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Anda um espectro pela Europa: o espectro da luta dos trabalhadores

Enquanto a União Europeia e os seus governos alinham na intensificação do belicismo, atacam simultaneamente as funções sociais do Estado e os direitos dos trabalhadores. Com o empobrecimento, a luta dos trabalhadores tem-se intensificado Europa fora. 

A greve geral em Portugal acompanha uma onda de lutas que se travam por toda a Europa. A situação política e social, que se tem degradado, tem obrigado à elevação dos patamares de luta, o que levou a greves gerais na Bélgica, França, Espanha e Itália. Com moldes e motivações diferentes, enquanto o consenso neoliberal procura relegar a luta laboral para uma forma de expressão do passado, a realidade comprova que a acção reivindicativa é cada vez mais actual. 

Bélgica - Greve geral de 24 a 26 de Novembro

Na Bélgica, a greve geral foi uma resposta directa ao novo orçamento do Governo de direita de Bart De Wever, que previa um pacote de medidas de austeridade consideradas severas que continham cortes nas funções sociais do Estado, nos apoios sociais e na saúde.

Assim como o Governo português, também o Governo belga está a procurar retirar direitos aos trabalhadores com um pacote laboral. Com a intenção de «modernizar a legislação» e «aumentar a flexibilidade», o Executivo de Bart De Wever quer que os patrões aumentem ou ajustem horários de trabalho conforme as suas necessidades sem garantias claras para os trabalhadores; o fim de restrições como a proibição de trabalho nocturno; a reintrodução de período experimental; limitar indemnizações e protecções em caso de despedimentos; e aumentar a precariedade com os «flexi-jobs» e trabalho temporário.

A greve geral, de três dias, promovida pelos principais sindicatos do país, gerou perdas de milhões de euros para a economia belga, e foi seguida de uma grande manifestação em Bruxelas que contou com perto de 100 mil trabalhadores.

França - Greve Nacional a 2 de Dezembro

No país gaulês as três grandes centrais sindicais francesas convocaram uma greve nacional intersectorial para o dia 2 de Dezembro, no contexto da discussão do Orçamento do Estado para 2026. Os trabalhores exigiram ao Governo aumentos salariais, justiça fiscal e o reforço dos serviços públicos, contrariando o ímpeto de austeridade que se abate sob os trabalhadores.

A paralisação provocou graves perturbações em sectores-chave por todo o país. Nos transportes, a operadora ferroviária SNCF suprimiu uma parte significativa das circulações de comboios TGV, Intercités e TER, enquanto vários aeroportos registaram atrasos e cancelamentos de voos, sobretudo nas rotas de curta e média distância da Air France. No sector da educação, as aulas foram canceladas em muitas escolas devido à greve de professores, que protestaram contra o corte de milhares de postos de trabalho previsto no orçamento.

As manifestações tiveram uma expressão nacional, com dezenas de desfiles a mobilizarem centenas de milhares de pessoas nas principais cidades francesas, como Paris, Lyon e Marselha. Esta greve nacional foi a sequência de várias acções de luta realizadas ao longo do ano, num país envolto na instabilidade governativa com quedas sucessivas de governos e o Presidente, Emmanuel Macron, a querer aplicar a receita neoliberal à força. 

Itália - Greve geral a 12 de Dezembro

Convocada pela maior confederação sindical do país, a CGIL, a greve geral visou protestar contra o orçamento do Governo de Giorgia Meloni, criticado por priorizar gastos militares, exigir melhores salários e reformas, e denunciar a deterioração dos serviços públicos, especialmente na saúde.

A paralisação afectou os sectores de transporte, saúde, educação e outros, tanto públicos quanto privados. Segundo o noticiado, esta greve geral foi o culminar de uma série de mobilizações, concentrações, greves e manifestações.

No país governado pela extrema-direita, os números mostram que, apesar do aumento do emprego, o rendimento real dos trabalhadores continua a diminuir. Os dados do Instituto Nacional de Estatística italiano indicam que o crescimento dos preços dos últimos dois anos corroeu o poder de compra, deixando os rendimentos reais substancialmente estagnados. Entre 2019 e 2024, os rendimentos do trabalho perderam uma média de 1700 euros.

Espanha - Greve geral em solidariedade com a Palestina a 15 de Outubro de 2025

Em Espanha, a greve geral ocorreu a 15 de Outubro, com paralisações em vários setores e grandes manifestações em todo o país. A mobilização envolveu trabalhadores, estudantes e movimentos sociais, com impacto visível nos transportes, educação e serviços públicos, sobretudo em grandes cidades como Madrid e Barcelona.

Diferente de greves gerais clássicas, focadas em salários ou reformas laborais, esta teve um forte carácter de solidariedade internacionalista, sendo convocada contra a política externa do governo espanhol. Sindicatos como CCOO, UGT e CGT, além de organizações estudantis, apoiaram a jornada de greve e protesto.

Ao longo de 2025, Espanha também registou várias greves nacionais e sectoriais, especialmente na saúde, transportes e função pública. Embora nem todas sejam greves gerais, estas paralisações reflectem um clima contínuo de contestação social e laboral, mostrando que a greve continua a ser um instrumento central de pressão política e social no país.
 

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