|Palestina

Faixa de Gaza respira após três dias de intensos ataques israelitas

Uma trégua, negociada pelo Egipto, entrou em vigor às 23h30 deste domingo (hora local), abrindo esperanças de que a vida possa regressar à frágil normalidade no enclave cercado desde 2007.

Palestinianos festejam nas ruas de Gaza após o anúncio de cessar-fogo 
Créditos / Al Jazeera

A imprensa palestiniana dá conta da reabertura, hoje, de lojas e instituições num território com cerca de 365 quilómetros quadrados e 2,3 milhões de habitantes. Também começaram a chegar ali camiões com o tão necessário combustível – recorde-se que a interrupção do fornecimento levou ao encerramento, no sábado, da única central eléctrica.

Também se está a trabalhar na remoção de escombros das estruturas danificadas ou destruídas pelos bombardeamentos israelitas. De acordo com fontes oficiais, mais de 1500 unidades habitacionais foram atingidas durante a ofensiva, algumas das quais arrasadas. Também foram afectadas numerosas explorações agrícolas.

As forças israelitas começaram a bombardear o enclave costeiro na sexta-feira passada, alegando que estavam a atingir alvos das Brigadas de al-Quds, o braço armado da Jihad Islâmica na Palestina.

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Pelo menos 30 mortos e mais de 200 feridos na agressão israelita a Gaza

Os ataques israelitas contra o enclave costeiro palestiniano, que continuam pelo terceiro dia consecutivo, provocaram 32 mortes, incluindo a de seis menores.

Palestinianos retiram pertences entre os destroços da sua casa, na sequência de um ataque aéreo israelita em Rafah, Faixa de Gaza cercada, a 7 de Agosto de 2022 
Créditos / Al Jazeera

Esta manhã, dois palestinianos perderam a vida e oito ficaram feridos na sequência de um ataque contra uma casa no acampamento de refugiados de Jabaliya, no Norte da Faixa de Gaza cercada.

Também esta manhã, outros palestinianos ficaram feridos na zona de Khan Younis, quando um avião israelita atacou com um míssil uma zona agrícola.

Entretanto, segundo refere a Al Jazeera, as Brigadas de Al-Quds, o braço armado da Jihad Islâmica na Palestina, confirmaram que Khaled Mansour, o seu comandante no Sul de Gaza, foi morto na sequência de um bombardeamento israelita este sábado.

Os ataques aéreos israelitas contra o acampamento de refugiados de Jabaliya e uma zona residencial em Rafah fizeram aumentar o número de vítimas entre a população civil palestiniana, incluindo seis crianças e adolescentes.

Dados do Ministério palestiniano da Saúde apontavam, este sábado, para 32 mortos e 215 feridos desde o início da agressão. De acordo com a Al Jazeera, esta manhã o número de feridos ultrapassava já os 250.

As forças israelitas alegam que estão a atingir alvos militares, mas, segundo referem as autoridades palestinianas, só nas primeiras 24 horas da ofensiva foram danificadas ou destruídas 650 unidades habitacionais no enclave cercado.

Para agravar a situação dos residentes, na sexta-feira Israel cancelou o transporte de combustível planeado para o território, o que levou ao encerramento da única central eléctrica existente.

Uma bola de fogo e fumo forma-se na sequência de explosão de um míssil israelita na Cidade de Gaza / Twitter

Responsáveis da central eléctrica afirmaram que isto teria «consequências catastróficas» para o território empobrecido, com cerca de dois milhões de habitantes. Passam apenas a estar disponíveis quatro horas de electricidade por dia e o impacto nos hospitais pode ser severo.

Mais de 400 rockets lançados para Israel

Em resposta ao ataque israelita, que foi antecedido por detenções de membros das Brigadas de al-Quds na Cisjordânia ocupada, as forças da resistência lançaram mais de 400 rockets para território israelita.

De acordo com a Jihad Islâmica, trata-se de uma «resposta inicial», a que se seguirá um «confronto contínuo». Várias forças, no Iémen, no Líbano, no Iraque, mostraram total disponibilidade para apoiar as forças de resistência palestiniana.

Entretanto, segundo refere a PressTV, responsáveis egípcios afirmaram que intensificaram a actividade de mediação com vista a acalmar a situação. Nesse sentido, uma delegação egípcia deslocou-se ontem a Israel, seguindo de imediato para a Faixa de Gaza cercada.

