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Lutando contra a impunidade, familiares de desaparecidos no Uruguai não desistem

Com o 20 de Maio e a Marcha do Silêncio à porta, Elena Zaffaroni, das Mães e Familiares de Uruguaios Presos Desaparecidos, alertou para a falta de resposta do Estado e a «cultura institucional de impunidade».

Elena Zaffaroni, ex-presa política e dirigente da associação Mães e Familiares de Uruguaios Presos Desaparecidos 
Elena Zaffaroni, ex-presa política e dirigente da associação Mães e Familiares de Uruguaios Presos Desaparecidos CréditosMeri Parrado / Caras y Caretas

Zaffaroni, hoje com 73 anos, foi presa na madrugada de 13 de Dezembro de 1974, estando grávida de quatro meses, juntamente com o seu companheiro, Luis Eduardo Chiqui González, militante do Partido Comunista Revolucionário que viu pela última vez a 24 de Dezembro daquele ano.

O seu período de cativeiro acabaria em 1976 mas a sua luta prolongou-se no tempo, contra a impunidade e pelo direito dos familiares e da sociedade uruguaia a saberem o destino dos presos desparecidos.

Em entrevista à revista Caras y Caretas, falou do alcance que a Marcha do Silêncio hoje tem, do «abraço» que os membros da associação Mães e Familiares sentem de muita gente de várias gerações, que fizeram sua a causa de insistir na busca dos desaparecidos da ditadura (1973-1985) e na procura da verdade e da justiça, face a um Estado que, nos 37 anos de democracia, não «assumiu as suas responsabilidades».

No princípio, nos anos 80, «as mães procuravam os seus filhos, as esposas os seus companheiros, os seus irmãos e era, como início, o desespero pelas suas vidas», disse. Depois, veio um «manto de silêncio» e a nível legislativo procurou-se «encerrar o assunto», «fazer com que não houvesse uma condenação».

Então, frisou, ficou apenas um grupo de três ou quatro mães a reunir-se porque cada um foi à sua vida. Por isso, considera «espectacular» a adesão paulatina das pessoas, sublinhando que «o coração desta luta é a entrega dos desaparecidos, a procura dos arquivos que contêm a informação, em vez dos papéis provenientes do Ministério da Defesa, que não ajudam muito».

Elena Zaffaroni enfatizou a importância do acesso aos arquivos existentes, porque aquilo a que a associação pôde aceder confirma que existiu uma «operação institucional, que os desaparecimentos se deram no quadro do terrorismo de Estado, em detenções massivas da população mas também selectivas», sem que se saiba por que os altos comandos seleccionaram aqueles.

 Questionada pela Caras y Caretas sobre a existência de «documentos ocultos» sobre as vítimas, a ex-presa política manifestou essa convicção e lembrou a metodologia dos aparelhos da repressão da ditadura, que tudo anotava, bem como o facto de determinados arquivos terem «dado à costa» nos últimos anos.

Zaffaroni afirmou que nenhum dos presidentes da democracia lhes conseguiu estes arquivos. «Deixou de ser um assunto dos familiares apenas e entende-se que é um tema do presente, da qualidade da democracia, que diz respeito e nos condiciona a todos», disse.

Sobre algumas condenações existentes, disse que há «sentenças interessantes», mas que «a Justiça tem de ser sobre toda a operação, porque não foram actos individuais, embora existam perpetradores individuais».

«A detenção, a tortura, o desaparecimento foram uma política de um Estado ditatorial comandada por instituições repressoras onde continuaram os mesmos exactamente como até agora», afirmou, referindo-se sobretudo ao Exército, de onde provém o senador Manini, do Cabildo Abierto (extrema-direita).

Sobre a actuação deste partido «da apologia do golpe de Estado», sentado no Parlamento, a questionar os crimes contra a humanidade e a pôr em causa uma série avanços alcançados em termos de direitos humanos, Zaffaroni diz que as culpas são dos governantes que, desde 1985 até à data, confiaram na impunidade, condenaram os uruguaios a essa impunidade, «a de acreditar que se ia mudar ou avançar […] sem verdade e justiça».

A Marcha do Silêncio existe porque são necessárias respostas e para que «a sociedade não naturalize a impunidade». «É preciso mudar isto», defendeu Elena Zaffaroni.

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