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No Peru, exige-se o julgamento dos responsáveis pelos massacres

Familiares de vítimas da repressão no país sul-americano realizaram, este sábado, um encontro nacional em Juliaca, tendo denunciado a impunidade prevalecente e exigido a demissão de Dina Boluarte.

CréditosWilson Castillo / @WaykaPeru

Participantes no Primeiro Encontro Nacional Cidadão de Vítimas do Regime de Dina Boluarte, realizado este sábado na cidade de Juliaca (departamento de Puno), decidiram continuar a reclamar que sejam julgados os responsáveis pelos massacres cometidos no Peru durante as mobilizações para reivindicar a demissão de Boluarte, eleições gerais antecipadas e o encerramento do Congresso.

Familiares das vítimas da repressão e delegados provenientes dos departamentos de Apurímac, Cusco, Ayacucho e Puno criticaram a impunidade que impera em torno das mortes dos manifestantes e exigiram renúncia da presidente de facto, refere a TeleSur.

Na mesma ocasião, sublinharam que, enquanto dezenas de pessoas continuam na cadeia por participarem em mobilizações, até agora não foram julgados quaisquer responsáveis directos ou autores políticos dos assassinatos dos manifestantes.

Entre as várias decisões tomadas no encontro nacional, conta-se o anúncio da realização de uma marcha até à capital, Lima, para reclamar maior celeridade nas investigações sobre factos da repressão policial e militar, que provocou a morte a mais de 60 manifestantes.

Familiares de vítimas no encontro celebrado em Juliaca // Wilson Castillo / @WaykaPeru

Segundo refere a TeleSur, os participantes expressaram ainda o repúdio pelas «manobras do governo e da imprensa dominante para silenciar o encontro», bem como para impedir que nele participassem organizações de defesa dos direitos humanos.

Ainda no sábado, realizou-se uma mobilização na Praça de Armas de Juliaca, para evocar as 19 vítimas mortais da repressão nessa cidade, a 15 de Janeiro último, assim como os manifestantes que foram mortos, a 10 de Dezembro de 2022, em Ayacucho.

As manifestações no Peru contra o governo de facto mantêm-se desde 7 de Dezembro último, quando o então presidente, Pedro Castillo, foi destituído e preso, e Dina Boluarte foi empossada.

Milhares de pessoas vieram para as ruas, exigindo a demissão de Dina Boluarte, o encerramento do Congresso, a criação de uma Assembleia Constituinte e uma nova Constituição.

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Jornada de protesto marcada por intensa repressão policial em Lima

Repressão foi a resposta do governo de facto aos milhares que, esta quinta-feira, reafirmaram a exigência de demissão de Boluarte. No dia 18, a embaixadora dos EUA reuniu-se com o ministro da Energia e Minas.

Créditos / @menoscanas

No âmbito da paralisação nacional iniciada a 4 de Janeiro, os «provincianos» que têm andado a denunciar o golpe, a exigir a demissão de Dina Boluarte, o encerramento do Congresso, eleições antecipadas e uma Assembleia Constituinte vieram de regiões como Apurímac, Cusco, Huancavelica, Arequipa, Puno, Ayacucho, entre outras.

Os convocantes chamaram-lhe «Marcha de los Cuatro Suyos» até Lima, num contexto em que também a Confederação Geral dos Trabalhadores do Peru (CGTP) e a Assembleia Nacional dos Povos (ANP) convocaram para esta quinta-feira uma jornada de greve e mobilização nacional.

Diversos grupos de manifestantes vindos de fora e os residentes na capital desfilaram de forma pacífica com bandeiras nacionais e indígenas, bem como com cartazes e faixas a patentear as suas exigências. [Vídeo: na Praça 2 de Maio]

A certa altura, refere a TeleSur, elementos da Polícia, que apareceram na manifestação em carros blindados, começaram a lançar bombas de gás lacrimogéneo, sem que se registasse violência ou distúrbios.

Outro facto apontado pela fonte é que o enorme dispositivo policial formava barreiras para impedir a passagem dos manifestantes, dividindo-os.

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Protestos generalizados contra o governo golpista no Peru

O nono dia consecutivo de greves e mobilizações ficou marcado por uma grande manifestação em Lima, detenções de dirigentes sociais em Ayacucho e a demissão do ministro do Trabalho do governo de facto.

