Começando por fazer uma caracterização da situação política nacional, Tiago Oliveira rapidamente disse aquilo que é uma evidência para muitos, mas que uns poucos (os que ganham com as guerras e confrontações) não querem que seja dito. «Em qualquer conflito quem sofre são os trabalhadores. É o povo quem sofre. São aqueles que não podem fugir, são aqueles que não têm como fugir, nem para onde fugir. São os mais pobres, os que menos recursos têm», começou por dizer.
O novo secretário-geral da CGTP afirmou, sem medos, que é num plano de conflitos «em que se desenvolve a luta de classes», sendo que «a guerra é a destruição das forças produtivas, motor único do desenvolvimento humano», complementando, dizendo que «a guerra é a negação de tudo o que nós, os trabalhadores, somos. A força de quem trabalha é o factor único do desenvolvimento de tudo o que de bom existe nas nossas vidas».
O traço solidário e internacionalista característico da CGTP manteve-se presente na intervenção, com Tiago Oliveira apelar a uma saudação a todas as organizações internacionais presentes no Congresso, «porque a luta é de todos e ultrapassa todas as fronteiras», destacando, assim, a presença das delegações da Palestina, de Cuba e do Sahara Ocidental que marcaram presença.
As três mensagens - passado, presente e futuro
Relativamente à situação nacional, o secretário-geral da intersindical nacional quis começar por deixar três mensagens - uma sobre o passado, uma sobre o presente e outra sobre o futuro. Sobre o passado destacou o património de intervenção, resistência e luta da CGTP que, «perante as mais difíceis circunstâncias, não abandonou, não deixou de estar presente, não esqueceu» os locais de trabalho e as justas aspirações dos trabalhadores.
Sobre o presente, Tiago Oliveira procurou situar as dificuldades com que os trabalhadores estão confrontados e que foram expostas no Congresso: os baixos salários e a perda de poder de compra; a precarização das relações laborais, nomeadamente nos vínculos de trabalho; a facilitação e o embaratecimento dos despedimentos; o contínuo ataque à contratação colectiva; a desregulação dos horários de trabalho com a tentativa de normalização do trabalho aos fins de semana, o trabalho por turnos e noturno, entre outras; o aumento do custo de vida; e o aumento brutal nos custos da habitação. Para o mesmo, «se estas dificuldades hoje existem, então temos que responsabilizar aqueles que, no passado, nada fizeram para reverter o rumo que seguimos e que nos trouxe aqui».
Relativamente ao futuro, o novo representante da CGTP-IN colocou a visão na construção, «definir o que temos para fazer é muito fácil». Para o mesmo, não há meios caminhos a se escolher, não é possível estar ao lado dos interesses dos accionistas de empresas como a Galp que lucra milhões enquanto quem trabalha e recebe o Salário Mínimo Nacional «não consegue chegar ao fim do mês tendo uma vida minimamente digna e desafogada».
Foi desta forma que futuro foi mesmo a tónica da intervenção, mas não o projectado pelos trabalhadores, mas sim no plano da luta que se deve travar entre o trabalho e o capital, sendo dados vários exemplos das contradições e contrastes. «Não é possível engolirmos os discursos bafientos dos aumentos salariais dependentes de objectivos e pretensos ganhos de produtividade, quando, ao longo dos anos, assistimos à descida da parte que cabe às retribuições do trabalho na riqueza total produzida no país, e, simultaneamente, à subida dos rendimentos do capital», reafirmou Tiago Oliveira, indo assim embalado para a restante análise.
Da juventude, ao Serviço Nacional de Saúde, passando pela Escola Pública, enumerando cada uma das contradições presentes entre os interesses dos trabalhadores e aqueles os exploram e promovem a política de exploração, o novo secretário-geral pediu permissão para reafirmar que «não existe meio termo», que «existem opções políticas» e que «ou estamos ao lado de quem trabalha, ou ao lado de quem explora».
Se no presente vive-se a situação que se vive e no futuro tem que se travar as várias batalhas, isso, segundo Tiago Oliveira «advêm de partidos que ao longo de mais de 40 anos têm decidido perpetuar e intensificar políticas de direita que respondem aos interesses duns poucos e que deitam por terra as justas aspirações da maioria, dos trabalhadores, dos reformados e pensionistas, dos jovens. Aspirações dos homens e mulheres que conduzem, esses sim, através do seu trabalho, o país para a frente».
Puxando ao sentimento de classe, dizendo «nós somos trabalhadores, não somos capitalistas. Nós somos aqueles que têm mês a mais para o ordenado que temos. Nós somos aqueles que sentem na pele as desigualdades, a exploração, a retirada de direitos. Nós somos aqueles que não sentem valorizado o trabalho que desenvolvem», o secretário-geral da central sindical lançou o desafio a todos os presentes e a toda a estrutura de «levar esta discussão do futuro que merecemos para os locais de trabalho. Por um país assente nos valores de Abril (...)».
Assumindo que face aos problemas foram identificados os responsáveis e encontradas as soluções e as ferramentas para lhes dar o verdadeiro combate, é hora de dar seguimento às reivindicações assumidas, como a luta pelo aumento dos salários em 15% com um mínimo de 150 euros; a luta pela valorização das carreiras e profissões, do aumento geral dos salários para todos os trabalhadores, do aumento do salário médio e também do aumento do salário mínimo nacional; a luta pela redução dos horários de trabalho das 40h para as 35h semanais; ou luta pela rejeição de todas as tentativas de desregulação dos horários de trabalho, bancos de horas e adaptabilidades.
A concluir a luta pelo futuro, Tiago Oliveira lançou também os desafio para dentro da própria central sindical, identificando como necessário «avançar na organização, na sindicalização, na eleição de delegados sindicais e representantes para SST». Estes elementos estão a par com a necessidade de «continuar a dar destaque à acção nas empresas e locais de trabalho hoje prioritários», de forma a «assegurar intervenção, acção reivindicativa, sindicalização e organização em mais 2 mil empresas, locais de trabalho e serviços em que hoje não existe».
Todos estes elementos ganham ainda mais importância nos 50 anos da Revolução de Abril, «momento ímpar de libertação do nosso povo! Marco indelével na história do século XX do nosso país e exemplo e esperança para o mundo». Lançando o desafio a todos, Tiago Oliveira, apelou ao compromisso da CGTP em contribuir para a construção de uma grande evocação do 25 de Abril «seja nas empresas, seja nas ruas», mas com «a responsabilidade de levar os valores de Abril a todos os trabalhadores, de e para todos aqueles que o construíram».
Ao finalizar a sua intervenção, o secretário-geral da CGTP deu ainda o caderno de encargos: a Semana da Igualdade de 18 a 22 Março, comemorando o Dia Internacional da Mulher em luta; dia 27 de Março com a realização de uma grande Manifestação de Jovens Trabalhadores; reafirmou a importância das celebrações populares do 25 de Abril; e destacou a import ncia da realização de um grandioso 1º de Maio por todo o país.
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