«É falsa a ideia de que não houve prevenção no terreno», argumentou o primeiro-ministro no hemiciclo, depois de semanas em que assistimos em directo ao País a ser consumido pelas chamas, num total, até agora, de 3% de área ardida.
O chefe do Executivo, na sua intervenção inicial, afirmou que foi colocado no terreno o maior dispositivo de sempre para combater os incêndios e que «apesar das medidas preventivas (...) a força do inimigo foi enorme». Sacudindo responsabilidades, disse ainda que o Governo esteve «sempre ao leme», mesmo depois das várias criticas à actuação da tutela. Num tom diferente do habitual, Luís Montenegro disse contar «com o esforço de todos para combater o grave flagelo que, infelizmente, nos atinge todos os anos».
Quem abriu a ronda de intervenções foi o PCP, através de Paulo Raimundo, secretário-geral do partido que avançou com a convocação do debate de urgência. O comunista não hesitou em situar o debate, centrando-o de forma a contrariar a realidade alternativa que o primeiro-ministro procurou veicular.
Para Paulo Raimundo, apesar de não ser possível erradicar os incêndios, é possivel colocar em prática uma política de valorização da floresta e dos profissionais que combatem e previnem as chamas. O secretário-geral do PCP relembrou que foi o Governo PSD/CDS-PP cortou mais de 100 milhões de euros de apoios à floresta e relembrou ainda o dinheiro gasto em empresas que lucram com os incêndios, como as de aluguer de meios aéreos, cuja fonte de receita resulta da opção política de liberalizar o Estado.
Sobre a actuação do Governo, Paulo Raimundo não tem dúvidas: «faltou coordenação» e «logística básica de suporte». Os comunistas entendem, assim, que o debate não deve ser circunstancial, mas sim estrutural, dando como exemplo as várias recomendações que já constavam no relatório de 2017 elaborado por uma Comissão Técnica Independente após os fatídicos incêndios de Pedrógão Grande.
Após a intervenção do PCP, André Ventura teve a palavra. O líder do Chega teve uma intervenção à imagem do que já habituou. Invocando o facto de Portugal ser o país com maior área ardida na Europa, acusou o Governo de incompetência, sem, no entanto, apresentar soluções.
O debate seguiu-se com as intervenções dos partidos com deputados únicos. Pelo JPP, Filipe Sousa disse que Estado «chegou tarde demais» e questionou que responsabilidades políticas serão retiradas desta época de incêndios; pelo PAN, Inês Sousa Real criticou a falta de planeamento e a desvalorização dos bombeiros; já pelo BE, Mariana Mortágua optou por focar-se inicialmente nos vídeos de André Ventura, partilhados nas redes sociais, tendo posteriormente criticado o Governo por ter adiado o pedido de apoio internacional.
A líder da Iniciativa Liberal elencou um conjunto de propostas que, no seu entender, poderiam ter ajudado a resolver o que se vivenciou, como é exemplo a proposta para se acelerar a partilha de heranças. Mariana Leitão criticou igualmente a demora a demora no pedido de ajuda internacional e considerou que, de modo a evitar uma catástrofe no próximo ano, é necessário começar a planear a época de incêndios em Janeiro.
Rui Tavares, co-porta-voz do Livre, acompanhou esta última análise dos liberais e considerou que os políticos devem «procurar garantir que este não é debate cíclico e sazonal». Com mais críticas à forma de actuação do Governo do que ao conteúdo, Tavares criticou Montenegro por ter usado uma «metáfora da guerra».
O único deputado a usar o palanque acabou por ser o secretário-geral do PS, José Luís Carneiro, que aproveitou o púlpito para acusar o Governo de «insensibilidade» e «incapacidade». Apesar do tom usado, José Luís Carneiro resumiu a crítica à Festa do PSD no Pontal e pouco mais. Sobre medidas concretas, acabou por defender um pacto a 25 anos para a floresta, mas sem especificar.
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