Na sexta-feira passada, Javier Milei já tinha anunciado, no Congresso, que o seu governo ia avançar para a agência pública de notícias Télam, argumentando que a entidade «foi utilizada nas últimas décadas como agência de propaganda kirchnerista».
Na madrugada de segunda-feira, o portal da Télam deixou de funcionar – quando se tenta aceder, aparece um escudo da Argentina e a informação «Página em reconstrução» – e os trabalhadores, que deixaram de poder entrar no edifício-sede da redacção, cercado com vedações, receberam um e-mail a informá-los da dispensa do cumprimento das suas tarefas, no prazo de sete dias, indica o diário Página 12.
De acordo com a fonte, o governo de Milei antecipou-se, desta forma, à mobilização que os trabalhadores da agência haviam anunciado para ontem, junto ao edifício-sede, em Buenos Aires, logo após o anúncio de encerramento.
Ainda assim, centenas de pessoas a título individual e em representação de sindicatos, partidos políticos e organizações sociais concentraram-se, ontem à tarde, frente às instalações da Télam, «num massivo abraço» aos seus trabalhadores, em defesa da agência pública, que em Abril cumpre 79 anos de existência, e dos serviços públicos e da liberdade de expressão.
Em conjunto, a assembleia de trabalhadores da Télam e o Sindicato de Imprensa de Buenos Aires (SiPreBa) denunciaram o «ataque à liberdade de expressão», na rede social Twitter (X). «Cercam um meio público, Télam, em plena meia-noite. O governo nacional está a levar a cabo um dos piores ataques à liberdade de expressão nos últimos 40 anos de democracia», afirmaram.
«Esta noite, polícia da cidade cercou os dois edifícios da Agencia Nacional de noticias y publicidad Télam, para evitar o massivo abraço e impedir o acesso ao edifício de trabalhadores e trabalhadoras da imprensa», acrescentam.
Também a organização Mães da Praça de Maio se solidarizou com os 700 trabalhadores da Télam. «Atacar a liberdade de expressão é atacar a democracia. Nem um passo atrás!», afirmaram.
Da mesma forma, o Centro de Estudios Legales y Sociales denunciou a operação policial iniciada à meia-noite de domingo, sublinhando que afecta o direito à informação.
Desde que foi conhecida a intenção de Milei de encerrar a Télam, deputados progressistas e de esquerda condenaram a medida, tal como diversas centrais sindicais – CGT, ATE, CTA e CTA Autónoma –, alertando para o ataque à liberdade de expressão e informação.
Por seu lado, a secretária-geral da Federação Argentina de Trabalhadores da Imprensa (Fatpren), Carla Gaudensi, condenou o anuncio do presidente Milei e afirmou, na sua conta de Twitter, que a agência será defendida não só pelos seus trabalhadores, mas também por todo o povo argentino.
A Associação de Correspondentes Estrangeiros e jornalistas acreditados na Casa Rosada (sede da Presidência argentina) também manifestaram o seu desacordo com a medida e, segundo refere a TeleSur, durante a conferência de imprensa do porta-voz da presidência, Manuel Adorni, alguns deles criticaram a eliminação do acesso dos cidadãos à grande quantidade de material audiovisual da Télam.
Em 2018, o governo de Mauricio Macri não chegou a ir tão longe quanto Milei agora, mas procedeu a uma «limpeza» razoável, despedindo 357 trabalhadores – muitos dos quais seriam depois reintegrados pela Justiça – e referindo-se a uma «sobrepopulação».
«O que avança neste governo é a censura e o autoritarismo. Acompanhamos os trabalhadores. Defender os meios públicos é defender a democracia», afirmou a deputada Paula Penacca, da União pela Pátria.
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