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Simone Christostome (Hendaia, 1923) viu-se desde cedo envolvida pelo ambiente de resistência antifascista, uma vez que o seu pai, funcionário da alfândega e militante do Partido Comunista, ajudava a passar a fronteira quem chegava a Irun (País Basco sob administração espanhola) fugindo do levantamento franquista, segundo refere, no Twitter, o historiador Etxahun Galparsoro.

A mesma fonte informa que, em 1941, os alemães deportaram a sua família para Angers, onde Simone lutou integrada na Resistência. Foi presa em Abril de 1943, com 19 anos, tendo sido levada para o Forte de Romainville e, depois, enviada para o campo de concentração – só para mulheres – de Ravensbrück, no Norte da Alemanha, onde a esperança de vida não passava dos oito meses, segundo o diário Gara.

Simone relatou que «a viagem de comboio durou quatro longos dias», que «passaram fechadas em vagões para transporte de gado». À chegada, ela e as cerca de 150 companheiras de viagem receberam as «boas-vindas» de um grupo de mulheres das SS, que «lhes bateram e as ameaçaram com os seus cães».

«Depois de lhes cortarem o cabelo, passaram pelo duche e deram-lhes os vestidos às listas. Simone foi enviada para o kommando de Neubrandenburg, localizado a 50 quilómetros do campo central», lê-se no portal deportados.es. Ali, passou a ser conhecida como Monette.

Trinta quilos

Simone era a presa n.º 22352 e, apesar do trabalho duro e dos maus-tratos constantes, conseguiu sobreviver. Quase no fim da guerra, com o avanço do Exército Vermelho, as cerca de 5000 prisioneiras foram enviadas para uma «marcha da morte» com destino ao campo de Bergen Belsen – tinham de fazer 47 quilómetros a pé e, para muitas, isso significava a morte. Simone estava consciente disso: pesava 30 quilos.

No entanto, conseguiu fugir e esconder-se num palheiro com outra companheira basca, de Baiona. Foram libertadas pelos soldados soviéticos na noite de 30 de Abril para 1 de Maio de 1945.

Regressou a Hendaia (País Basco sob administração francesa) a 2 de Junho desse ano. Foi enfermeira e casou-se com um catalão de Tarragona, Lluís Vilalta, que também conseguiu sobreviver a um campo de extermínio nazi, o de Mauthausen.

Foi com o apelido Vilalta que se tornou conhecida como divulgadora incansável do horror nazi nos meios de comunicação ou nas escolas. Conseguiu guardar o uniforme de prisioneira do campo, com o triângulo vermelho, que a marcava como presa política.

Em 2019, recebeu da sua cidade natal a medalha que lhe reconhecia o heroísmo, tendo-se mostrado decidida a perdoar, mas a nunca esquecer: «Não há lugar para o ódio, o racismo, a xenofobia. Temos de agir pela paz, a liberdade e a fraternidade. Não se pode instalar o esquecimento. Sejam vigilantes. Aquilo nunca mais!», disse.