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Eurest: mais de 90% dos trabalhadores das cantinas escolares são precários

A Eurest, que gere as refeições escolares de mais de 100 mil estudantes portugueses, não se dignou a responder às exigências dos trabalhadores, precipitando uma greve no dia 3 de Junho, com concentração às 9h.

Concentração de protesto junto à Câmara Municipal de Gondomar
Créditos / Sindicato de Hotelaria do Norte

O rol de denúncias sobre as condições de trabalho impostas aos funcionários das cantinas da Eurest, uma das maiores empresas do ramo em Portugal, parece não ter fim. Em comunicado enviado ao AbrilAbril, o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Hotelaria, Turismo, Restaurantes e Similares do Norte (SHN/CGTP-IN) apontou algumas das situações que a empresa impinge aos seus trabalhadores.

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Reintegrada dirigente sindical despedida pela Eurest

Incluída num processo de despedimento colectivo de 122 trabalhadores movido pela Eurest, empresa de gestão de cantinas, refeitórios e cafetarias, trabalhadora voltou na sexta-feira ao seu posto de trabalho.

Créditos / União de Sindicatos de Setúbal

De volta aos quadros da empresa, Joana de Jesus, dirigente sindical do Porto e do Conselho Nacional da CGTP-IN, viu confirmar-se a acusação que o Sindicato de Hotelaria do Norte (SHN) e a Fesaht, Federação dos Sindicatos da Agricultura, Alimentação, Bebidas, Hotelaria e Turismo de Portugal, tinham dirigido à Eurest: este processo de despedimento colectivo foi «ilegal».

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Intensifica-se a luta para travar despedimentos na Eurest

Foi convocada uma greve para a próxima segunda-feira, pelo Sindicato da Hotelaria do Norte, para a cantina da escola EB1 Augusto Lessa, no Porto, para contestar o despedimento colectivo em curso.

CréditosJosé Coelho / Lusa

Os trabalhadores da Eurest, que exercem a sua actividade profissional na cantina da escola EB1 Augusto Lessa, no Porto, vão recorrer à greve, na próxima segunda-feira, contra o despedimento colectivo promovido recentemente pela Eurest de 146 trabalhadores.

Um comunicado divulgado pelo Sindicato da Hotelaria do Norte (CGTP-IN) acrescenta que esta paralisação se assume igualmente como uma expressão de solidariedade para com uma das trabalhadoras afectadas pelo despedimento, cujo posto de trabalho era na cantina do Cerco do Porto do IEFP, mas que tinha sido transferida para esta unidade.

«A trabalhadora é necessária nos dois postos de trabalho, mas, mesmo assim, foi incluída no despedimento colectivo», pode ler-se na nota.

A organização sindical lembra que a Eurest tem um volume de negócios superior a 100 milhões de euros anualmente, com milhões de lucros todos os anos, e recebeu apoios do Estado neste período de pandemia.

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Comportamento da Eurest é «inaceitável e escandaloso»

Questionando o Governo sobre o despedimento colectivo anunciado, o PCP lembra que apresentou propostas para proibir os despedimentos. Esta nova situação «confirma a urgência de medidas» que os travem.

Imagem de arquivo Créditos / fesaht

No Dia Internacional da Mulher, a Eurest anunciou o despedimento colectivo de 146 trabalhadores, 141 dos quais são mulheres, depois do que já realizara em Novembro do ano passado.

Segundo o comunicado emitido pela Federação dos Sindicatos da Agricultura, Alimentação, Bebidas, Hotelaria e Turismo de Portugal (Fesaht/CGTP-IN), a Eurest «tem um volume de negócios superior a 100 milhões de euros anualmente, dá milhões de lucros todos os anos» e «recebeu e continua a receber apoios do Estado neste período de pandemia».

Neste sentido, afirmam os comunistas, é «absolutamente inaceitável que a Eurest volte a despedir, especialmente considerando os lucros acumulados ao longo de largos anos no País».

«Em 2020 – explica o PCP –, a empresa recorreu ao lay off simplificado e logo depois despediu 122 trabalhadores, ou seja, recebeu dinheiros da Segurança Social, empurrou 122 trabalhadores para o desemprego e agora pretende despedir mais 146 trabalhadores».

O comportamento desta entidade patronal é classificado como «inaceitável e escandaloso» pelos comunistas, cujo grupo parlamentar então questionou o Governo sobre esse despedimento colectivo, tendo o Governo respondido que iria comunicar a situação à Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT).

Urge travar os despedimentos e valorizar os trabalhadores

Os comunistas lembram que têm «defendido e apresentado propostas no sentido da proibição dos despedimentos», sublinhando que «este novo comportamento confirma a urgência de medidas» que efectivamente os travem.

Num contexto de «acelerado crescimento do desemprego e do claro aproveitamento por parte do grande patronato» para «manter intocáveis os seus lucros, descartando os seus trabalhadores, importa defender os postos de trabalho e travar os despedimentos», afirma-se no texto.

