A paralisação de quinta-feira foi convocada pela Confederação dos Trabalhadores da Educação da República Argentina (Ctera), filiada na Central dos Trabalhadores da Argentina (CTA), com o apoio de vários outros sindicatos do sector que integram a Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT).
Com uma «adesão elevadíssima», a greve, que abrangia todos os níveis desde o básico ao superior, foi classificada como «histórica» e uma reposta à altura das políticas de desbaste «brutais» levadas a cabo pelo executivo ultra-liberal de Milei.
Na capital, a jornada de greve por aumentos salariais dignos, maiores dotações orçamentais e a qualidade de vida dos docentes reformados incluiu uma concentração frente ao Congresso, sendo que o governo central se recusou a sentar-se à mesa com os sindicatos a negociar, e passou para as províncias a responsabilidade de resolver um conflito que não deve ficar por aqui.
Em declarações ao diário Página 12, Sonia Alesso, secretária-geral do Ctera, destacou não só a elevada adesão à greve, como o facto de ela ter abrangido trabalhadores docentes e não docentes de todos os níveis de ensino.
Alesso sublinhou a enorme perda de poder de compra sofrida pelos professores em todas as províncias do país, que, referiu, na maior parte dos casos, auferem salários abaixo da linha da pobreza. «Estamos a falar de uma situação grave», alertou, precisando que em cinco províncias o salário é 250 mil pesos (258 euros) e, noutras 11, oscila entre os 250 mil e os 350 mil (362 euros).
O governo de Milei não cumpre as três leis básicas da Educação, denunciou a dirigente sindical, acrescentando que existe «uma grande falta de financiamento» no que respeita aos fundos que, legalmente, devem ser distribuídos pelas províncias.
A Marcha Federal Universitária ultrapassou as expectativas dos organizadores, que apontam para 800 mil manifestantes em Buenos Aires e mais de um milhão em todo o país, em defesa do ensino público. Ruas e praças cheias na Argentina, esta terça-feira, em defesa da universidade e do ensino público. Na Praça de Maio, Carlos de Feo, secretário-geral da Federação Nacional de Docentes Universitários, destacou precisamente os números da oposição às políticas de Milei: 800 mil na capital e mais de um milhão em todo o país. «Estamos orgulhosos da nossa educação pública. Queremos um país com desenvolvimento, soberania e inclusão», disse, citado pelo Página 12, ao intervir no palco montado nas imediações da Casa Rosada. «A universidade argentina soube sempre lutar ao lado do povo e dos seus trabalhadores. Mostrou-o dando a vida de milhares de estudantes, docentes e não docentes durante a noite negra da ditadura», afirmou, sublinhando que «essa universidade hoje está em perigo» e acusando o governo de Milei de querer celebrar um excedente orçamental gerado à base de pobreza, miséria e exclusão. «Estamos decididos a levar esta luta para a frente. Não é a congelar os nossos salários e a reduzir os orçamentos que nos vão assustar», disse, acrescentando que a mobilização de ontem não era apenas pelo direito à universidade, mas também «para que o povo tenha direito a um futuro melhor, de soberania, com emprego, sem fome e sem exclusão». Perante as centenas de milhares de pessoas que se juntaram na Praça de Maio, a presidente da Federação Universitária Argentina, Piera Fernández, defendeu que o ensino público é a base da democracia e do desenvolvimento social. Ao ler um documento elaborado pelas organizações convocantes, Fernández referiu-se aos cortes profundos sofridos pelas universidades argentinas em termos reais e disse que o aumento de 70% das verbas orçamentadas, no mês passado, juntamente com o anúncio de outros 70% constituem um aliciante, «embora insuficiente, na medida em que a inflação foi 300% no mesmo período». Investigadores, académicos, laureados com o Prémio Nobel de dezenas de países uniram-se num «abraço mundial à ciência argentina» e alertaram Milei para as consequências de a destruir. No âmbito das mobilizações que as áreas da ciência e do Ensino Superior estão a realizar, no país austral, contra as políticas levadas a cabo pelo actual governo na matéria, esta quarta-feira, cientistas, bolseiros, membros da comunidade académica e trabalhadores administrativos entregaram ao Conselho Nacional de Investigações Científicas e Técnicas (Conicet) mais de mil cartas de investigadores estrangeiros em apoio à ciência argentina. Com a iniciativa, realizada em Buenos Aires sob o lema «Abraço mundial à ciência argentina» e dinamizada pela Rede de Autoridades de Institutos de Ciência e Tecnologia, pretendeu-se dar visibilidade a uma situação de «asfixia orçamental» sem precedentes no sector. Com o «alerta