»Perante estes resultados, qual a razão para o despedimento de 54 trabalhadores», questiona a União dos Sindicatos de Setúbal (USS/CGTP-IN), em comunicado enviado ao AbrilAbril. A Navigator, no ano de 2024, teve lucros de 287 milhões de euros, tendo já anunciado resultados de 48,3 milhões no primeiro trimestre de 2025. A estes valores, acresce os perto de 75 milhões de euros que a empresa recebeu de fundos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
Os sindicatos que integram a USS só identificam uma razão para estes 54 trabalhadores de Setúbal e da Figueira da Foz serem visados por estas pressões do patronato: «o facto de não se calarem ao que a administração da Navigator faz», reivindicarem «aumentos de salário», falarem e participarem nos plenários ou «decidirem fazer greve». «Estas são as verdadeiras razões que levam a administração a perseguir os trabalhadores em questão, é este o traço transversal que marca estes trabalhadores».
A Navigator é, muitas vezes, exaltada como um exemplo por parte das forças políticas de direita e extrema-direita. No contexto das eleições legislativas de 2024, Rui Rocha, presidente da Iniciativa Liberal, considerou, à margem de uma visita à fábrica de Setúbal (onde só falou com o patronato), que «são exemplos destes [da gestão da Navigator] que precisamos de multiplicar».
«Uma empresa que é dada como exemplo», defende a USS, devia também ser «uma empresa que fosse dada como exemplo do exercício democrático onde o direito á reunião e reivindicação fosse exercido por todos sem ser pressionado por quem tem o poder disciplinar». Estes comportamentos, a tentativa de despedir trabalhadores por exercerem os seus direitos democráticos e constitucionais, são coisas do «tempo da outra senhora», afirmam os sindicatos, de um tempo «em que a democracia não existia e quem falava era penalizado».
A empresa, que acumula, há vários anos, lucros de muitas centenas de milhões, aplicou aumentos salariais de 0,9% em 2024.
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