«Muito ruído tem inundado o espaço público da Região dos Açores» sobre as muitas lutas dos trabalhadores da Atlânticoline. O Sindicato dos Trabalhadores da Marinha Mercante, Agências de Viagens, Transitários e Pesca (SIMAMEVIP/CGTP-IN) só lamenta que «os intervenientes, alguns com altas responsabilidades na administração regional», raramente se refiram aos motivos que levam dezenas de trabalhadores a cumprir, com grande prejuízo pessoal, tantos dias de greve.
Uma das vozes que ignora as razões que levam a uma falta de entendimento entre os trabalhadores e a administração é a de Paulo Silveira, deputado jorgense do PSD Açores, que em declarações à Rádio Lumena diz que os trabalhadores «têm o direito a defender os seus interesses», embora essa postura «esteja já a ultrapassar os limites quando o Governo tem respondido às reivindicações do sindicato».
Quais são então as razãos dos trabalhadores que, por exercerem os seus direitos laborais, ultrapassam estes supostos «limites»? Simples: «a administração da Atlânticoline não quer cumprir a lei e apresenta propostas inaceitáveis e feridas de legalidade, para contornar a falta de trabalhadores e embarcações», recorrendo, «e abusando» do trabalho extraordinário.
Esta realidade foi comprovada pela Inspecção Regional de Trabalho, que confirmou as denúncias dos sindicatos, «os limites contemplados no Código de Trabalho foram ultrapassados», assim como foi identificado o «desrespeito dos tempos de descanso entre turnos».
«No que diz respeito à revisão da tabela salarial, os trabalhadores estão dispostos a abdicar dos retroactivos a Abril de 2021», com a contrapartida de que sempre que o valor do Salario Mínimo Nacional for actualizado, «tal alteração repercutir-se á, em igual percentagem, nas diferentes categorias da tabela
salarial».
Preparados para mais um período de greve, desta vez, ininterruptamente, até ao dia 31 de Março, cumprindo sempre serviços mínimos, os trabalhadores e o seu sindicato, o SIMAMEVIP, apelam para que os novos membros da administração da empresa «não façam tábua rasa das reivindicações dos trabalhadores, e acabem com este impasse». «Cumpram a Lei, cumpra-se o Código de Trabalho», reclamam.
A Atlânticoline foi constituída em 2005, por decisão do Governo Regional dos Açores, com capitais exclusivamente públicos. A empresa garante, todos os anos, o transporte marítimo de quase 600 mil passageiros e mais de 30 mil viaturas em todo o arquipélago dos Açores.