|Índia

Muitos milhares de estudantes em Déli contra a política educativa de Modi

Denunciando a mercantilização do sector, os estudantes protestaram contra a Nova Política da Educação, «implementada pelo governo sem consultar as partes» e «empurrando para o abismo camadas já marginalizadas».

Milhares de estudantes manifestaram-se em Déli contra o aumento das propinas e em defesa da educação pública, a 12 de janeiro de 2024 
Créditos / @MayukhDuke

Milhares de estudantes, também dos pontos mais remotos da Índia, uniram-se esta sexta-feira na capital, Déli, para denunciar os «estragos» provocados nas instituições do sector pela Nova Política da Educação (NEP, na sigla em inglês).

A marcha, há muito anunciada, foi promovida pela plataforma Estudantes Unidos da Índia, que reúne 16 organizações estudantis ligadas aos principais partidos da oposição, refere o Newsclick.

Fazendo ouvir palavras de ordem contra as reformas de orientação neoliberal e a favor da unidade do movimento estudantil, os participantes na marcha afirmaram que a NEP não só foi implementada sem qualquer consulta às partes interessadas, como levou sectores já marginalizados para o abismo.

Estudantes recebem chamadas da Polícia e são questionados

Raman Dharamuwala, que veio da Universidade Punjabi, em Patiala, disse que os estudantes receberem chamadas constantes da parte de agências de inteligência sobre o número e os objectivos dos estudantes. «É desconcertante que tenhamos recebido chamadas não apenas da Polícia de Déli, mas também da Polícia do Punjabe, que parece estar a seguir de perto a nossa campanha e movimentos», afirmou o estudante.

@cpimspeak

Numa declaração conjunta, as organizações de estudantes afirmaram: «O governo do BJP [Bharatiya Janata Party] usou a sua máquina para impedir a marcha estudantil conjunta. Estudantes de várias partes do país foram interrogados pela Polícia antes de partirem dos seus respectivos estados, e o BJP utilizou diferentes administrações universitárias para impedir os estudantes de se juntarem à marcha e tentou dissuadi-los.»

Denunciando que a Polícia de Déli tentou desautorizar e impedir a realização da mobilização, as organizações sublinham que, apesar disso, «milhares de estudantes se manifestaram contra a NEP e o BJP», e disseram «não» às políticas do governo central, liderado por Narendra Modi.

Em declarações à imprensa, Dharamuwala acrescentou que os estudantes se mobilizaram para expressar a sua «angústia pela apatia» na educação pública. «As nossas escolas e faculdades enfrentam uma crise aguda de professores. No entanto, ninguém parece estar interessado em resolver a questão», disse.

Aumentam as propinas, vão aumentar as desigualdades

Por seu lado, Ravi Bawane, estudante da Universidade de Nagpur, disse ao Newsclick que os estudantes estavam «furiosos» com os aumentos incessantes das propinas e com o seu impacto negativo. Bawane disse que a administração da universidade, apesar da oposição dos corpos estudantis, aprovou um aumento de 27% na taxa de admissão e outras.

@MayukhDuke

«Em casas normais, a educação de uma rapariga é sempre preterida em relação à de um rapaz. As raparigas podiam falar com os pais e convencê-los a mandá-las para as escolas e faculdades porque as propinas continuavam acessíveis. Com os aumentos, as raparigas são novamente expulsas da educação e ficam atrás do véu da família», disse, preocupado com o aprofundamento das desigualdades e discriminações.

Acrescentou que grande parte do ensino superior depende do sector privado e que as bolsas de estudo nestas faculdades simplesmente não estão disponíveis. «Exigimos que o governo abra mais escolas e faculdades», reclamou.

Um «não» claro à mercantilização e à divisão sectária

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Impostos aos multimilionários e dinheiro para escolas, defendem estudantes indianos

A Federação dos Estudantes da Índia (SFI) aprovou várias resoluções sobre o actual estado da Educação, alertando para a falta de investimento, o encerramento de instituições e o aumento da desigualdade.

A Federação dos Estudantes da Índia denuncia o desinvestimento do governo central na Educação 
Créditos / deccanchronicle.com

Num comunicado a que o Newsclick teve acesso, a SFI (na sigla em inglês) sublinha que o conceito de acesso equitativo à Educação se desmoronou com a Covid-19, período em que várias instituições educativas foram encerradas e ocorreu uma viragem repentina para o ensino à distância.

