Fidel Castro e Ho Chi Minh, uma amizade sem limites físicos

Ontem, 19 de Maio, passavam 131 anos sobre o nascimento do Tio Ho, dirigente comunista vietnamita que dedicou a vida à Revolução, ao povo, ao progresso e à paz, e que ajudou a libertar o seu país das garras do colonialismo e do imperialismo.

A esse propósito, Alberto Salazar, correspondente da Prensa Latina no país do Sudeste Asiático, lembra a mútua admiração e o profundo respeito que Fidel Castro e Ho Chi Minh nutriam um pelo outro, tanto a nível pessoal como pelos seus dois povos.

É algo que – diz – fica patente nos seus escritos e na sua oratória. Mas também «dirigentes políticos, militares, ministros, embaixadores, tradutores, jornalistas e outros que tiveram oportunidade de falar com eles ou testemunhar expressões de um para com o outro afirmam que os seus pontos de coincidência eram tantos que transcendiam o mero contacto físico».

Fidel visitou o Vietname em três ocasiões. Na primeira delas (de 12 a 17 de Setembro de 1973), o então primeiro-ministro cubano «referiu Ho Chi Minh em todas as aparições públicas». E o mesmo aconteceu nas conversas com os dirigentes vietnamitas, segundo estes revelaram.

Poucas horas depois de chegar a Hanói, Fidel foi aos lugares onde o Tio Ho trabalhou e passou os seus últimos dias, informa Salazar, precisando que um deles, porventura o mais íntimo, foi a pequena casa onde o presidente vietnamita viveu, tendo rejeitado o palácio que, pelo cargo que desempenhava, tinha direito a habitar.

De estilo colonial, o edifício fora a residência privada do governador da Indochina Francesa – que incluía os territórios dos actuais Vietname, Laos, Camboja e um pequeno enclave na China – e, depois da derrota dos franceses em Dien Bien Phu (1954), o Partido e o Estado consideram-no o local adequado para albergar o chefe de Estado.

No entanto, refere Salazar, Ho Chi Minh não se sentia confortável no meio de tanto espaço e, por iniciativa sua, nas imediações do palácio foi construída uma pequena casa de madeira, simples, montada sobre palafitas.

Fidel na casa simples de palafita em Hanói

«Ali, a 13 de Setembro de 1973, na companhia do primeiro-ministro, Pham Van Dong, e do general Vo Nguyen Giap, Fidel, comovido, constatou a austeridade com que vivia o artífice da independência do Vietname», diz o texto.

Na parte de baixo, a mesa onde costumava reunir-se com a Comissão Política do Partido; numa estante não faltava o Guerra de Guerrilhas, de Che Guevara. Em cima, a cama «ascética» e, num armário simples de madeira, as sandálias e uns poucos trajes tradicionais. Numa pequena mesa, os últimos exemplares do diário Nhan Dan (O Povo), um ventilador e um despertador.

«Ao pé de uma das janelas, o velho cadeirão onde costumava ler e meditar sobre o presente e o futuro de um país que há centenas de anos lutava pela independência… Quantas vezes terá sonhado ali com um Vietname dez vezes mais bonito!»

Ali perto fica uma casa de pedra para onde os dirigentes do país aconselharam Ho Chi Minh a mudar-se nos tempos dos bombardeamentos norte-americanos sobre Hanói. Numa das salas, há uma mesa com dez cadeiras e, numa parede, um grande mapa do Vietname com marcas sobre o curso da guerra.

Ali, o general Giap explicou a Fidel que as últimas marcas reflectiam a situação no momento em que Ho Chi Minh morreu, e pôs o primeiro-ministro cubano a par da evolução das coisas – quando faltavam 19 meses para a vitória.

Fidel também esteve no pequeno lago situado junto a estas duas casas. «Numas escaditas que dão para as águas tranquilas, o Tio Ho agitava-as ou dava palmadas à superfície para avisar as carpas que lhes trazia o alimento de cada dia.»

Não custa muito imaginar que o percurso por aqueles lugares tenha sido «um momento de reencontro espiritual entre os líderes históricos dos dois países», afirma o correspondente da agência cubana.

A admiração por um povo

Quando Fidel então visitou o Vietname, ainda não existia o Mausoléu de Ho Chi Minh – perto da Assembleia Nacional, do Palácio Presidencial, da Casa de Ho Chi Minh sobre Palafitas. O monumento começou a ser construído dez dias antes da sua chegada e só foi inaugurado praticamente dois anos depois, a 29 de Agosto de 1975.

Mas não era disso que o dirigente cubano precisava para levar consigo uma «admiração maior» por Ho Chi Minh. Poucas horas antes de regressar a Cuba, após ter visitado cenários de guerra no Centro do país, ter conversado longas horas com os dirigentes vietnamitas e ter vislumbrado uma vitória que era «simplesmente uma questão de tempo», Fidel sintetizou num discurso as suas impressões sobre aqueles dias.

«Chegámos a esta terra heróica com uma grande admiração pelo povo vietnamita e ir-nos-emos com uma admiração ainda maior. Sentimo-nos estimulados com as suas vitórias e com o seu extraordinário exemplo», disse.

Sublinhou que se ia embora com uma única dor, «a de não ter tido o privilégio de conhecer em vida o presidente Ho Chi Minh, que tanto admiramos».

Algo, no entanto, o consolava: «Compensa-nos o facto de ter visto e ter conhecido de perto o povo vietnamita e ver reflectida nele a sua obra, os seus ensinamentos, o seu trabalho, a sua educação, o seu exemplo, o seu heroísmo, a sua modéstia.»

Fidel voltou a visitar o Vietname em 1995 e 2003. «Sempre, antes e depois, sentiu o mesmo respeito e admiração pelo amigo, o irmão com o qual apenas pôde encontrar-se no caminho das ideias.»