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Mulher demora a ser atentida por falta de vagas e perde o bebé

Uma mulher com gravidez de risco perdeu o bebé esta madrugada. Residente no Barreiro, foi atendida em Cascais, pelo menos hora e meia depois de pedir socorro. PCP aponta responsabilidades políticas. 

Créditos / Exame

Segundo notícia avançada pela RTP, uma mulher de 38 anos, grávida de 31 semanas e com uma hemorragia, tentou contactar a linha SNS24, conforme exige o Governo de Luís Montenegro desde meados de 2024 mas não teve retorno. Entretanto, as urgências de obstetrícia da Margem Sul estariam encerradas, realidade com que os utentes vêm estando confrontados. O Público cita um comunicado do Ministério da Saúde, que recusa relacionar a perda do bebé com o encerramento das urgências, mas que «acaba por reconhecer que, "dado que era uma gravidez de 31 semanas, pré-termo, houve necessidade de encaminhar a utente para um hospital com apoio perinatal diferenciado (neonatologia)".» 

Segundo esclarecimento enviado ao diário pelo Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), «até às 2h48, o CODU ​[Centro de Orientação de Doentes Urgentes] tentou localizar a urgência obstétrica com capacidade, tendo contactado o Hospital de Setúbal, Santa Maria e MAC [Maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa], que informaram não receber a utente por não disporem de vagas de neonatologia. Já o Hospital Garcia de Orta, em Almada, com serviço de neonatologia, tinha a urgência encerrada por falta de médicos para completar as escalas. Um problema para o qual a Federação Nacional dos Médicos (FNAM) tem vindo a alertar

A utente foi então referenciada para o Hospital de Cascais, que não apresentava constrangimentos». De onde se conclui que foi a falta de vagas em hospitais próximos da área de residência desta grávida a potenciar o trágico desfecho.

«Situação insustentável» 

Esta é a segunda morte no espaço de pouco tempo. No dia 23 de Junho, uma mulher, grávida de 40 semanas, após duas semanas de queixas com dores abdominais e de deslocação a vários hospitais da Grande Lisboa, acabaria por perder a bebé. Para os comunistas, independentemente do eventual apuramento de responsabilidades técnicas, «a responsabilidade é do Governo e da sua política que deliberadamente coloca em risco as mulheres, as suas gravidezes e as suas crianças». 

Num comunicado divulgado ao fim da tarde desta sexta-feira, o PCP defende que estes casos põem «em evidência a situação insustentável a que a acção do actual Governo e dos anteriores conduziu a obstetrícia» no SNS. «Degradaram as condições de trabalho e remuneração dos médicos em geral e dos obstetras em particular, mesmo sabendo que a obstetrícia, a par da pediatria, era uma das especialidades mais cobiçadas pelo sector privado em que, pelo seu potencial lucrativo, procurariam contratar mais especialistas», lê-se na nota. No entender dos comunistas, a combinação entre «a acção do sector privado e a inacção do Estado» levou a que mais de metade dos médicos especialistas nesta área «estejam hoje fora do SNS, sobrecarregando cada vez mais as equipas que permanecem nos serviços públicos».

A situação é particularmente grave em Lisboa e Vale do Tejo, região onde os grupos económicos da saúde fizeram os seus maiores investimentos e onde se localizaram a maioria das parcerias público-privadas, «que contribuíram também para drenar especialistas para fora do SNS». O PCP critica a «total ausência» de medidas do Governo nesta área, «tal como já tinha acontecido com o Governo PS», salientando que o encerramento de serviços de forma intermitente e a preparação para encerramentos definitivos conduz as grávidas para «uma situação de insegurança e desumanidade». 

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