Enquanto o Governo fala em «imigração descontrolada», os números mostram o contrário: sem imigrantes, a economia portuguesa teria estagnado. Entre 2014 e 2024, mais de metade do crescimento do PIB veio do aumento do emprego, impulsionado pela chegada de trabalhadores estrangeiros. O capital pouco contribuiu para o crescimento e a produtividade só recuperou depois da pandemia. Em Portugal e Espanha, foram os imigrantes que mantiveram a economia viva, pagaram impostos e ajudaram a sustentar o Estado social. Fingir o contrário é ceder ao populismo e ao discurso do ódio que hoje contamina Portugal e a Europa.
Com a entrada de centenas de milhares de imigrantes na Europa, instalou-se uma tentativa deliberada de intoxicar a opinião pública, criando um clima artificial de medo e insegurança. Portugal não foge à regra: o atual Governo PSD/CDS tenta restringir a entrada de imigrantes, dando a entender que o país viveu um caos com a «entrada descontrolada» de estrangeiros. Essa moda não é original. Vem de fora, e há sempre quem, cá dentro, queira imitar o que de pior se faz lá fora. Este discurso acaba, num efeito de ricochete, por contaminar a ação dos governos, que pactuam com uma direita populista e xenófoba promovida até à exaustão pela comunicação social dominante.
Mas os números não mentem. Uma análise objetiva da economia mostra uma realidade bem diferente. A chamada «imigração descontrolada» tem sido, ao longo da última década, o verdadeiro motor do crescimento económico em Portugal, tal como em Espanha, onde a população migrante ultrapassa os dez milhões de pessoas. Há três formas de aumentar a produção e alimentar o crescimento: aumentar o fator trabalho, investir mais em equipamento ou aumentar a produtividade.
«Em vez de diabolizar a imigração e dificultar a sua entrada ou regularização, o Governo deveria reconhecer e agradecer o contributo dos imigrantes para o crescimento económico, para o equilíbrio das contas públicas e para a vitalidade demográfica do país.»
Entre 2014 e 2024, conforme pode ser visto na Figura 1, Portugal e Espanha cresceram ambos cerca de 20% em termos reais. A decomposição do crescimento revela que o fator trabalho, ou seja, o aumento da população ativa, foi responsável em Portugal por 11%, enquanto o capital contribuiu apenas 1,7% e a produtividade cerca de 9,3%. Em Espanha, o padrão é ainda mais claro: 13,4% do crescimento veio do trabalho, 3,8% do capital e 5,2% da produtividade. Ou seja, mais de metade do crescimento económico (60% em Espanha) deve-se exclusivamente ao fator trabalho cujo aumento está diretamente ligado à vinda de imigrantes.
Em vez de diabolizar a imigração e dificultar a sua entrada ou regularização, o Governo deveria reconhecer e agradecer o contributo dos imigrantes para o crescimento económico, para o equilíbrio das contas públicas e para a vitalidade demográfica do país. São milhões de pessoas que trabalham, produzem, pagam impostos e ajudam a sustentar um Estado social de que todos beneficiamos. A extrema-direita precisa de inimigos imaginários. A economia precisa de trabalhadores reais.
É tempo de escolher: ou seguimos o caminho do populismo, do medo e da mentira, ou valorizamos quem todos os dias faz o país andar para a frente: os trabalhadores, independentemente da sua nacionalidade!
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