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Com Obama iniciou-se a dinâmica de colapso dos EUA

A dívida do governo americano já está para além do razoável e a sua expansão continua a acelerar. Essa trajectória não é um bom presságio para a continuidade dos Estados Unidos, no seu actual modelo.

Camden, no rico Estado de New Jersey, tornou-se uma das 12 cidades mais pobres e perigosas dos EUA
Camden, no rico Estado de New Jersey, tornou-se uma das 12 cidades mais pobres e perigosas dos EUACréditos / The Inquirer Daily News

Autor de vários artigos sobre o declínio norte-americano, Dmitry Orlov nasceu em 1962 em Leninegrado e, em 1974, ainda criança, emigrou para os EUA. Nos anos 80 e 90 regressou várias vezes à URSS e testemunhou o colapso soviético. É engenheiro e contribuiu para campos tão diversos quanto o da física de alta energia e a segurança na Internet.

A partir de 2005 Dmitry Orlov escreveu abundantemente sobre o tema do próximo colapso dos Estados Unidos e as muitas semelhanças e diferenças entre as experiências pós-americana e pós-soviética. Esta sua experiência nos EUA terá sido decisiva para reconhecer o enorme declínio do país. Em 2008 publicou um livro sobre os EUA e mais quatro outros regimes políticos para a produção da sua tese sobre a «catástrofe dos cinco impérios»1 – em que incluiu a queda da URSS, que testemunhou. Para além do regime soviético, Orlov inclui também o «regime maçónico de Kerensky», na Rússia de 1917, a monarquia do Xá no Irão e o regime do apartheid na África do Sul, todos eles tendo entrado em colapso muito rápido quando o mecanismo de autodestruição se pôs em marcha. Diga-se que, logo nesta lista, o autor cometeu imprecisões, ao considerar, mesmo pela sua classificação, todas eles como super-potências.

Nos últimos dez anos tem mantido uma actividade editorial na linha deste livro, mas não tem sido levado muito a sério quanto ao paralelismo entre o colapso da URSS e o eventual futuro colapso dos EUA, nomeadamente devido à falta de rigor histórico na sustentação das dinâmicas das tais «catástrofes dos cinco impérios».

Associou essas catástrofes a falências de «super-potências», fazendo questão de precisar que considerava cada uma delas um «estado com uma posição dominante, que é caracterizada pela sua extensa capacidade de exercer influência, ou projecto de energia em escala global, através dos meios combinados de força económica, militar, tecnológica e cultural, bem como influência diplomática e poder brando (soft power)». Tradicionalmente, segundo Orlov, as super-potências, como os Estados Unidos, são nações extremamente poderosas, especialmente capazes de influenciar eventos internacionais e os actos e políticas de nações menos poderosas; ou então órgãos governamentais internacionais capazes de impor a sua vontade aos estados mais poderosos.

Considerou que essas catástrofes passam todas elas por 5 fases2:

Fase 1 - Colapso financeiro, em que a fé nos negócios se perdeu;
Fase 2 - Colapso comercial em que a fé em que "o mercado ajudará" está perdida;
Fase 3 - Colapso político em que a fé de que "o governo cuidará de nós" se irá perder;
Fase 4 -Colapso social em que a fé de que "seu povo cuidará de nós" se tenha perdido;
Fase 5 - Colapso cultural em que a fé na “bondade da humanidade” se tivesse perdido.

Referindo-se expressamente aos EUA, afirmou que estes vivem na primeira fase desde pelo menos Georges W. Bush e que esse processo se acelerou dramaticamente com Obama e Trump. Acredita que atingimos uma situação em que mesmo um incidente relativamente pequeno pode resultar numa desaceleração súbita (ou seja, uma «catástrofe»).

Obama, Trump e o colapso americano

Num recente artigo, «O ano em que o planeta se virou»3 afirmou que já se pode dizer que o plano de Trump, Make America Great Again, é um fracasso. Sob as estatísticas cor-de-rosa do crescimento económico dos EUA esconde-se o fato horroroso de este ser o resultado de um perdão fiscal concedido às corporações transnacionais para as induzir a repatriar os seus lucros. Essa medida tem sido um desastre para o governo dos EUA, bem como para o sistema económico no seu conjunto. A receita de impostos diminuiu. O défice orçamental para 2018 estava previsto como sendo de 779 mil milhões de dólares.

Ao mesmo tempo, as guerras comerciais iniciadas por Trump fizeram com que o défice comercial aumentasse 17% em relação ao do ano anterior. Os planos para repatriar a produção industrial de países com mais baixos custos continuam a ser muito fluidos porque, por exemplo, os três elementos-chave que a China teve quando se industrializou (energia e mão-de-obra baratas comparativamente mais reduzidas, com outros custos de negócio também mais reduzidos) estão completamente ausentes na economia americana, o que é natural porque a revolução industrial aí se deu com dois séculos de antecedência, e beneficiando dos baixos custos de uma verdadeira pilhagem de matérias-primas realizada em vários continentes. A dívida do governo americano já está para além do razoável e a sua expansão continua a acelerar, sendo que só o pagamento de juros excedeu quinhentos mil milhões por ano numa década4.

Essa trajectória não é um bom presságio para a continuidade da existência dos Estados Unidos no seu actual modelo. Ninguém, seja nos Estados Unidos ou fora deles, tem o poder de alterar significativamente essa trajectória. Trump deverá mover-se rapidamente se quiser tentar convencer o mundo inteiro, em última análise, de que os EUA não estão numa rota auto-destrutiva e, em geral, se apresentam confiáveis como parceiros. Porém, até agora,o que o presidente dos EUA conseguiu foi ferir essses parceiros, cuja maioria está entre os seus aliados europeus. Os ataques de Trump às exportações russas de energia para a Europa, aos fabricantes de automóveis europeus e ao comércio da Europa com o Irão, causaram muitos danos, tanto políticos como económicos, sem compensar esses aliados com quaisquer benefícios, possíveis ou reais.