internacional», refere o Página 12, os trabalhadores das áreas da ciência e das universidades esperam que o executivo de Milei convoque uma mesa de negociação. No âmbito da greve geral convocada pela CGT, uma multidão juntou-se frente ao Congresso argentino, onde os dirigentes sindicais afirmaram que «não vão dar um passo atrás». Buenos Aires, a capital, não foi o único local de mobilização do país austral, já que a greve geral, convocada pela Confederação Geral do Trabalho (CGT), com apoio de dezenas de sindicatos, partidos e movimentos sociais, teve impacto em todas as províncias do país, segundo refere a agência Télam. Frente à multidão que se juntou nas imediações do Congresso, Héctor Daer e Pablo Moyano, dirigentes da CGT, pediram a deputados e senadores que não aprovem o decreto de necessidade e urgência (DNU), que desregula a economia, e o projecto de lei de «Bases», também promovido pelo executivo de Javier Milei, que o replica e amplia. «Vamos continuar a lutar e não vamos dar um passo atrás», afirmaram. Falando para a multidão no acto central da jornada de greve e mobilização, Pablo Moyano, também dirigente do Sindicato dos Camionistas, pediu aos deputados e senadores do país que «não traiam os trabalhadores e a doutrina do peronismo que é defender os laburantes [trabalhadores], os que menos têm e os reformados», afirmou. Alertou ainda que a política do actual governo atenta contra a soberania nacional e criticou a intenção de reestabelecer o imposto sobre os lucros que foi eliminado em 2023 pelo então ministro da Economia, Sergio Massa. «Se são tão bons, aumentem os impostos às grandes fortunas, mas não aos trabalhadores», disse. Vincou, além disso, a sua oposição às privatizações de empresas públicas. «Não se podem privatizar as empresas do Estado como Aerolíneas Argentinas, Télam, Banco Nación, Radio Nacional», afirmou, alertando que «milhares de trabalhadores vão ser postos na rua» e que «as vão entregar aos amigos». Moyano também criticou a reforma laboral que o executivo de Milei pretende levar por diante, tendo afirmado que «a pátria não se vende, defende-se». Por seu lado, o secretário-geral da CGT e dirigente sindical da Federação das Associações de Saúde, Héctor Daer, disse: «Viemos com a Constituição na mão; diz claramente que os direitos são progressivos e não se pode voltar atrás.» «Querem destruir os sindicatos, os direitos individuais e colectivos e a liberdade de acção», acusou, sublinhando: «Continuaremos na luta até que caiam essas medidas.» O dirigente sindical destacou ainda a grande unidade sindical, bem como a presença na mobilização das organizações de base, dos cientistas, da cultura, do desporto, dos inquilinos ou dos reformados. Sublinhou também o grande apoio internacional à jornada de luta no país sul-americano, inclusive com mobilizações no estrangeiro. Segundo revelou, foram mais de 100 as organizações que, pelo mundo fora, expressaram apoio à luta dos trabalhadores argentinos. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Quatro meses depois da tomada de posse do governo «libertário», a situação no sector é «insustentável», afirmam. Sobre a iniciativa de ontem, Valeria Levi, vice-decana da Faculdade de Ciências Exactas e Naturais da Universidade de Buenos Aires (UBA), explicou que foram entregues mais de mil cartas de investigadores e associações científicas internacionais nas quais se solicita a diversas autoridades do país que «não continuem este caminho de destruição da ciência argentina». A mobilização de ontem, igualmente convocada pela Associação de Trabalhadores do Estado (ATE), serviu também para condenar o despedimento de 140 trabalhadores do Conicet ou a redução das bolsas de doutoramento atribuídas. Alertou-se ainda para a grave situação que vários institutos e centros de investigação enfrentam, ao não terem meios para efectuar pagamentos, bem como para o risco de uma nova fuga de cérebros e a paralisação de projectos estratégicos a nível nacional. Sobre as cartas que chegaram de mais de 50 países, Jorge Geffner, imunólogo do Conicet e um dos convocantes da mobilização, disse que «se trata de apoios internacionais de especialistas que simpatizam com as nossas reivindicações». «Tem a ver com dizer "Não aos despedimentos", com a recuperação dos salários, a execução do orçamento da ciência e técnica. Em suma, solidariedade contra o estrangulamento do sector», acrescentou. Entretanto, as universidades argentinas, coordenadas pela Frente Sindical Universitária e o Conselho Inter-universitário Nacional (CIN), agendaram para o próximo dia 23 uma manifestação em defesa do ensino público e de uma actualização orçamental que lhes permita existir. Afirmam que, no caso de não se verificar essa actualização, poderiam ter de fechar portas em Maio, sublinhando que o governo manteve para 2024 o mesmo orçamento de 2023, num contexto de inflação inter-anual superior a 270%. