Seguindo a velha máxima de Emídio Rangel que defendia que uma televisão deveria vender presidentes como sabonetes, a SIC Notícia prepara-se para cumprir o mote e irá vender a guerra como sabonetes. Sem que nada o justifique, a estação televisiva de Pinto Balsemão irá realizar uma emissão especial onde na qual procurará dar expressão a todos aqueles que defendem o caminho da guerra e nele têm interesses.
Com o título «A nova Defesa», porque «o cenário mundial assim o exige», a SIC Notícias, terá uma emissão dedicada ao belicismo esta segunda-feira e, para isso, conta com o apoio da Lockheed Martin, uma das principais empresas mundiais do sector armamentista. No total serão sete momentos que procurarão dar cobro à deriva militarista que se faz sentir na Europa de forma a convencer os espectadores que tal é uma necessidade.
Se o primeiro painel é meramente uma sessão de boas-vindas com Francisco Pedro Balsemão, administrador do Grupo Impresa, e Isaltino Morais, presidente da Câmara Municipal de Oeiras, que apoia o evento, os restantes paineis são momentos de doutrinação.
Às 18h15 o painel «As armas de que precisamos» terá como orador único Nuno Rogeiro, comentador SIC Notícias e uma das principais fontes de desinformação e criação de narrativas de pós-verdade da estação de Paço de Arcos. De seguida, às 18h35 irá decorrer o painel «As guerras que aí vêm», também ele somente com um orador, o Major-General João Vieira Borges, professor de Estratégia e Relações Internacionais, sócio efectivo da Sociedade de Geografia de Lisboa, instituição criada para apoiar cientificamente os propósitos colonialistas, e sócio da Sociedade Histórica da Independência de Portugal, entidade que manteve estreitos laços com a monarquia portuguesa e o fascismo.
Um dos momentos centrais é o painel «As novas prioridades», às 18h50, com o primeiro-ministro, Luís Montenegro, que procurará justificar o investimento na «Defesa» em detrimento das funções sociais do Estado. De seguida, às 19h30, terá a palavra o director-geral da AED Cluster Portugal, «plataforma dinamizadora e agregadora dos sectores da Aeronáutica, Espaço e Defesa», num painel intitulado «Investir, inovar, defender», uma sessão de lobby a céu aberto.
O grande «debate» será às 19h30 e para discutir sem discordar estará Sérgio Barbedo, country director da Thales; Frederico Lemos, Global Chief Commercial Officer da Embraer Defense; Duarte Schmidt Lino, da PLMJ; Ricardo Mendes, CEO da Tekever; Jeffrey Harrigian, vice-presidente de campanhas estratégicas da Lockheed Martin Aeronautics Company; e Emir Sirage, director da New Space Portugal. Neste painel, os oradores tentarão explicar a quem não tem acesso a saúde, educação ou habitação que é importante que o investimento para os serviços públicos seja canalizado para financiar os interesses de quem lucra com a guerra e a morte.
«O MPPM condena resolutamente a realização deste evento»
Quem já condenou o evento foi o Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente (MPPM). Num comunicado enviado à comunicação social, o movimento condena veementemente a participação do primeiro-ministro, Luís Montenegro, não só pelo tema como pelo facto do evento ser patrocinado por empresas da indústria de armamento, incluindo a norte-americana Lockheed Martin.
Para o MPPM, a participação do primeiro-ministro «reveste-se de uma extrema gravidade e configura um acto objectivo de cumplicidade com os crimes de guerra, crimes contra a humanidade e o crime de genocídio praticados por Israel». O mesmos relembram que o relatório que a relatora especial das Nações Unidas para os Territórios Palestinos Ocupados, Francesca Albanese, apresentou à 59ª sessão Conselho dos Direitos Humanos, denuncia várias entidades empresariais por promoverem a ocupação israelita da Palestina.
Entre essas empresas, recorda o MPPM, está a Lockheed Martin, empresa que fornece material de guerra a Israel e que, desta forma, patrocina o genocídio em curso na Faixa de Gaza que já vitimou mais de 60000 pessoas, na sua larga maioria crianças e mulheres. No comunicado, o movimento relembra que «nem a dita empresa faz qualquer segredo dessa associação, antes a promove como marca de prestígio».
A par da condenação da participação do primeiro-ministro num evento patrocinado por uma empresas «profundamente envolvida nos crimes cometidos contra o povo palestino», o MPPM salienta ainda que a presença do chefe do Exexutivo «envergonha Portugal e adensa preocupações quanto ao envolvimento eventual de Portugal em negócios que, de forma directa ou indirecta, comprometam Portugal com os crimes de Israel».
O comunicado finda com o movimento a exigir que o Governo reconheça de imediato o Estado da Palestina e reclama a suspensão de toda a colaboração no domínio militar e de segurança entre Portugal e Israel, assim como a suspensão do acordo de associação UE-Israel.
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