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Seca: pouca água e muito lucro

Comparando a situação existente em Outubro com a do último dia de Agosto de 2022, verificava-se um aumento do volume armazenado em duas das bacias e uma descida nas dez bacias hidrográficas restantes.

Créditos / Indústria e Ambiente

De 58 albufeiras que são monitorizadas pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA)/Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos (SNIRGH) apenas em três casos havia disponibilidades hídricas à volta de 80% do volume total e 32 tinham disponibilidades inferiores a 40% do volume total (ver Figura 1).

(Figura 1) - Fonte: APA/SNIRH

Com excepção da bacia do Arade, os armazenamentos no final de Setembro de 2022, por bacia hidrográfica, são, em média, inferiores aos dos períodos homólogos anteriores (1990/91 a 2020/21).

Portanto, quanto a saber se a «situação de seca» está normalizada com a precipitação que já ocorreu, a resposta terá de ser negativa, mesmo considerando os desenvolvimentos verificados até ao final do mês de Outubro.

Referir «seca» entre aspas justifica-se com o facto de, desde finais de 2021, apesar de ter havido menor precipitação e condições de estiagem relevantes, os baixíssimos níveis hídricos em algumas das albufeiras com aproveitamentos hidroeléctricos estarem muito relacionados com a incorrecta gestão da água para produção de electricidade. 

No armazenamento das principais albufeiras com produção de energia eléctrica, os valores mantêm-se ainda muito baixos comparativamente aos valores médio e mínimo verificados nos últimos 10 anos para o mesmo período (Ver Figura 2).

As decisões no domínio em análise são hoje ditadas pelo mercado grossista de electricidade, ou seja, pelo interesse da obtenção de lucros privados, e não por um despacho nacional que zele pelos interesses comuns, designadamente no que toca aos outros usos vitais da água.

(Figura 2) Fonte: EEGO (Entidade Emissora de Garantias de Origem) 

De facto, arrastou-se durante muito tempo a produção de hidroelectricidade devido a diversos factores: não existência de produção térmica a carvão, ganância de lucro devido aos altos preços no mercado grossista e, também, em alguns períodos, ao facto de a produção eólica ter sido muito reduzida (por vezes menos de 5% da potência instalada esteve em aproveitamento).

A propósito do tema aqui tratado, trazer à colação o facto de a energia hídrica ter representado apenas 11,8% da electricidade consumida no 2.º trimestre de 2022. Neste período poderá verificar-se que se utilizou o carvão e o nuclear como fontes, respectivamente, de 2 e 7,8% da electricidade que foi consumida. As fontes eólica e fotovoltaica valeram 8,3% e abaixo de 4,9%, por esta ordem (ver Figura 3).

O gás natural foi utilizado para suprir 57,6% das necessidades. Notar que, obviamente, a indicação desta distribuição por fontes não diz respeito apenas à produção em Portugal, porque a quantidade de electricidade importada no período foi muito elevada (à volta de 30%). E continua sendo.  

(Figura 3) Fonte: SU Electricidade 

E é assim que vamos: ainda com pouca água nas barragens, mas com muito lucros nos bolsos das empresas energéticas.  

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