Dirigindo-se ao país esta terça-feira, o presidente brasileiro contrariou não só as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) como as experiências adoptadas por outros países face à pandemia de Covid-19, causada pelo coronavirus SARS-Cov-2.
Durante a alocução, o capitão reformado pediu à população brasileira que regresse à normalidade, num contexto em que estavam confirmados cerca de 400 mil casos e 17 mil mortes devido à infecção do novo coronavírus em todo o mundo. Enquanto falava ao país, o Brasil registava 2201 casos confirmados e 46 mortes.
Bolsonaro voltou a falar em «histeria» e gripezinha», tendo ainda criticado os autarcas e governadores de estados brasileiros que decretaram o encerramento de escolas e do comércio, de modo a travar a propagação da pandemia. «Algumas poucas autoridades estaduais e municipais devem abandonar o conceito de terra arrasada, a proibição de transporte, o fechamento de comércio e o confinamento em massa», disse, citado pelo portal Brasil de Fato.
Apesar desta minimização da epidemia por parte do actual presidente brasileiro, um relatório elaborado pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e obtido pelo The Intercept Brasil aponta para a possibilidade de um forte impacto da infecção pelo novo coronavírus no país sul-americano. De acordo com a projecção, o número de mortes pode superar as 5570 em apenas duas semanas, com os casos confirmados a subirem acima dos 200 mil.
É preciso «liderança séria, responsável»
As críticas choveram em resposta ao discurso de Bolsonaro – da parte de governadores, líderes de partidos e dos presidentes do Senado e do Congresso dos Deputados – e, segundo o Brasil de Fato, «o tom de impeachment começa a ganhar força entre diferentes espectros políticos».
O presidente do Senado Federal, Davi Alcolumbre, numa nota co-assinada pelo vice-presidente da instituição, Antonio Anastasia, classificou o discurso de Bolsonaro como «grave» e afirmou que o país precisa «de uma liderança séria, responsável e comprometida com a vida e a saúde da sua população».
«Reafirmamos e insistimos: não é momento de ataque à imprensa e a outros gestores públicos. É momento de união, de serenidade e equilíbrio, de ouvir os técnicos e profissionais da área para que sejam adoptadas as precauções e cautelas necessárias para o controle da situação, antes que seja tarde demais», declaram Alcolumbre e Anastasia.
Por seu lado, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, afirmou nas redes sociais que o «pronunciamento do presidente foi equivocado ao atacar a imprensa, os governadores e especialistas em saúde pública», tendo sublinhado que «o momento exige que o governo federal reconheça o esforço de todos – governadores, prefeitos e profissionais de saúde – e adopte medidas objectivas de apoio emergencial para conter o vírus e aos empresários e empregados prejudicados pelo isolamento social».
O governador do estado do Maranhão (Norte), Flávio Dino, também reagiu, tendo afirmado que o discurso «evidencia que há poucas esperanças de que Bolsonaro possa exercer a Presidência da República com responsabilidade e eficiência».
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