Manifestação em Lima, a 12 de Janeiro de 2023 
CréditosJuan Zapata / @WaykaPeru

O número de vítimas mortais nos protestos subsequentes à destituição de Pedro Castillo, a 7 de Dezembro último, subiu para 48, depois de as autoridades de medicina legal terem confirmado a morte de um adolescente – atingido com uma bala na cabeça – no departamento de Puno, ontem à tarde.

Também confirmaram que todas as vítimas do massacre de Juliaca, perpetrado dia 9 naquele departamento andino, faleceram com impactos de bala.

Na véspera, um outro jovem faleceu nos protestos contra o governo de Boluarte, na cidade de Cusco, onde a Polícia reprimiu de forma violenta as manifestações que ali tiveram lugar. Há ainda registo de pelo menos 56 feridos e de mais de uma dezena de detenções.

Ontem, houve manifestações, em ambiente de grande tensão, em vários pontos da região sul-andina, nomeadamente nos departamentos de Puno, Cusco, Moquegua, Madre de Dios, Arequipa, Apurímac, Tacna e Ayacucho.

Protestos em Cusco // Wilson Chillo / @WaykaPeru

Houve ainda cortes de estradas em múltiplas províncias do país sul-americano. Até ao meio-dia, a Superintendência de Transporte Terrestre de Pessoas, Carga e Mercadorias (Sutran) registou 78 bloqueios em dez regiões.

Em Ayacucho, foram detidos três dirigentes sociais, um dos quais dirigente da Frente de Defesa do Povo de Ayacucho, alertou a Coordenadora Nacional de Direitos Humanos, informando que tinham acabado de participar num acto cultural na Casa do Professor.

No passado dia 4 de Janeiro, teve início no Peru uma greve por tempo indeterminado, no âmbito da qual organizações sociais e sindicais exigem a demissão de Boluarte, o encerramento do Congresso, eleições antecipadas já em 2023, uma Assembleia Constituinte, uma nova Constituição, e a libertação do ex-presidente Pedro Castillo, que se encontra detido.

Esta greve dá sequência aos protestos iniciados logo que o Congresso destituiu Castillo, a 7 de Dezembro, e empossou a até então vice-presidente, Dina Boluarte, como nova presidente da República – a que os manifestantes chamam «traidora» e, mais recentemente, «assassina».

Grande manifestação em Lima

Na capital do país, milhares de trabalhadores [vídeo] responderam ao apelo da Confederação Geral dos Trabalhadores do Peru (CGTP) e manifestaram-se pelo centro da cidade gritando palavras de ordem contra Boluarte.

Protestos em Cusco // Wilson Chillo / @WaykaPeru

Num comunicado emitido ontem, anterior à manifestação, a CGTP não atribui qualquer crédito ao voto de confiança que o Congresso, «cúmplice dos actos criminosos do regime», deu ao «gabinete ministerial da ditadura cívico-militar-empresarial de Dina Boluarte».

Reafirmando que vai continuar a lutar pelos direitos dos trabalhadores, a central sindical diz que «persistirá na luta democrática, juntamente com os trabalhadores e as organizações sociais de todo o país, pela demissão de Dina Boluarte, eleições antecipadas imediatas e um referendo por uma nova Constituição».

Centenas de polícias, refere a TeleSur, acompanharam a mobilização, formando muralhas humanas em torno dos manifestantes, mas os episódios de repressão, ao contrário de outras ocasiões, foram esporádicos.

Neste contexto, a Federação Sindical Mundial fez um apelo à solidariedade com o povo e os trabalhadores do Peru, lembrando o papel assumido pela direita no país sul-americano, a grande mobilização popular em defesa da democracia e condenando «a criminosa política neoliberal» pela «forte repressão e violência».

Primeiro-ministro defende a «mão-de-ferro»

Confrontado com protestos que teimam em não parar, o primeiro-ministro, Alberto Otárola, afirmou que a presidente do governo de facto – que tem o apoio da Embaixada dos EUA em Lima – não se vai demitir, e defendeu a forma de actuar da Polícia e das Forças Armadas nas manifestações, dizendo que as mortes são da responsabilidade de quem atacou o Estado.

