Num conclave que Brahim Ghali, secretário-geral da Frente Polisário e presidente da República Árabe Saarauí Democrática (RASD), definiu como decisivo para o futuro do seu povo, devem participar mais de 300 delegados de países da América Latina, África, Médio Oriente e Europa, segundo informou a comissão organizadora.
Trata-se do primeiro congresso da Frente Popular para a Libertação de Saguia El-Hamra e Rio de Oro (Frente Polisário) depois de Marrocos ter violado o cessar-fogo em vigor desde 1991 – algo que, na perspectiva dos saarauís, «minou seriamente (…) qualquer possibilidade de alcançar uma solução pacífica e duradoura para a questão da descolonização do Saara Ocidental».
Ao longo das várias jornadas de trabalho, que hoje se iniciam, cabe aos participantes avaliar os três anos de mandato decorrido e eleger uma nova liderança, bem como aprovar o chamado Programa de Acção Nacional, já discutido nas reuniões preparatórias do congresso e que ali será apresentado, indica o Sahara Press Service.
Encontro «transcendental e extraordinário»
Segundo refere o portal ecsaharaui.com, o congresso é «transcendental» pelas decisões que ali serão tomadas com vista ao futuro do povo saarauí e é «extraordinário» em virtude das circunstâncias que a causa nacional atravessa.
Em declarações à imprensa, Hammada Salma Daf, da comissão preparatória do XVI Congresso da Frente Polisário, frisou precisamente o contexto «particular» em que se realiza o encontro, marcado pela ruptura do cessar-fogo e também pela «normalização das relações entre Marrocos e a entidade sionista, pondo em risco a segurança e a estabilidade de toda a região».
Salma Daf referiu-se também à «determinação» dos militantes da Frente para criar condições para «a mudança que esta fase exige» e encontrar «estratégias determinantes» para analisar os fracassos das três décadas que precederam o retomar da guerra de libertação – «anos em que, disse, o povo saarauí esperou em vão por uma solução, sob os auspícios das Nações Unidas, que lhe permitisse exercer o seu direito à autodeterminação».
Responsabilidades de Espanha
Em declarações à Prensa Latina, Baba Hasanna, membro do Secretariado Nacional da Frente Polisário e também responsável da comissão preparatória, lembrou as responsabilidades de Espanha na actual situação do Saara Ocidental.
«Sabemos que governos como os de Espanha nunca foram, na verdade, amigos do povo saarauí. Não esqueçamos que a causa principal da ocupação do nosso território, responsabilidade de Marrocos, foi Espanha, o abandono e a traição espanhola ao nosso povo», disse o ex-ministro dos Transportes.
«A história repete-se agora, com o governo de Pedro Sánchez a fazer um giro; lamentavelmente, fez uma carta e reconheceu que a ocupação marroquina é a melhor via para prosseguir no Saara Ocidental e a neocolonização sobre o nosso território», afirmou Hasanna.
«No entanto, nada disto vai alterar a natureza ou a situação política do conflito; um país com uma descolonização inacabada que Espanha deixou, e a presença marroquina a ser ilegal no território saarauí até ao momento», frisou, lembrando que Espanha, enquanto o processo de descolonização não for concluído, continuará a ser a potência administradora.
Ampla solidariedade internacional
Na Wilaya de Dakhla, em território argelino (cerca de 1500 quilómetros a sudoeste de Argel), o povo saarauí vai manter inalterável a sua reivindicação de «independência e soberania», contando com a «importante» participação de delegações estrangeiras, de «países irmãos e amigos».
Hammada Salma Daf destacou que «a Frente Polisário goza de uma ampla solidariedade internacional e que isso reflecte o nível de consciência sobre a importância da descolonização do Saara Ocidental, «a última colónia de África», tendo referido que o congresso conta com a representação de países africanos, latino-americanos e asiáticos.
Além disso, também estão em Dakhla representantes de grupos de solidariedade com o povo saarauí e de partidos políticos de países europeus e deputados do Parlamento Europeu (PE). É o caso de João Pimenta Lopes, deputado do PCP ao PE.
Nos últimos dias, várias organizações – de Cuba, do Equador, do Brasil – expressaram a sua solidariedade com o povo saarauí e com a Frente Polisário. Em Portugal, o Município de Palmela aprovou, por unanimidade, na reunião pública de 11 de Janeiro, uma moção em que afirma a sua solidariedade para com o povo saarauí, bem como a «sua legítima aspiração à autodeterminação, liberdade e paz».
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