Os acontecimentos que marcaram Julho de 2013 tiveram início logo no início do mês. No dia 1, o ministro das Finanças, Vítor Gaspar, pediu a demissão através de uma carta em que reconheceu o falhanço de todas as metas económicas e orçamentais, e a sucessão de medidas consideradas inconstitucionais pelo Tribunal Constitucional.
No dia seguinte, o então ministro dos Negócios Estrangeiros e líder do CDS-PP, Paulo Portas, anunciou a sua demissão «irrevogável», em desacordo com a solução decidida pelo primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, para as Finanças: a então secretária de Estado Maria Luís Albuquerque.
A solução para o impasse é encontrada poucos dias depois, com o reforço do peso do CDS-PP e do próprio Portas no Governo: o líder passa a vice-primeiro-ministro e o dirigente António Pires de Lima passa a ocupar a pasta da Economia. Mas a recomposição do Governo tinha de ser aprovada pelo Presidente da República e Cavaco Silva tentou assegurar que a política da troika se mantinha, independentemente do destino eleitoral do PSD e do CDS-PP.
Eleições sem escolha, o desejo de Cavaco
A troco de eventuais eleições antecipadas no início do Verão de 2014, mais de um ano antes do fim da legislatura, exigia que o PS entrasse na coligação de Governo e que os três partidos assumissem o que já tinham feito em 2011, quando assinaram o acordo da troika antes das legislativas: com o voto, os portugueses poderiam escolher políticos mas não políticas, já que estas estavam definidas a priori.
Nas três semanas seguintes, os encontros entre delegações da maioria do PSD e do CDS-PP, e a direcção do PS, liderada por António José Seguro, sucederam-se, sob o olhar atento de um enviado presidencial – David Justino, que hoje é vice-presidente do PSD, num momento em que as convergências com o PS se concretizam.
A tentativa falhou, mas Cavaco voltou a tentar um entendimento entre o PS, o PSD e o CDS-PP, depois das eleições de 4 de Outubro de 2015. O Presidente da República conduziu todo o processo de constituição de governo com um objectivo assumido (e derrotado): amarrar o PS ao essencial do programa da coligação do PSD com o CDS-PP. Recorde-se que, mesmo sabendo que cairia passado poucos dias, Cavaco Silva deu posse a um novo governo liderado por Passos Coelho e com Paulo Portas como vice-primeiro-ministro.
A 23 de Julho de 2013, o PS ficava de fora da tomada de posse dos novos membros do governo. Mas, ainda com António José Seguro, não deixou de dar acordo à chamada reforma do IRC, com que o anterior governo fez baixar os impostos sobre todas as empresas, incluindo os maiores grupos económicos.