Manifestantes, com bandeiras de luto, em Tacna // Abelardo Chura / @WaykaPeru

Quem deixou de alinhar com esta versão foi o ministro do Trabalho, Eduardo García, ao assumir a impopularidade do Congresso, que as eleições não podem ser só em 2024 e que as mortes dos «irmãos» na região sul-andina são uma «tragédia», indica a Prensa Latina. É o terceiro ministro a abandonar o executivo golpista.

Entretanto, um grupo de juristas revelou que está juntar provas para fundamentar uma queixa contra a presidente Boluarte, que apontam como principal responsável pelo «assassinato» de quase meia centena de manifestantes desde o início dos protestos.

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Com a passagem do dia, alguns grupos conseguiram juntar-se, formando uma enorme multidão a que também se uniu a marcha do movimento sindical, convocada pela CGTP e as organizações que integram a ANP – que classificaram como «contundente» a adesão à paralisação nacional esta quinta-feira.

Entretanto, encurralados pelas barreiras policiais e pelo gás lacrimogéneo, alguns grupos atiraram pedras à Polícia, e o centro de Lima tornou-se o cenário de uma «batalha campal», refere a Prensa Latina.

No resto do país, ontem multiplicaram-se as mobilizações de protesto e as greves, e o número de bloqueios nas estradas chegou a 127, em 44 províncias.

Entretanto, os responsáveis da Saúde do governo regional de Arequipa confirmaram que, esta quinta-feira, uma pessoa foi morta a tiro, quando um grupo de manifestantes tentava tomar de assalto o aeroporto local.

O número de pessoas mortas pelas forças de segurança desde o início dos protestos no Peru, a 7 de Dezembro de 2022, sobe para 44, de acordo com os dados da Provedoria de Justiça.

A estes, juntam-se outros nove em acções ou incidentes ligados aos protestos, pelo que se registam pelo menos 53 mortes durante as manifestações contra o Congresso e a presidente da República, Dina Boluarte, que assumiu o cargo quando o Parlamento destituiu Pedro Castillo.

Boluarte volta a acusar os manifestantes

Respondendo na TV à grande mobilização, que quebrou pela força, a presidente de facto do Peru reafirmou que não se vai demitir, disse que o seu governo está unido e voltou a catalogar as manifestações como acções de vandalismo e de delinquência, responsáveis pela agitação social no país sul-americano.

Embaixadora norte-americana no Peru, Lisa Kenna, e ministro da Energia e Minas, em Lima, a 18 de Janeiro de 2023 / @MinemPeru

Disse ainda que é preciso diálogo e, em simultâneo, ameaçou os manifestantes com «todo o peso da Lei» em todo o país.

Os apoios e os interesses norte-americanos

Do que Boluarte não falou foi do forte apoio que a embaixadora norte-americana no país, a ex-CIA Lisa Kenna, deu ao golpe e ao governo golpista.

O jornalista Ben Norton, no portal geopoliticaleconomy.com, lembra que o Peru tem largas reservas de cobre, ouro, zinco, prata, chumbo, ferro e gás natural, e que Kenna se tem reunido regularmente com figuras de proa do governo de facto peruano.

No passado dia 18, teve uma reunião com o ministro da Energia e Minas, tendo discutido oportunidades de «investimento» e planos para «desenvolver» e «expandir» as indústrias extractivas.

Além dos EUA, recorda o jornalista norte-americano, a Europa também tem muito interesse nos recursos peruanos, estando a importar, nomeadamente, gás natural liquefeito para substituir o gás russo, no contexto do boicote imposto pela UE à importação de energia russa por causa da guerra entre a NATO e a Rússia na Ucrânia.

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Denunciando a existência de um golpe, as manifestações voltaram a ganhar intensidade no início de Janeiro, tendo como epicentro as regiões sul-andinas do país.

Seguiu-se aquilo a que os manifestantes chamaram a «tomada de Lima», a 19 de Janeiro, e um período de grandes manifestações na capital – que foram fortemente reprimidas.

Os protestos contra o golpe ainda continuam no Peru – embora com menor intensidade. Também se mantém em actualização o registo de vítimas mortais da repressão. Esta sexta-feira, faleceu Manuel Quilla Ticona, de 36 anos, que tinha sido hospitalizado depois de participar em mobilizações em Lima.

Os seus familiares afirmam que foi detido pela Polícia e torturado, e exigem justiça. Foi enterrado este domingo na província de Huancané (região de Puno), de onde era natural.

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