Responsáveis israelitas negaram a existência de negociações com a Jihad Islâmica e afirmaram que a operação em curso está a ser concebida para durar uma semana.

Em Maio do ano passado, as forças de resistência lançaram mais de 4000 rockets para território israelita durante os 11 dias da operação militar levada a cabo por Israel. Então, os bombardeamentos provocaram cerca de 250 mortos e mais de 1700 feridos no enclave costeiro palestiniano.

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Como consequência dos bombardeamentos, perderam a vida pelo menos 44 palestinianos, incluindo 15 menores (alguns dos quais crianças pequenas). Os ataques provocaram ainda mais de 360 feridos, revela a agência WAFA.

Em resposta aos ataques israelitas, as forças da resistência palestiniana lançaram para território israelita mais de mil rockets. Tratou-se da maior ofensiva israelita contra Gaza desde a que teve lugar em Maio de 2021, em que foram mortas 250 pessoas no enclave costeiro.

Libertação de prisioneiros

O cessar-fogo foi mediado pelo Egipto, com o apoio das Nações Unidas e do Catar, informa a Al Jazeera. Um dos elementos-chave para o acordo é que o Egipto se comprometeu a trabalhar pela libertação de dois dirigentes da Jihad Islâmica presos em Israel, Khalil Awawda e Bassem al-Saadi. A mediação egípcia emitiu um comunicado a confirmá-lo e Israel não comentou.

População veio para as ruas festejar, mas sem «vida normal» à espreita

Com o anúncio do cessar-fogo, muita gente veio para as ruas de Gaza festejar o fim dos bombardeamentos.

Ainda assim, este regresso à normalidade da vida em Gaza é marcado por 15 anos de cerco israelita, pelas restrições de movimento impostas pelo Egipto, pela pobreza, o desemprego elevado.

«A população em Gaza não pode regressar a nada semelhante à normalidade porque ainda está a viver sob o cerco israelita, que é uma forma de violência contra todos os homens, mulheres e crianças em Gaza, 24 horas por dia, 365 dias por ano, há 15 anos», disse Ali Abunimah, director do portal The Electronic Intifada.

Um palestiniano segura um cartaz com a figura do comandante da Jihad Islâmica Taysir al-Jabari, morto na ofensiva israelita contra Gaza, durante uma manifestação na cidade de Ramallah, na Cisjordânia ocupada, a 7 de Agosto de 2022 / PressTV

«Então, infelizmente, é frágil [o cessar-fogo]. Isto vai acontecer novamente. Não posso dizer-te se vai ser dentro de um dia ou uma semana, um mês ou um ano. Mas vai continuar a acontecer porque Israel goza de total impunidade pelos seus crimes contra o povo palestiniano, e não apenas impunidade, mas apoio total e activo. Recorde que estava a bombardear Gaza com armas fornecidas pelos EUA, UE e Canadá, que apoiaram Israel», disse, citado pela Al Jazeera.

MPPM condena nova agressão a Gaza

O Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente, em nota emitida este domingo, denunciou e condenou a nova agressão contra a Faixa de Gaza cercada, lembrando que se trata de um território sujeito «a um férreo bloqueio desde 2007, tornando-o na maior prisão a céu aberto do mundo».

«Não se pode deixar assinalar que a sinistra estratégia de "aparar a erva", ou seja, ataques regulares de Israel à Faixa de Gaza, é agora posta em prática com intervalos cada vez menores», denuncia o MPPM, lembrando ainda que, segundo alguns analistas, o primeiro-ministro (israelita) Lapid desencadeou esta nova vaga de ataques como forma de promoção política, tendo em vista as eleições marcadas para Novembro (as quintas eleições legislativas em três anos e meio em Israel).

Reafirmando «a sua solidariedade para com o povo palestiniano e para com a sua luta pela libertação e pelo direito a viver em paz e prosperidade na sua terra», o movimento solidário reclama ao Governo português que, no respeito da Constituição da República Portuguesa, condene os bombardeamentos e a escalada de violência das forças israelitas contra Gaza;  exija ao governo israelita o respeito pelos direitos do povo palestiniano, o fim do bloqueio imposto ao enclave Gaza e o fim dos colonatos; reconheça o Estado da Palestina, com Jerusalém Oriental como sua capital.

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