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«O país mais violento do mundo conseguiu negociar a paz, ao contrário da Europa»

Organizado pela Fundación Yuste, na Extremadura, em torno do centenário de Saramago, o encontro reuniu académicos, tradutores e escritores, entre eles o nicaraguense Sérgio Ramírez e a colombiana Laura Restrepo.

O escritor Sérgio Ramírez, vice-presidente da Nicarágua entre 1985 e 1990 e Laura Restrepo, que em 1982 fez parte das negociações de paz entre o estado colombiano e a guerrilha M-19. 
Créditos / DR

Foi uma muito emocionada escritora Laura Restrepo, colombiana, e um menos optimista prémio Cervantes, o escritor nicaraguense Sérgio Ramírez, que se reuniram no encontro «Diálogos Ibéricos: um minuto, um século», organizado pela Fundação Yuste, na Extremadura. O debate dos dois escritores latino-americanos, em torno da obra e do activismo humanitário de José Saramago, aconteceu na segunda-feira, dia 27 de Junho, nos claustros do Mosteiro de Yuste, com a moderação do jornalista do Babelia, suplemento cultural do El País.

Profundamente admiradores de José Saramago, ambos travaram conhecimento com a obra do Nobel português, através do livro Evangelho Segundo Jesus Cristo. Curiosamente o livro que levou ao exílio voluntário de Saramago em Lanzarote, depois do ver o seu nome excluído por um governante do PSD (mais recentemente do Chega) da selecção de um prémio europeu.

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Gustavo Petro quer escrever uma «história nova» para a Colômbia

A candidatura do Pacto Histórico, coligação de forças progressistas e de esquerda, venceu as eleições presidenciais na Colômbia. Petro definiu o triunfo como «histórico» e defendeu a aposta na paz.

Gustavo Petro e Francia Márquez, do Pacto Histórico, celebrando o triunfo nas eleições presidenciais na Colômbia 
Créditos / @petrogustavo

Com a totalidade dos votos escrutinados, a candidatura do Pacto Histórico, integrada por Gustavo Petro e Francia Márquez, obteve 11 281 013 votos (50,44%) na segunda volta das eleições presidenciais, celebradas este domingo.

Já a candidatura apoiada pelas forças de direita, composta por Rodolfo Hernández e Marelen Castillo, alcançou 10 580 412 votos (47,31% dos votos válidos), informaram as autoridades eleitorais colombianas.

Conhecidos os resultados, Petro e Francia Márquez dirigiram-se para o coliseu Movistar Arena, em Bogotá, onde se juntaram a milhares de apoiantes que ali festejavam o triunfo do Pacto Histórico, num país onde os governos, por norma, são conservadores de direita e extrema-direita.

«É história aquilo que estamos a escrever neste momento, uma história nova para a Colômbia, para a América Latina, para o mundo», disse o novo presidente eleito, sublinhando que aquilo que aí vem é «uma mudança real» e que não irá trair o eleitorado que «gritou ao país, à história, que a partir de hoje a Colômbia muda».

Num discurso conciliador, Gustavo Petro afirmou que não se trata de uma «mudança para nos vingarmos, uma mudança para construir mais ódios, uma mudança para aprofundar o sectarismo na sociedade colombiana».

O chefe do novo governo, que tomará posse a 7 de Agosto, destacou ainda que a força expressa pelo povo nas urnas vem de longe, de gerações que já não estão, porque as forças que contribuíram para o triunfo do Pacto são um acumulado de cinco séculos de resistência e rebeldia contra a injustiça, a discriminação e a desigualdade.

A paz como aposta central

Num coliseu em festa, Gustavo Petro sublinhou que o objectivo primordial do seu mandato é a paz. «Significa que não vamos, a partir deste governo, utilizar o poder em função de destruir o oponente. Significa que nos perdoamos. Significa que a oposição que teremos […] será sempre bem-vinda ao Palácio de Nariño para dialogar sobre os problemas da Colômbia», afirmou, citado pela Prensa Latina.

Falando para milhares de pessoas, Petro disse que «não pode continuar o clima político que acompanha os colombianos neste século de ódios, de confrontos, literalmente de morte, de perseguições, de isolamento».

Com o governo que irá liderar, acaba-se a perseguição política, a perseguição jurídica, «haverá apenas respeito e diálogo», disse, insistindo na criação de um grande pacto, que deve abranger toda a sociedade.

«Alcançámos um governo do povo»

Francia Márquez, vice-presidente eleita da Colômbia, saudou todos os sectores que tornaram possível o triunfo do Pacto Histórico, tendo afirmado que, ao cabo de 214 anos, se deu um passo muito importante: «alcançámos um governo do povo.»

«Vamos reconciliar este país, pela paz, sem medo, pela vida, pelas mulheres, pelos direitos da comunidade diversa LGTBQI+, pelos direitos da Mãe Terra, para erradicar o racismo estrutural», afirmou.

Lembrando todos aqueles que sofrem a violência e desigualdade no país, teve ainda palavras de reconhecimento para quem perdeu a vida nas lutas da Colômbia.

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O autor de ¿Te dio miedo la sangre? (1978), Sérgio Ramírez, teve de abandonar por algum tempo a carreira literária para se incorporar na revolução sandinista, que derrotou a ditadura de Somoza. Ramírez assumiu, posteriormente, durante 5 anos, a vice-presidência da Nicarágua.

«A esquerda tem de ser ética e democrática. Se se tira a liberdade deixa de ser esquerda e torna-se uma ditadura, como qualquer outra», afirma, acrescentando que «Saramago veria com esperança o que se passa na Colômbia e com muita tristeza o bolsonarismo do Brasil».

Ambos os escritores admiram a linguagem poética, alegórica e nunca «panfletária» de Saramago, mostrando que, nas palavras de Laura Resterpo, é possível falar literariamente de mudança, de igualdade, de luta contra o racismo e machismo e o empobrecimento das populações desfavorecidas. «As personagens de Saramago rompem o cerco do esquecimento. Em cada homem estão todos os homens; em cada mulher estão todas as mulheres».

Actualmente professora emérita da Universidade de Cornell (EUA), a muito premiada escritora colombiana Laura Restrepo mostrou-se muito optimista quanto à recém eleição de Gustavo Petro (à frente de uma coligação progressista): prenuncia o «fim a quatro décadas muito sangrentas de violência armada na Colômbia. O país mais violento do mundo conseguiu negociar a paz, ao contrário do que sucedeu na Europa, que não conseguiu com a guerra na Ucrânia».

O encontro contou ainda com a participação de de Pilar del Río, tradutora e presidente da Fundação Saramago, Carlos Reis, professor catedrático e comissário para o centenário de José Saramago e Ana Paula Arnaut, professora catedrática de literatura portuguesa contemporânea.

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