«O governo de Modi aproveitou a pandemia para aprovar a Nova Política Nacional de Educação, que abre o caminho para a centralização, a mercantilização e a divisão sectária [communalisation] da Educação», denuncia a Federação dos Estudantes da Índia, frisando que o executivo procedeu também a uma redução drástica nos orçamentos destinados ao sector.

A organização estudantil de esquerda acusa o governo de Modi de ter «destruído» as bolsas de estudo e os albergues para estudantes de minorias e de «castas reconhecidas», sublinhando que isso foi um factor determinante para o aumento do número de suicídios entre os estudantes de comunidades marginalizadas em institutos de tecnologia, gestão e outras instituições de ensino centrais.

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«Mantenham-se unidos na luta», disse Aleida Guevara em Calcutá

«Estejam sempre com o povo, independentemente das alturas a que possam chegar. Mantenham-se sempre em contacto com as massas», disse Guevara num encontro com estudantes na Índia.

Aleida Guevara num acto público em Calcutá 
Créditos / Newsclick

Aleida Guevara, filha do comunista e revolucionário cubano Ernesto Che Guevara, foi recebida, este sábado, por uma multidão, na sua maioria estudantes, na capital do estado indiano de Bengala Ocidental.

Os jovens juntaram-se na College Street, uma rua no centro de Calcutá, mostrando T-shirts e bonés com a imagem do comandante guerrilheiro argentino-cubano, refere o portal Newsclick.

«O calor e o entusiasmo do povo desta cidade continuam os mesmos com o passar dos anos», disse Guevara, que se emocionou ao discursar numa cidade a que regressou 24 anos depois e onde ainda deu uns pés de dança ao som da «Guantanamera».

A dirigente cubana, que realizou uma visita de dois dias a Calcutá no âmbito de um périplo mais vasto pela Índia, foi saudada por um coro de cem artistas, liderado pelo compositor Kalyan Sen Barat, que interpretou traduções para bengali de canções cubanas como «Guantanamera» e «Hasta siempre, comandante», composta pelo cubano Carlos Puebla.

Estudante em Calcutá com uma T-shirt figurando Che Guevara e segurando um cartaz a dar as boas-vindas, em inglês, a Aleida Guevara / prokerala.com

No dia anterior, sexta-feira, o sindicato de estudantes da Faculdade de Letras, liderado pela Federação dos Estudantes da Índia (SFI, na sigla em inglês), promoveu a realização, na Universidade de Jadavpur, de uma cerimónia de felicitações a Guevara e à sua filha, a economista Estefanía Guevara.

Ao intervir na cerimónia, Guevara aconselhou os estudantes a manter bem alta a bandeira da luta dos trabalhadores: «Estudem mais e lutem mais. Sejam bons profissionais nas vossas áreas. Nunca retrocedam. Estejam sempre com o povo, independentemente das alturas a que possam chegar. Mantenham-se sempre em contacto com as massas. Devem estar unidos na luta dos trabalhadores. Essa foi uma lição do Comandante Che Guevara.»

Aleida falava em castelhano e um dos estudantes da SFI ia traduzindo para bengali, enquanto tocava, em fundo, o «Hasta la victoria siempre».

Os estudantes responderam com palavras de ordem como «Inquilab Zindabad» – originalmente em urdu e que se pode traduzir como «Viva a Revolução» – e «El pueblo unido jamas será vencido».

Avanços da saúde em Cuba e desejo de cooperação com a Índia

Num encontro com médicos num hospital de Calcutá, no sábado, Guevara, que é médica, disse que Cuba proporciona os melhores serviços de saúde ao seu povo, incluindo a cirurgia e o tratamento do cancro, e que a Ilha deseja trabalhar com os médicos indianos para ajudar quem precisa no subcontinente.

«Apesar dos diversos obstáculos económicos, Cuba continua a proporcionar os serviços de saúde de melhor qualidade do mundo com igualdade de direitos a todos os sectores do povo e está à frente na descoberta de curas para diversas doenças, incluindo o cancro», disse.

«Os médicos e trabalhadores da Saúde cubanos trabalham em vários países e vão continuar a fazê-lo no futuro em solidariedade com os trabalhadores do mundo», sublinhou Guevara.

