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Vírus para combater superbactérias testados na Bélgica

Os vírus podem ser utilizados para tratar superbactérias resistentes aos antibióticos. Esta abordagem, chamada fagoterapia, foi experimentada em cerca de 100 pessoas na Bélgica.

Vírus seleccionado ataca uma superbactéria. 
Vírus seleccionado ataca uma superbactéria. CréditosDR / DR

Num relatório divulgado em 2014, a Organização Mundial da Saúde (OMS) concluía que a disseminação de superbactérias que escapam até aos mais poderosos antibióticos já não é uma previsão futura – está a acontecer agora mesmo em todo o mundo. A resistência aos antibióticos pode afectar qualquer pessoa, de qualquer idade, em qualquer país, referia o relatório intitulado Resistência Antimicrobiana – Relatório Global sobre Vigilância. «O mundo está a caminhar para uma era pós-antibióticos, em que as infecções comuns e os pequenos ferimentos, tratáveis há décadas, podem voltar a matar», avisava, na altura, Keiji Fukuda, o subdirector para a área da segurança na saúde da OMS.

Em Portugal, estima-se que anualmente se registem 1160 mortes causadas por bactérias resistentes e a Direcção-Geral da Saúde (DGS) alerta para a importância de utilizar antibióticos apenas quando necessário, para que não se venham a tornar ineficazes.

«Se nada for feito à escala mundial, em 2050 teremos as infecções como a primeira causa de morte», referiu Artur Paiva, director do Programa de Prevenção e Controlo de Infecções e Resistências aos Antimicrobianos (PPCIRA), em declarações à Lusa, em Novembro passado.

Daí a importância que está a ganhar a investigação de novas formas para combater as superbactérias, nomeadamente a utilização de vírus matadores de bactérias, conhecidos como fagos, que podem tratar infecções resistentes a antibióticos.

«A fagoterapia está de facto a tornar-se mais comum, pelo menos na Bélgica», disse o médico Jean-Paul Pirnay no Hospital Militar Rainha Astrid, em Bruxelas, à revista New Scientist. «Temos coordenado tratamentos de fago em pouco mais de 100 pacientes».

Pirnay diz que a sua equipa planeia analisar todos estes casos e publicar os resultados em breve. «À primeira vista, eu diria que há uma melhoria clínica em cerca de 70 por cento dos casos», garante. «A maioria destes pacientes estava em estado desesperado depois de os antibióticos terem falhado».

Num artigo de investigação publicado esta semana, Pirnay e colegas descreveram em pormenor um destes casos. Em Março de 2016, uma mulher de 30 anos foi gravemente ferida num atentado bombista no aeroporto de Bruxelas. Apesar de lhe terem sido administrados antibióticos quando deu entrada no Hospital Erasme na Bélgica, as suas feridas ficaram infectadas, impedindo-as de sarar.

Após vários meses, tratamentos antibióticos intensivos tinham causado graves efeitos secundários, mas não conseguiram eliminar a infecção. O principal culpado foi uma estirpe de uma bactéria chamada Klebsiella pneumoniae que é resistente a quase todos os medicamentos.

Um dos médicos, Anaïs Eskenazi, decidiu tentar a fagoterapia. Uma amostra da bactéria foi enviada ao Eliava Institute em Tbilisi, Geórgia, para encontrar um vírus que a pudesse matar. O Instituto Eliava tem vindo a utilizar a fagoterapia para tratar infecções desde os anos 20.

Após encontrar tal fago, o instituto desenvolveu o vírus para o tornar ainda melhor na liquidação da bactéria. A terapia estava pronta para avançar até Novembro de 2016, mas foi posta em espera porque alguns médicos estavam preocupados com a segurança e a eficácia.

«Na altura havia muito pouca literatura científica sobre o uso de fago, excepto em países onde a fagoterapia tem sido usada há muito tempo, como a Geórgia e a Polónia», diz Eskenazi, à New Scientist, agora no Centro Hospitalar de Cayenne, na Guiana Francesa.

Em Fevereiro de 2018, a mulher ainda não estava a melhorar, e finalmente foi tratada com o fago em combinação com antibióticos. Em semanas, o seu estado melhorou, e o seu fémur partido começou finalmente a sarar. Agora ela é capaz de andar novamente.

Apesar de resultados como este, existem vários obstáculos à utilização mais ampla da terapia de fago. Os fagos são específicos de bactérias específicas, e essas bactérias podem rapidamente desenvolver resistência, explica Ben Temperton da Universidade de Exeter, no Reino Unido. A evolução ou «pré-adaptação» dos fagos, como fez o Instituto Eliava, reduz a resistência mas leva tempo.

Estas questões dificultam a obtenção da aprovação regulamentar. Na altura em que a mulher foi tratada, Eskenazi teve de obter uma aprovação especial para tentar a terapia de fago. Este continua a ser o caso na maioria dos países, razão pela qual as fagoterapias são raramente utilizadas.

Contudo, em 2019, a Agência Federal de Medicamentos e Produtos de Saúde, na Bélgica, introduziu um sistema especificamente concebido para a fagoterapia, tornando muito mais fácil para os médicos experimentá-la.

«Estamos a tentar expandir este quadro para a Europa», diz Pirnay.

Investigações também em Portugal

Nos laboratórios do Centro de Engenharia Biológica (CEB) da Universidade do Minho, Luís Melo, investigador desse centro e uma vasta equipa de investigadores testam proteínas de uns vírus conhecidos como fagos para melhorar a eficácia dos antibióticos face à ameaça das superbactérias. 

«Há milhares de milhões de bacteriófagos a circular no nosso corpo», sublinha Luís Melo ao Diário de Notícias.

Estes vírus não nos têm como alvo. Os inimigos dos bacteriófagos são, como o próprio nome deixa suspeitar, as bactérias. O que faz dos fagos um aliado muito útil dos humanos. Uma espécie de «vírus bom», que nos protege de muitas ameaças bacterianas.

Actualmente, pelo menos 700 000 pessoas morrem a cada ano devido a doenças resistentes a medicamentos e, se nenhuma acção for tomada, «a OMS estima que em 2050 morra mais gente por ano devido a infecções resistentes a antibióticos do que, por exemplo, por cancro», refere o investigador.

A maior ameaça está identificada e dá pelo nome de «super bactérias». Isto é, «bactérias que são resistentes a todos os antibióticos administrados, em domicílio ou mesmo a nível hospitalar», esclarece Luís Melo. E Portugal, sabe-se, é o quarto país da Europa que apresenta as mais altas taxas de mortalidade por infecções causadas por resistência antimicrobiana. Daí a urgência deste tipo de investigações. 

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