Os funcionários públicos federais insistem, sem sucesso até ao momento, na procura de um caminho de negociação que possibilite a reposição das perdas sofridas com a inflação nos últimos quatro anos.
«Não estamos pleiteando nada. Apenas a correcção da inflação no período, que é de 19,99%. Quando a gente vai ao posto de gasolina, ao shopping, ao supermercado, não há desconto para o funcionalismo, com o salário defasado, porque está com os salários congelados há quatro anos. Pagamos o mesmo preço», disse à Rede Brasil Atual (RBA) o secretário-geral da Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef), Sérgio Ronaldo da Silva.
Antes, o ministro brasileiro da Economia, Paulo Guedes, afirmou no Fórum de Davos que o único aumento à administração pública que cabe no orçamento do governo é de 5%. E voltou a referir-se à Polícia Federal, à Polícia Rodoviária Federal e ao Departamento Penitenciário para dizer que o governo de Bolsonaro privilegia essas categorias em caso de reajuste.
Guedes disse ainda que é possível «dar alguma coisa», mas que é preciso esquecer «o que ficou para trás». «Perdas acontecem. Todo mundo perdeu no mundo inteiro», frisou.
No dia 18, as principais organizações representativas dos funcionários públicos federais – Fórum das Entidades Nacionais dos Servidores Públicos Federais (Fonasefe) e Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas de Estado (Fonacate) – pediram uma audiência com os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco, e da Câmara dos Deputados, Artur Lira, para discutir a recuperação salarial.
Ainda não tiveram resposta, mas têm a expectativa de que o encontro aconteça a 31 de Maio, dia em que está agendado um acto em Brasília para pressionar o governo, o Supremo Tribunal Federal e o Congresso.
No entender de Ronaldo da Silva, a atitude «intransigente» do governo de Jair Bolsonaro é coerente com a política de «Estado zero» para o povo, especialmente o mais pobre, patente na redução da oferta de serviços públicos.
Essa política, lembrou, é coerente com a destruição anunciada pelo próprio presidente numa viagem aos Estados Unidos, logo no início do governo. «Foram lá dizer que iam vender e destruir tudo. É zero para o povo e zero para o serviço público, que se encontra na UTI [unidade de terapia intensiva]», disse o dirigente à RBA, referindo os limites orçamentais em todas as áreas, incluindo a ciência e tecnologia, com cortes de 90%, que trazem prejuízos a toda a sociedade.
Funcionários federais e população prejudicados
Sérgio Ronaldo sublinhou que, nos últimos 15 anos, o Brasil passou de 665 mil funcionários públicos para 501 mil. «São 164 mil a menos. Cada servidor está sobrecarregado, fazendo o serviço de três. É assim no posto de saúde, no hospital, no INSS, na Justiça do Trabalho. E a população, na ponta, mal atendida», denunciou.
Como exemplos, referiu os problemas no Instituto Nacional de Seguro Social (INSS), onde há «uma fila de três milhões de pessoas aguardando para poder acessar seus benefícios», e a longa espera pela realização de cirurgias.
Sérgio Ronaldo destacou ainda o facto de o governo tirar proveito do impacto negativo do desmantelamento dos serviços, reforçando a tese da «ineficiência» dos serviços públicos para justificar a privatização.
Neste sentido, referiu que, ao manobrar a opinião pública contra os funcionários, conta com o apoio da comunicação social tradicional. «A imprensa só dá oportunidade para um lado, e não para o contraponto, fazendo um de-serviço», criticou.
Considerou «inadmissível que queiram jogar a população contra o funcionalismo», e defendeu que, «como país subdesenvolvido, a prioridade deve ser para o serviço público, que pode actuar na redução das desigualdades».