Seria risível, não fosse a seriedade do tema, mas como se pode ler da nota de divulgação do debate, «por ocasião do Dia da Mulher, a CIP [Confederação Empresarial de Portugal] realiza uma conferência digital onde o palco será de homens. Pretendemos discutir, entre líderes masculinos, o que trava a ascensão de mais mulheres a cargos de gestão».
O objectivo é claro, e passa por «desmaterializar o Dia da Mulher, celebrá-lo como um legado histórico e não como um dia de luta».
As reacções de desagrado não se fizeram esperar, com muitas críticas feitas nas redes sociais. Em consequência, António Saraiva ainda tentou justificar que se tratou de uma «boa intenção, mal comunicada». E explicou que a iniciativa, que conta com a moderação de Rosália Amorim, directora do Diário de Notícias, foi organizada por mulheres «da CIP, responsáveis dessa área».
Se dúvidas houvesse sobre o papel que a CIP desempenha na sociedade, defendendo aqueles que vivem e lucram com a exploração e divisão dos trabalhadores e promovendo, com a sua acção política e práticas laborais, repercussões mais gravosas para as mulheres trabalhadoras, este é mais um exemplo disso.
Não foi suficiente o debate ter sido organizado por mulheres, porque também as há a viver de bem com a exploração, pobreza, exclusão social e violência sobre outras mulheres.
Para mais, a CIP é daquelas estruturas que nunca escondeu ao que vem: estão nas fileiras da perpetuação de uma sociedade que se mantém estruturalmente à conta das desigualdades, com particular destaque para os baixos salários, a precariedade, a discriminação e a violência contra as mulheres.
Por estas e muitas outras razões, o Dia Internacional da Mulher foi, é e será sempre um dia de luta.
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