Figura conhecida da política portuguesa, Francisco Assis é considerado um peso pesado dentro do PS. O agora cabeça de lista pelo círculo eleitoral do Porto é considerado como o rosto mais vincado da ala direita do PS e nunca fez por descolar-se dessa imagem, antes pelo contrário.
Em 2015, numa altura em que se podia derrotar o projecto de PSD-CDS que ia além da Troika e que se materializava no roubo de rendimentos, ataque a direitos e entrega de tudo e mais alguma coisa ao grande capital estrangeiro, Assis foi vocal ao opor-se a um entendimento à esquerda que pudesse colocar um travão ao caminho que estava a ser seguido pela direita.
Noticiava o Expresso nessa altura que ante a possibilidade de posições conjuntas entre PS e PCP, PS e Os Verdes e PS e Bloco de Esquerda, o ex-presidente do Conselho Económico e Social tinha em marcha uma reunião com militantes do PS de várias zonas do país que discordavam do rumo que estava a ser seguido, por considerar «impensável» e «contranatura» a existência de entendimentos.
Nesta altura Francisco Assim era deputado do PS ao Parlamento Europeu e na qualidade de crítico e oposição interna no PS deu uma entrevista à RTP no programa «A Grande Entrevista» em que assumia frontalmente a sua posição.
Disse então Assis que: «Não há uma esquerda em Portugal. Há várias esquerdas em Portugal”, tendo defendido que há três blocos no Parlamento: o bloco de direita, o bloco de centro-esquerda e um bloco da esquerda mais extremista». O mesmo podia ter ficado por aqui, mas sobre a possibilidades de entendimentos à esquerda complementou com: «é como se uma associação de ateus agora se lembrasse de convidar o papa para fazer parte dessa associação».
Para Assis era tudo simples: «não se pode governar a qualquer preço e de qualquer maneira, porque pagamos um preço grande por isso» e defendia que PSD-CDS deviam formar governo. «A direita apresenta o seu programa de Governo. O PS assume-se como partido de oposição responsável e em cada momento terá de negociar com o Governo a viabilização, ou não, dos instrumentos imprescindíveis para a governação do país», defendeu o grande apoiante de Pedro Nuno Santos.
Ou seja, ante um dos maiores ataques ao povo e aos trabalhadores, Francisco Assis via com total naturalidade manter no governo os protagonistas desse mesmo ataque, por mero preconceito ideológico e por opções políticas bem vincadas.
É certo que muitos poderão alegar que a sua posição mudou, mas a realidade não o indica. Fiel à sua análise moldada por um viés de direita claro, em 2018, numa entrevista ao SOL, quando questionado sobre o facto de Santos Silva defender um novo entendimento à esquerda, Francisco Assim disse ter «uma posição de rejeição desta solução, porque são partidos que têm tais divergências que só podem governar num contexto interno e internacional extremamente favorável. Fora disso é muito difícil. Esta foi sempre a minha tese e não mudei de opinião».
Nesse mesmo ano, já perto de eleições, numa entrevista ao Público, Assim caracterizou a solução governativa encontrada dizendo que a mesma «é como os iogurtes, tem um prazo de validade e a partir daí azeda», e chegou a dizer que estava «convencido que é possível estabelecer entendimentos de fundo» com o PSD de Rui Rio.
Pois bem, Assis foi fiel a si mesmo e nunca mudou de opinião. A questão é que este é o Francisco Assis que ainda ontem encheu Pedro Nuno Santos de elogios. Num almoço-comício no Marco de Canaveses usou os adjectivos «frontalidade», «coragem», «determinação» e «decência» para caracterizar o actual secretário-geral do PS.
Fica então a questão: se Pedro Nuno Santos é vendido mediaticamente como o homem das convergências à esquerda e um dos pais da solução governativa encontrada em 2015, e se Francisco Assis era e é frontalmente contra esse tipo de solução, o que significa realmente os tais elogios do cabeça de lista pelo Porto?
Na ausência de uma resposta concreta, resta apenas dizer que significa que a dia 10 de Março os votos não podem ser no sentido de dar mais força ao PS, mas sim à esquerda, na mesma que em Outubro de 2015 disse objectivamente, em prol do povo e dos trabalhadores, que o PS só não era governo se não quisesse.
A narrativa do voto útil no PS significa dar mais força a elementos como Francisco Assis que defenderam frontalmente manter PSD-CDS no poder, sabendo claramente o que isso significava em termos de deterioração das condições de vida.