Para os comunistas, a garantia da «dignidade na vida dos trabalhadores» e do «desenvolvimento do País, incluindo a tão necessária retoma económica», passa pela «defesa do emprego com direitos, dos postos de trabalho, dos salários por inteiro para os trabalhadores».

Repudiando a decisão dos despedimentos e manifestando solidariedade aos trabalhadores, o PCP pergunta ao Governo quando teve conhecimento da intenção da Eurest de proceder ao novo despedimento colectivo e que acções desenvolveu perante a comunicação da empresa; como avalia o comportamento de uma empresa que, em menos de seis meses, faz dois despedimentos colectivos, atirando para o desemprego 262 trabalhadores, 238 das quais mulheres; e que medidas pretende o Executivo tomar para defender os postos de trabalho.

Questiona igualmente o Governo sobre o valor dos apoios atribuídos pelo Estado à Eurest desde Janeiro de 2020 até hoje; sobre o valor recebido pela empresa no âmbito dos mecanismos de lay off; se a empresa recebeu algum valor ao abrigo do apoio extraordinário à retoma progressiva de actividade; e que medidas o Governo vai tomar face a esta situação.

São ainda colocadas várias questões relativas ao anterior despedimento colectivo, ao modo como o Governo o acompanhou, às acções que pretende tomar e às acções desenvolvidas pela ACT.

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Assim, segundo o sindicato, «não há nenhum motivo» para a empresa recorrer a despedimentos colectivos, uma vez que a Covid-19 é um fenómeno «temporário e circunstancial». «Não há mais nenhuma empresa do sector das cantinas e refeitórios que tenha recorrido a despedimentos colectivos», afirma a organização.

«Não tem qualquer fundamento uma empresa que desenvolve a sua atividade concorrendo a concursos públicos para explorar serviços de refeições fazer despedimentos colectivos pois, se entender que o caderno de encargos não é viável, basta não concorrer», acrescenta.

Por outro lado, a empresa despede e contrata de imediato trabalhadores a termo, directamente ou através de empresas de trabalho temporário, para os mesmos postos de trabalho, o que demonstra que «precisa dos trabalhadores».

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Atendendo ao facto de que a «Eurest tem um volume de negócios superior a 100 milhões de euros anuais, dá milhões de euros de lucro todos os anos, e que recebeu apoios do Estado neste período de pandemia», nenhum motivo poderia justificar a decisão da empresa de avançar com o despedimento colectivo.

«Os motivos alegados pela empresa não eram verdadeiros, nem a covid-19 pode ser motivo para despedir», afirma o comunicado divulgado ao AbrilAbril pelo SHN.

A Eurest ainda tentou evitar a contestação ao despedimento colectivo aumentando as indemnizações atribuídas aos trabalhadores que impugnaram o processo no Tribunal do Trabalho, mas nem assim conseguiu impedir que a trabalhadora mantivesse a exigência de «reintegração nos quadros da empresa».

«Firme e determinada na defesa dos seus direitos como trabalhadora e com o apoio incondicional do seu sindicato», Joana de Jesus faz, novamente, parte dos quadros da Eurest, «com todos os direitos e regalias, incluindo a antiguidade», tendo voltado a exercer as suas funções na passada sexta-feira, dia 1 de Outubro.

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Mais de 90% dos trabalhadores nas cantinas são precários, expostos diariamente a «ritmos de trabalho muito intensos», sendo que muitos destes «trabalhadores não estão classificados de acordo com as funções que exercem». Nos últimos anos, alerta o SHN, «a Eurest deixou de ter encarregados e despenseiros, mesmo em cantinas que confeccionam ou servem um número elevado de refeições, violando as normas do CCT aplicável».

«Os trabalhadores não são valorizados na sua carreira e estão estagnados nas categorias profissionais em que foram contratados, pois não existe progressão na carreira».

O objectivo da Eurest, ao recusar realizar uma reunião com o sindicato (copiando as práticas da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal, AHRESP), é manter a situação tal como ela está: amealhando milhões de euros de lucros preservando, ao mesmo tempo, as situações limite de instabilidade, precariedade e pobreza que impingem aos trabalhadores.

A greve de amanhã, 3 de Junho, com concentração às 9h, em frente à Câmara Municipal do Porto, tem como objectivo reivindicar a «contratação directa de todos os trabalhadores pela Eurest, sem qualquer recurso a empresas de trabalho temporário», a entrada no quadro «de todos os trabalhadores contratados a termo» (com a excepão daqueles que estão a subsituir funcionários de baixa) e o estabelecimento de um horário mínimo semanal.

Os trabalhadores pretendem ainda um aumento salarial de 100 euros para os funcionários com a categoria de cozinheira e de 50 euros para os demais trabalhadores e, entre outras exigências, a contratação de mais funcionários e o fornecimento de calçado e fardamento adequado às funções.

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