Ao mesmo tempo, à medida que a ordem mundial da globalização, que boa parte da população da Europa parece declarar um fracasso, começa a desmoronar-se, a União Europeia (UE) está rapidamente a tornar-se ingovernável, com partidos políticos tradicionais incapazes de formar coligações de governo e com outros, mais populistas, a proliferar. O autor, afirma, sem fundamento sólido, que a UE (esta UE, digo eu) já fracassou completamente, e que parece seguro prever que, dentro de uma década, não terá a mesma importância internacional.

Quanto a esta questão, o autor ignora as diferenças entre a história dos EUA e da UE. Esta, desde o seu tratado fundador, é uma Europa de nações, ou de países com um elevado conceito das suas soberanias. Porém, também é verdade que a sucessão de tratados vinculativos dos Estados membros, levaram à perda de importantes sectores económicos em países menos possantes, à introdução de uma moeda única que calibrou as diversas capacidades nacionais numa bitola única, com prejuízo para os países com «menos músculo», com uma liberdade de circulação de capitais e uma política monetária que não protegeram os países que mais precisavam de investimento produtivo e não de «investimento» especulativo, nem do garrote do serviço da dívida dos empréstimos. E que fizeram com que empresas notadoras internacionais, particularmente norte-americanas, usassem essas notações para enviar ainda mais sinais errados aos investidores. Além disso, por exemplo, o autor ignora a lei económica da baixa tendencial da taxa de lucro no capitalismo.

Para Orlov, embora a qualidade desastrosa e os erros ruinosos da liderança da UE se devam a responsabilidades próprias, outras devem-se ao comportamento errático e destrutivo do Big Brother do outro lado do Atlântico. A UE já passou a ser uma instituição regional, incapaz de projectar poder ou alimentar mais ambições geopolíticas globais.

As aventuras militares: custos e resultados

A saída da Síria é inevitável se Trump não recuar face ao belicismo esmagador de parte da sua administração e mantiver esse compromisso. Agora que a Síria está armada com as armas de defesa antiaérea actualizadas pela Rússia, os EUA já não mantêm a superioridade aérea e, sem superioridade aérea, não podem fazer nada. Segue-se-lhe o Afeganistão. Estranho seria ver a outra parte da administração de braço dado com os talibans para o impedir…

A partida significará o fim de Cabul como um centro de corrupção onde os estrangeiros roubam ajuda humanitária e outros recursos. Num outro lugar neste percurso, o Iraque, serão retirados os militares que lá continuam. O parlamento do país, aliás, irritado com a visita improvisada de Trump a uma base dos EUA, votou recentemente a expulsão desses militares.

A aventura americana no Oriente Médio, desde o 11 de Setembro, custou àquele país quase 5 biliões de dólares, isto é, cada norte-americano, homem, mulher e criança nos EUA pagou 14 444 dólares para sustentar tal aventura. Para não falar já, digo eu, das centenas de milhares de habitantes desses países mortos nessas guerras de agressão.

No Médio Oriente, seguir-se-ão arranjos internacionais de segurança mediados pela Rússia, graças às suas capacidades militares incontestáveis e comprovada de vontade de paz. O destino da Síria será decidido com o apoio da Rússia, do Irão e da Turquia, não estando os EUA sequer convidados para as conversações. O Afeganistão ficará na órbita da Organização de Cooperação de Xangai. E os maiores perdedores serão os ex-aliados regionais dos EUA, em primeiro lugar Israel, seguido pela Arábia Saudita.

Voltando ao tema do colapso

Regressando à questão do colapso, o autor afirma que cada estágio é um processo histórico que leva tempo para seguir o seu curso, à medida que o sistema vai adaptando às mudanças de conjuntura, compensa as suas fraquezas e encontra maneiras de continuar a funcionar a um certo nível. Mas o que muda de repente, segundo Orlov, é a fé, ou o sentimento. Um grande segmento da população, ou uma classe política inteira dentro de um país, pode funcionar com base num determinado conjunto de pressupostos por muito mais tempo do que a situação exige, mas num curto período de tempo pode mudar de pressupostos. Tudo o que sustenta o status quo além desse ponto é a inércia institucional. Ela impõe limites à rapidez com que os sistemas podem mudar sem entrar em colapso total. Além desse ponto, as pessoas vão tolerar as práticas mais antigas apenas até que possam ser encontradas novas.

Orlov afirma que, quanto aos republicanos, eles são basicamente subsidiários do Partido Likud de Israel. Basta dar uma vista de olhos na longa lista de vencidos que o Likud produziu em Israel, para se ter uma noção do que eles podem fazer na sua colónia norte-americana.

Numa entrevista recente, Orlov concluiu que os EUA irão recuperar, sem dúvida. «Este é um grande país com milhões de pessoas imensamente talentosas, imensos recursos naturais e nenhuma ameaça credível ao seu território. Mas isso só pode acontecer depois de uma mudança real de regime e não apenas de uma mudança de presidente», afirmou.

Até lá, segundo ele, estaremos todos «à espera de Godot»5, o que é pouco recomendável, como atitude para a mudança.


As cidades americanas onde as populações vivem em condições de extrema degradação é extensa. Deixamos aqui um vídeo com as doze localidades para não viver, segundo os seus autores.

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