De 58 albufeiras que são monitorizadas pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA)/Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos (SNIRGH) apenas em três casos havia disponibilidades hídricas à volta de 80% do volume total e 32 tinham disponibilidades inferiores a 40% do volume total (ver Figura 1).
Com excepção da bacia do Arade, os armazenamentos no final de Setembro de 2022, por bacia hidrográfica, são, em média, inferiores aos dos períodos homólogos anteriores (1990/91 a 2020/21).
Portanto, quanto a saber se a «situação de seca» está normalizada com a precipitação que já ocorreu, a resposta terá de ser negativa, mesmo considerando os desenvolvimentos verificados até ao final do mês de Outubro.
Referir «seca» entre aspas justifica-se com o facto de, desde finais de 2021, apesar de ter havido menor precipitação e condições de estiagem relevantes, os baixíssimos níveis hídricos em algumas das albufeiras com aproveitamentos hidroeléctricos estarem muito relacionados com a incorrecta gestão da água para produção de electricidade.
No armazenamento das principais albufeiras com produção de energia eléctrica, os valores mantêm-se ainda muito baixos comparativamente aos valores médio e mínimo verificados nos últimos 10 anos para o mesmo período (Ver Figura 2).
As decisões no domínio em análise são hoje ditadas pelo mercado grossista de electricidade, ou seja, pelo interesse da obtenção de lucros privados, e não por um despacho nacional que zele pelos interesses comuns, designadamente no que toca aos outros usos vitais da água.
De facto, arrastou-se durante muito tempo a produção de hidroelectricidade devido a diversos factores: não existência de produção térmica a carvão, ganância de lucro devido aos altos preços no mercado grossista e, também, em alguns períodos, ao facto de a produção eólica ter sido muito reduzida (por vezes menos de 5% da potência instalada esteve em aproveitamento).
A propósito do tema aqui tratado, trazer à colação o facto de a energia hídrica ter representado apenas 11,8% da electricidade consumida no 2.º trimestre de 2022. Neste período poderá verificar-se que se utilizou o carvão e o nuclear como fontes, respectivamente, de 2 e 7,8% da electricidade que foi consumida. As fontes eólica e fotovoltaica valeram 8,3% e abaixo de 4,9%, por esta ordem (ver Figura 3).
O gás natural foi utilizado para suprir 57,6% das necessidades. Notar que, obviamente, a indicação desta distribuição por fontes não diz respeito apenas à produção em Portugal, porque a quantidade de electricidade importada no período foi muito elevada (à volta de 30%). E continua sendo.
E é assim que vamos: ainda com pouca água nas barragens, mas com muito lucros nos bolsos das empresas energéticas.
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