Há um clima fratricida dentro da ala jovem do VOX, nomeadamente dentro da Revuelta, uma organização juvenil de fachada, criada pelo partido de extrema-direita para alargar o seu alcance social e que ganhou notoriedade por protestos contra o Governo espanhol e a forma como este geriu o desastre com as cheias de 2024.
A polémica instalou-se porque, alegadamente, alguém desviou o dinheiro que seria para ajudar as vítimas das cheias em Valência. Conforme relembra o El País, no melhor pano cai a nódoa, uma vez que essa organização de juventude, em Novembro de 2024 organizou protestos em frente à sede federal do PSOE na Rua Ferraz, em Madrid, onde se gritava «por Valência e o seu o povo, que se dane o presidente», numa crítica à suposta inacção governativa.
Tudo isto surge na sequência das demissões do vice-presidente da Revuelta, Arturo Villarroya González, e de outro membro da direcção, Javier Esteban Bejarano, anunciadas em conjunto nas redes sociais, que foram acompanhadas pela ex-porta-voz da associação, Elsa Almada. Os dois primeiros, segundo Villarroya, apresentaram uma queixa ao Ministério Público no passado dia 5 de Novembro contra o presidente da organização, Jaime Hernández Zúñiga, e os seus dois homens de confiança, Santiago Aneiros e Pablo González Gasca, «por supostas irregularidades graves, possível fraude no uso de fundos e na cobrança de quotas de sócios sem os devidos direitos».
Para se ter uma ideia, ainda este ano Hernández Zúñiga, foi distinguido com um galardão de reconhecimento pela Hazte Oír, uma associação espanhola de extrema-direita de natureza ultracatólica que criou o seu próprio grupo de lobby e cujo trabalho passa por opor-se à lei do casamento entre pessoas do mesmo sexo e a lei sobre a interrupção voluntária da gravidez. No seu discurso de agradecimento, Zuñiga fez questão de agradecer a Santiago Abascal, líder do VOX.
De acordo com o noticiado por vários jornais espanhois, Arturo Villarroya González e Javier Esteban Bejarano quiseram ter acesso a extratos bancários, informações sobre o destino dos fundos arrecadados, detalhes dos impostos pagos e quaisquer pagamentos diretos feitos pela associação ao seu presidente e à sua empresa, o que lhes foi negado. Também a ex-porta-voz fez pedidos semelhantes, porém o resultado foi o mesmo: «em resposta aos pedidos de transparência, a resposta foi um silêncio total e absoluto», explicou ao El País.
O caso ganha, no entanto, mais estranheza à medida que investiga mais, até porque os dois primeiros membros demissionários do Revuelta, que também são militantes do VOX, parece que sabiam de tudo o que se estava a passar dentro da organização, no entanto, inexplicavelmente, esperaram. Arturo Villarroya González diz que Jaime Hernández e seus associados, para criar o Revuelta, usaram uma associação previamente registada chamada Asoma, alegando que «era um procedimento provisório e totalmente válido e que adaptariam essa estrutura aos estatutos e objectivos reais da Revuelta».
O mesmo explica que, a mudança de nome e estatutos nunca foi realizada e que, nos dois anos que se seguiram à criação da Revuelta, «nenhuma reunião ou assembleia foi convocada, não existem actas e nenhum documento, conta, contrato, fatura, declaração de imposto de renda ou extrato bancário jamais foi visto ou assinado». Somente passado esse tempo todo é que Arturo Villarroya González quis denunciar o sucedido.
Para já o caso está entregue ao Ministério Público e não se sabe, para já, a dimensão do alegado desfalque. De acordo com o El País, o montante arrecadado para as vítimas da devastadora tempestade que atingiu Valência pode chegar a centenas de milhares de euros. O que se sabe é que, mais uma vez, no alto da sua moral, a extrema-direita está associada ao pior que o sistema tem.
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