Foi na presença da embaixadora da Palestina em Portugal, Rawan Sulaiman, que decorreu o debate agendado pelo PCP para o reconhecimento do Estado da Palestina. A este propósito, aos comunistas juntaram-se o Bloco de Esquerda, Livre, PAN e PS.
Ainda que, à esquerda, alguns partidos só agora tenham acordado para o problema, a situação de urgência exige medidas urgentes que passam pelo reconhecimento do Estado da Palestina, à direita não se pode dizer o mesmo. Chega, Iniciativa Liberal, PSD e CDS-PP, cada um à sua maneira, ignoram o que está em causa e o genocídio em curso perpretado por Israel.
Não deixa de ser caricato que, mais à frente no plenário, sobre a violência obstétrica, o Chega se tenha auto-intitulado como «partido pró-vida». Este título auto-atribuído dilui-se quando se fala da vida de palestinianos.
O pontapé de saída foi dado por Paulo Raimundo. O secretário-geral do PCP pautou a sua intervenção pela exposição da situação e a hipocrisia que reina na narrativa da direita. Considerando que os entraves para o reconhecimento da Palestina estão assentes em «duas falácias», ou seja, que esta «deve estar dependente da União Europeia» e que «o reconhecimento de um estado deve estar condicionado a opções» impostas por outros, o que revela «uma clara confusão entre reconhecimento, ingerência e colonialismo», Paulo Raimundo entende que «chegámos a um momento onde não há mais espaço para manobristas».
«Ou o Governo português continua com as mãos manchadas de sangue, conivente com o brutal desrespeito dos direitos humanos e do direito internacional por parte de Israel e sua criminosa política de agressão, ocupação e colonização com o apoio político e militar, quer dos EUA, quer da União Europeia, ou dá um forte sinal político reconhecendo o Estado da Palestina», vincou o secretário-geral comunista.
No mesmo sentido, Mariana Mortágua, do Bloco de Esquerda, acusou quem justifica e finge não vêr o genocídio de ser «cúmplice», mesmo que o façam «por obediência e não convicção».
Pelo Livre, Jorge Pinto relembrou que o que se passa com a Palestina é semelhante ao genocídio em Timor-Leste, promovido pela Indonésia. «Há uma linha muito clara que limita, na Palestina, entre a decência e barbárie, entre o direito internacional e a lei do mais forte», relembrado que «a Palestina é o coração da humanidade».
O PAN também vincou estar ao lado da Palestina, invocando que, segundo a Unicef, desde Outubro de 2023, mais de 50 mil crianças foram mortas ou feridas e há mais crianças privadas de água, comida e ajuda humanitária. «O que se passa [na Palestina] é um inferno», afirmou a deputada única, Inês Sousa Real.
Já o PS, que nem sempre esteve no lado da humanidade, tendo já tido oportunidades bastantes para reconhecer a Palestina como Estado enquanto era governo, desta vez exigiu o elementar. Acusando a comunidade internacional de ser «impotente» face ao que se está a passar, o Partido Socialista propôs que se mobilizem acções junto das instituições da União Europeia para o reconhecimento do Estado palestiniano.
Direito opõe-se, em bloco, ao direito de autodeterminação do povo palestiniano
Em sentido diametralmente oposto, toda a direita insiste em manter Portugal isolado internacionalmente, cúmplice da morte de milhares de homens, mulheres e crianças. Com os velhos argumentos que procuram alterar a realidade e impedir o povo palestiniano de escolher livremente os seus destinos, Chega, Iniciativa Liberal, PSD e CDS-PP foram as forças de bloqueio que continuam a mandar a imagem de Portugal para a lama.
Para o Chega, a proposta do PCP para o reconhecimento do Estado da Palestina «é um escândalo moral». Segundo a extrema-direita, Israel tem toda a razão no massacre de dezenas de milhares de civis, circunscrevendo este acto de genocídio ao dia 7 de Outubro de 2023. No fundo, para o partido de Ventura, o sionismo é a verdadeira vítima no meio disto tudo.
O PSD diz que tem incentivado o Governo a uma posição «equilibrada» e que defende uma solução de dois Estados mas, assim como o Chega, usa o Hamas e a narrativa criada por Israel para evitar o reconhecimento do Estado da Palestina. Ignorando que a Faixa de Gaza é controlada por Israel, o partido de Luís Montenegro acenou com o espantalho do Hamas para negar a solução mais básica para combater o genocídio. No mesmo sentido está a Iniciativa Liberal que, fingindo preocupações, invocou problemas jurídicos para o reconhecimento da Palestina.
A pior intervenção acabou mesmo por ser protagonizada por João Almeida, do CDS-PP, que conseguiu alterar a origem das mortes. De acordo com o deputado, os assassinatos de palestinianos que vão em busca de ajuda humanitária e que são comprovadamente realizados pelo exército israelita são, afinal, realizados pelo Hamas. Um acto de negacionismo puro.
No final do debate, o reconhecimento do Estado da Palestina foi chumbado por toda a direita, sendo que no caso da proposta do PCP, também o PS se absteve.
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