|Índia

Com a colheita à porta, agricultores indianos preparam nova fase de protestos

A direcção da Samyukt Kisan Morcha, que reúne os sindicatos agrícolas, vai organizar uma terceira fase de mobilizações, num contexto em que muitos agricultores precisam de regressar aos campos.

Mais de 100 mil pessoas participam, em Barnala (Punjabe), a 21 de Fevereiro de 2021, numa mobilização em defesa dos agricultores e dos trabalhadores agrícolas sem terra indianos, ameaçados pelas políticas favoráveis ao agronegócio defendidas pelo governo de Modi
Créditos / Bharatiya Kisan Union (Ekta Ugrahan) Twitter

O rumo dos protestos que os agricultores indianos mantêm há quase três meses contra a legislação neoliberal aprovada por Modi será decidido após uma reunião no próximo domingo, dia 28. O objectivo dos dirigentes sindicais é pôr em marcha uma estratégia capaz de manter vivas as mobilizações nos arredores de Nova Déli, noticia o Newsclick.

Se se olhar para o programa das quatro iniciativas anunciadas para domingo, refere o portal, nota-se que a direcção do movimento agrícola já se está a confrontar com o desafio, pois duas delas visam atrair a participação da juventude e dos trabalhadores.

Quando, no final de Novembro último, centenas de milhares de agricultores constituíram um poderoso movimento de luta contra as leis que põem em causa a sua sobrevivência, tinha terminado a temporada da colheita do arroz e o trigo tinha sido semeado.

Muitos dos agricultores que então deram início ao «cerco» à capital eram sobretudo dos estados do Punjabe e de Haryana, e o calendário agrícola permitia-lhes estar afastados das suas terras e dava-lhes disponibilidade para lutar.

No entanto, com o fim de Fevereiro a aproximar-se, um grande número vê-se obrigado a sair dos arredores de Nova Déli para regressar às suas aldeias, mesmo que por um período curto de tempo, uma vez que a época da colheita de trigo está aí à porta.

Gurnam Singh Chaduni, dirigente do Sindicato Bharatiya Kisan e da Samyukt Kisan Morcha, declarou ao newsclick.in que «o foco, agora, é atrair diferentes sectores da sociedade para as manifestações, tranformando-as num movimento de massas».

«Estamos a fazer isto sublinhando que as reformas agrícolas não afectam apenas os agricultores, mas também outras pessoas», disse Chaduni, acrescentando que muito foi alcançado nesta direcção com as mahapanchayats – grandes reuniões dos conselhos das aldeias – recentemente organizadas no estado de Haryana, que tiveram uma participação considerável de mulheres, trabalhadores agrícolas sem terra e assalariados.

Mais de 100 mil mobilizam-se no Punjabe

Numa «demonstração de força», o Bharatiya Kisan Union (Ekta Ugrahan) e o Punjab Khet Mazdoor Union – a facção do sindicato que representa os trabalhadores sem terra – organizaram uma mobilização que reuniu mais de 100 mil pessoas, este domingo, na localidade de Barnala, no estado do Punjabe.

«A grande multidão foi a resposta a todos aqueles que afirmaram erradamente que andolan pheeka pad gaya hai [o movimento desapareceu]», disse ao newsclick.in o secretário estadual do BKU (EU), Shingara Mann Singh.


Em seu entender, a mobilização foi também um sucesso por sublinhar que o movimento de luta em curso não diz respeito apenas aos agricultores e ao seu sustento. «Este protesto contra as kaale kanoon [leis negras] não é só para os agricultores, mas também para os trabalhadores do campo», disse Singh, acrescentando que, «para honrar o papel das mulheres na agricultura», foi feito um apelo para celebrar o Dia Internacional da Mulher (8 de Março) nos acampamentos de camponeses localizados em redor de Nova Déli.

Por seu lado, o presidente do Punjab Khet Mazdoor Union, Jora Singh Nasrali, destacou que as leis agrárias vão afectar o rendimento dos agricultores e o emprego dos trabalhadores agrícolas, e que «é fundamental que ambos estejam unidos para lutar contra a privatização e corporatização» que o governo indiano pôs à solta.

Além disso, denunciou, «o Sistema de Distribuição Pública [PDS, na sigla em inglês] será gravemente diluído pelas reformas, pondo em risco a segurança alimentar».

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