combatentes Hutis e seus aliados.
Na semana passada, a aviação saudita intensificou os bombardeamentos sobre a cidade, alegadamente como retaliação pelo facto de os Hutis terem atingido dois petroleiros sauditas – o que levou a Arábia Saudita a suspender o tráfego marítimo de petróleo pelo Estreiro de Bab el-Mandeb.
A coordenadora humanitária das Nações Unidas revela que, nos dias 26, 27 e 28 de Julho, se verificaram ataques aéreos nas imediações de um centro de saúde reprodutiva e de um laboratório público em Hudaydah, que destruíram uma infra-estrutura de saneamento e uma estação de água no bairro de Zabid. Esta é responsável pela maior parte do abastecimento de água à cidade.
Lisa Grande alertou que a «cólera já está presente em diversos bairros da cidade e na província», sublinhando que os danos causados às infra-estruturas de saneamento, água e saúde «minam todos os esforços» das Nações Unidas na região.
Desde Março de 2015
A guerra de agressão ao Iémen, liderada pelos sauditas e com forte apoio das potências ocidentais – em particular dos EUA e do Reino Unido –, teve início em Março de 2015.
Sem ter conseguido atingir as metas que declarou querer alcançar – esmagar a resistência do movimento popular Ansarullah e recolocar no poder o antigo presidente Abd Rabbuh Mansur Hadi, aliado de Riade –, a intensa campanha militar provocou milhares de mortos e feridos entre a população civil, foi responsável pela destruição de uma parte substancial das infra-estruturas do mais pobre dos países árabes e está na origem de uma situação humanitária que as Nações Unidas classificaram como «catastrófica».