Aleida Guevara participa num acto organizado, em Chennai (Tamil Nadu), pelo PCI(M) e o Comité Nacional de Solidariedade com Cuba, a 18 de Janeiro de 2023 / india.postsen.com

A médica e dirigente cubana encontra-se na Índia há cerca de duas semanas. No estado de Tamil Nadu, Aleida Guevara e a filha foram calorosamente recebidas em Chennai, na passada terça-feira, pela população e pelos quadros locais do Partido Comunista da Índia (Marxista).

No dia seguinte, ambas participaram num encontro solidário com Cuba, no âmbito do qual foram denunciadas as extremas dificuldades que a Ilha enfrenta devido à imposição do bloqueio por Washington, refere The Indian Express.

Antes, a filha do Che esteve no estado vizinho de Kerala, onde participou na 13.ª Conferência Nacional das Associação das Mulheres Democratas de Toda a Índia (AIDWA, na sigla em inglês), em representação da Federação das Mulheres Cubanas.

Também no estado de Kerala, recebeu o prémio internacional KR Gouri Amma, que tem o nome da dirigente comunista Kalathil Parambil Raman Gouri, uma das mulheres mais destacadas do movimento de esquerda na Índia.

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O próprio governo central admitiu, no Parlamento, que pelo menos 112 estudantes se suicidaram em instituições de ensino entre 2014 e 2021, destaca a organização estudantil, que acusa o executivo de Modi de «não ter tomado qualquer medida para resolver o problema».

Exemplo disso é o caso recente de três estudantes que tiraram a vida a si mesmos numa só semana, nos institutos de tecnologia de Mumbai, Kozhikode (Kerala) e Chennai (Tamil Nadu).

Construir uma política educacional alternativa

Tendo em conta este cenário, a SFI anunciou vários programas de acção «para lutar contra um governo tão anti-estudantil», que devem constituir um projecto alternativo de política educacional.

Toda a gente é convidada a enviar contributos para o documento que começa agora a ser debatido, informou a SFI, que aceita ideias e sugestões para uma política alternativa no sector da Educação até 31 de Março.

Para levar o projecto a bom porto, a Federação dos Estudantes da Índia defende a «acção conjunta», que passa pela realização de reuniões de plataformas unitárias de organizações estudantis afins em todos os estados do país subcontinental.

Profunda desigualdade e necessidade de agir

A declaração da SFI faz referência ao relatório anual de 2022 da Oxfam India sobre desigualdade, no qual se afirma que o imposto de 1% aplicado à riqueza dos 98 multimilionários da Índia daria para financiar a despesa anual total do Departamento de Educação Escolar e Alfabetização do Ministério da Educação.

Mayukh Biswas, secretário-geral da SFI, entrega em Déli um rascunho da política alternativa para a Educação a Sitaram Yechury, secretário-geral do Partido Comunista da Índia - Marxista / SFI

A riqueza dos multimilionários indianos mais do que duplicou durante os anos da Covid-19, pelo que a organização estudantil defende a tributação dos ganhos dos ricos com o capital, «para reduzir a desigualdade e, ao mesmo tempo, manter a prosperidade geral».

As receitas dos impostos devem ser investidas em infra-estruturas públicas, nomeadamente escolas, universidades e investigação, afirma a SFI, que advoga a criação de uma campanha com o lema «Tributar as Empresas – Libertar a Educação».

A organização estudantil anunciou ainda a participação em manifestações, por todo o país, em honra dos heróis da luta anti-colonial Bhagat Singh, Rajguru e Sukhdev – enforcados a 23 de Março de 1931 pelas autoridades inglesas, em Lahore (actual Paquistão).

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Em declarações ao Newsclick, Mayukh Biswas, secretário-geral da Federação dos Estudantes da Índia (SFI, na sigla em inglês; ligada ao PCI(M)), disse que o governo parece ter lançado um ataque aos estudantes nas escolas e faculdades.

«Vimos que quase 60 mil escolas foram fechadas por vários governos. No entanto, o número de escolas privadas aumentou significativamente. Da mesma forma, há uma enorme pressão sobre os estudantes do ensino superior, onde os aumentos das propinas continuam desenfreados e o número de vagas já foi reduzido», alertou, lembrando que 24 estudantes se suicidaram o ano passado e que «a NEP irá agravar ainda mais a situação».

Em sentido positivo, valorizou o facto de, pela primeira vez, 16 organizações estudantis, pondo de parte diferenças ideológicas, se terem unido para dizer «não» à orientação deste governo para a mercantilização e a divisão sectária na educação – algo patente, por exemplo, no fim de bolsas nacionais para estudantes de minorias.

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