Tal como em anos anteriores, Marcelo Rebelo de Sousa tenta fazer pressão sobre os partidos a propósito da aprovação do Orçamento do Estado (OE) para o próximo ano.
Em declarações aos jornalistas, esta quarta-feira, o Presidente da República argumentou que os «custos» de eleições legislativas antecipadas em Janeiro e Orçamento do Estado em Abril «são muito elevados», alegando que haveria uma «paragem» em «muitos fundos europeus». A verdade é que nada impede o País de receber os fundos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), mesmo que o orçamento acabe chumbado.
Por outro lado, conhecido o custo de insistir em políticas que põem trabalhadores a empobrecer, descuram serviços públicos fundamentais, como a saúde e a educação, e não contribuem para uma repartição da riqueza criada, não há como atender ao «papão» da «crise política» com que Marcelo Rebelo de Sousa costuma acenar a cada Orçamento do Estado.
Na dramatização sobre a eventualidade de eleições antecipadas, o Presidente da República dá a entender que um novo OE não seria muito diferente do que o Governo entregou no Parlamento na passada segunda-feira, mas a realidade do País a isso obriga. Cerca de 56% da riqueza total do nosso país é detida por 1% da população, sendo que a fortuna que é acumulada pelos 50 mais ricos em Portugal equivale a 12% do Produto Interno Bruto (PIB).
Enquanto não se tomarem medidas que garantam um equilíbrio na distribuição da riqueza e o desenvolvimento da economia e da produção nacionais, Portugal só estará a perder.
Desde ontem que este «tudo ou nada» de Marcelo, que hoje insiste na ideia de que «o que é natural é que o Orçamento passe», tem vindo a ser adoptado também por vários ministros, e pelo próprio António Costa, sendo no Governo que reside a responsabilidade de assegurar respostas para os problemas inadiáveis e evitar crises maiores.