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Além disso, alertou que as obras que o Programa Nacional de Infra-estrutura Universitária possibilitava se encontram paradas, sem que haja certezas ou informação relativamente à sua continuidade. A dirigente estudantil denunciou também que, nos últimos meses, o salário dos trabalhadores do sector perdeu 50% do seu poder de compra. «Uma deterioração salarial que se irmana com os demais sectores do mundo do trabalho», disse, acrescentando: «Isso leva-nos a retomar palavras de ordem de há mais de 20 anos: "Nenhum trabalhador das universidades nacionais abaixo da linha da pobreza!"» Criticando as políticas de cortes promovidas pelo executivo de Milei, Fernández destacou que a educação é um direito humano fundamental e vincou a importância de manter as bolsas de estudo, que estão a ser reduzidas de forma alarmante. «Não queremos que nos arrebatem os nossos sonhos: o nosso futuro não lhes pertence. Somos orgulhosos filhos da universidade argentina, pública, gratuita e sem restrições no ingresso, de excelência, com liberdade e equidade. Por isso, lutaremos, numa resistência democrática e luta pacífica irrenunciável, pela educação que queremos, pelo país com que sonhamos», acrescentou. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
«Lutaremos pela educação que queremos, pela Argentina com que sonhamos»
Defender o direito a um ensino gratuito, de qualidade e federal
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Alerta na Argentina para as consequências de «destruir a ciência»
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Gigantesca manifestação em Buenos Aires contra as políticas de Milei
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Denúncia de despedimentos e alerta para a situação nos institutos
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Sem salários dignos, a universidade pública é inviável
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Por isso, explicou, faltam verbas para os refeitórios ou tudo o que tem a ver com infra-estruturas (reparação, ampliação e construção de escolas), sendo que nalgumas províncias há obras paradas devido aos cortes orçamentais.
Por seu lado, Carlos de Feo, da Federação Nacional de Docentes Universitários (Conadu), disse que esta jornada de luta «está em sintonia com a de 23 de Abril», tendo ainda criticado o governo pela falta de vontade para negociar. Neste sentido, considerou que as perspectivas são de aprofundamento da luta, com mais mobilização nas ruas.
Protesto e revolta em Misiones
A província nortenha de Misiones, entre o Paraguai e o Brasil, vive há mais de uma semana protestos nas ruas e cortes de estradas, protagonizados por milhares de pessoas, que se foram juntando a docentes, trabalhadores da Saúde, polícias reformados e no activo, bombeiros, trabalhadores do sector da Energia, entre outros, em luta pela valorização dos salários.
Na quinta-feira à tarde e à noite, Posadas, a capital da província, foi palco de grandes protestos frente à sede do poder legislativo – em que já não participaram os polícias, ameaçados com sanções e mesmo expulsões –, bem como nas imediações da casa do actual governador da província, Hugo Passalacqua, que, refere o Página 12, não se dignou a mostrar a cara nem a emitir uma nota oficial durante a semana de protestos, pelo menos até ontem à noite.
A mesma fonte revela que, na quinta-feira à noite, se registaram cargas de infantaria contra docentes e demais trabalhadores em luta contra a perda de poder de compra e a miséria, e a quem as principais centrais sindicais do país têm declarado o seu apoio.
Protestos marcados para Córdoba
Tendo em conta que o presidente argentino vai liderar, em Córdoba, as cerimónias do Dia da Pátria (214.º aniversário da Revolução de Maio), a Associação Trabalhadores do Estado (ATE) anunciou mobilizações ali para este sábado.
Rodolfo Aguiar, secretário-geral da ATE, disse à imprensa que o presidente «deve saber que não é bem-vindo em nenhuma província» porque, «com as suas políticas, as está a destruir a todas».
O actual executivo «despede, destrói os nossos salários, fecha os organismos em que trabalhamos e privatiza as empresas públicas. Temos de confrontar este governo», frisou, acrescentando que os protestos de vários sectores por aumentos salariais em Misiones faz antever o que se vai passar no resto do país.
«É um governo maldito que não dá medicamentos aos doentes, nem comida aos pobres», acusou Aguiar.
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