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SIC, patrocinadora oficial da direita revanchista

A estação de televisão de Pinto Balsemão anunciou um novo programa, o Linhas Direitas, que pretende «reflectir o novo xadrez parlamentar», mas só com representantes do PSD, Chega e Iniciativa Liberal, trazendo à luz o seu projecto ideológico.

As eleições legislativas do dia 4 de Outubro de 2015 ditaram que PS, Bloco de Esquerda e a CDU alcançavam 122 deputados. Com este resultado, os partidos de esquerda com assento parlamentar na Assembleia da República alcançaram uma maioria e, por este motivo, conseguiram inviabilizar um novo governo PSD/CDS-PP. 

A esquerda, maioritária, conseguia assim derrotar o governo de maioria absoluta que foi além da Troika, que promoveu cortes e privatizações e que só não foi mais longe na política de ataques porque o Tribunal Constitucional não permitiu. Com o resultado dessas eleições, mesmo com as dificuldades colocadas pelo então Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, o PS, mesmo não tendo uma maioria relativa, formou governo e fechou acordos de incidência parlamentar. 

O mote tinha sido dado pela CDU, ao qual o Bloco de Esquerda se juntou. Foi possível, com a correlação de forças existente e com a luta nas ruas, forçar o PS a reverter a política levada a cabo por Passos Coelho e Paulo Portas. Um novo xadrez político surgiu e a solução política encontrada garantiu toda a estabilidade. 

Dez anos volvidos, a situação política alterou-se radicalmente. A esquerda nunca foi perdoada por ter metido um travão na política de saque que a direita estava a realizar, a mais agressiva política de empobrecimento mais agressiva e radical em democracia. A fome, o desemprego, a emigração eram uma realidade.

Quem queria ver o aprofundamento dessa política usou tudo ao seu alcance para alterar a correlação de forças existente e a situação que hoje vivemos é reflexo de um plano cuidadosamente delineado para regressar aos tempos da troika. 

A direita criou novos partidos, herdeiros do PSD, perdeu o medo de revelar a sua verdadeira cara, desenvolveu mecanismos de massificação e difusão da sua mensagem e desinformação e, para isto tudo, teve o fiel apoio dos órgãos de comunicação social associados e controlados pelos centros de decisão do grande capital. 

Veja-se o tempo de antena dado ao Chega, a ausência de crítica à Iniciativa Liberal, a composição dos painéis de comentário político, a forma como a esquerda à esquerda do PS mal tem tempo de antena e a forma como a pós-verdade, o racismo e a xenofobia circulam livremente e sem contraditório.

Em 2015, havia um novo xadrez político, uma solução política nunca colocada em prática em Portugal, mas isso não mereceu acolhimento na comunicação social, apenas combate. Hoje, AD, Chega e Iniciativa Liberal contam com 160 deputados e o PS foi relegado para terceira força política. Isto é reflexo de manobras de desestabilização da normalidade democrática, mas também anos de promoção dos mais reacionários projectos existentes em Portugal.  Mas também de décadas de promessas por cumprir, com a consequente degradação das condições de quem cá vive e trabalha.

Entre Outubro de 2019 e Junho de 2024, André Ventura foi entrevistado 61 vezes nas televisões, mais do que Rui Rio e Luís Montenegro juntos. Na contabilização da Marktest, que estabelece o top de protagonistas de notícias televisivas em Janeiro de 2025, André Ventura está em primeiro lugar com 5 horas, 22 minutos e 46 de tempo de antena. Para se ter uma ideia, Paulo Raimundo está em décimo com 1 hora, 40 minutos e 7 segundos, atrás de Bruno Lage e Rui Borges, treinadores de futebol. 

Talvez o coroar desta operação seja o novo programa da SIC chamado Linhas Direitas que procura «reflectir o novo xadrez parlamentar», dando um espaço semanal de comentário ao PSD, com Miguel Morgado; ao Chega, com Cristina Rodrigues; e à Iniciativa Liberal, com Carlos Guimarães Pinto.  Veja-se que em sentido contrário, a título de exemplo, Catarina Martins do Bloco de Esquerda, que comentava no programa Linhas Vermelhas, ficou sem o seu espaço de comentário.

Em 2015, quando se alcançou uma solução de Governo única e, como tal, havia um «novo xadrez político», a estação não se preocupou em reflectir o que se passava. Em 2025, demonstrando ao que vem, a SIC dá agora espaço aos partidos que pretendem a subversão da Constituição da República Portuguesa, cumprindo o velho objectivo de Pinto Balsemão, um dos protagonistas de uma revisão constitucional de 82.

A SIC procura criar um espaço totalmente dominado pela direita, um espaço em que a sua mensagem não será questionada, onde o seu projecto pode ser explanado sem qualquer entrave ou combate. O canal do Pinto Balsemão nunca escondeu ao que veio e demonstra-o cada vez mais, sem pudor. 

Urge cada vez mais um outro lado das notícias. 
 

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