O anúncio foi feito, ontem, pela ministra dos Negócios Estrangeiros venezuelana, Delcy Rodríguez. A responsável afirmou que «a retirada da Venezuela da OEA justifica-se com a dignidade do nosso povo e a doutrina bolivariana, que promove o não intervencionismo, que defende a igualdade entre estados e o multilateralismo em situação de igualdade jurídica».
Através do Twitter, o presidente Nicolás Maduro classificou o dia em que a decisão de «retirada definitiva» da OEA foi anunciada como o «dia da dignidade e da independência». Numa outra publicação, Maduro afirmou que «já basta de abusos intervencionistas e violações da lei, a Venezuela é o berço dos libertadores e vamos fazer com que seja respeitada».
O governo venezuelano acusa o secretário-geral, Luis Almagro, e vários estados-membros da OEA de «submissão» perante os Estados Unidos, e de alimentarem uma tentativa de golpe de Estado protagonizado pela direita venezuelana.
Delcy Rodríguez lembrou ainda «as terríveis realidades de discriminação, opressão e violação massiva dos direitos humanos nos EUA» ou o recente golpe no Brasil para questionar se «os governos da região não têm nada a dizer sobre isso».
Evo Morales: «A OEA esquece-se da sua tradição golpista»
Uma ideia repetida por Evo Morales em entrevista à Telesur, na qual o presidente boliviano afirmou que a verdadeira intenção de «alguns países da OEA, de Luis Almagro e dos EUA» é apoderarem-se das reservas petrolíferas venezuelanas.
«A OEA esquece-se da sua tradição golpista. Com que autoridade pode o secretário-geral Luis Almagro falar de democracia se promove golpes de Estado?», questionou Morales. A postura da organização está a ser comparada por vários analistas latino-americanos com os acontecimentos que precederam o golpe de Estado fascista no Chile, a 11 de Setembro de 1973.
69 anos contra a democracia, o progresso e a justiça social
Ao contrário do que sucedeu no Brasil, em que o plano golpista para colocar Michel Temer na presidência através de um processo de destituição parlamentar de Dilma Rousseff foi bem sucedido, o secretário-geral da OEA tem vindo a pedir «eleições gerais», repetindo os apelos da direita venezuelana, e ameçando com a suspensão da organização.
Apesar das brutais ditaduras militares que governaram vários estados-membros (como na Argentina, no Brasil ou no Chile), o único país cuja participação na OEA foi suspensa foi Cuba, em 1962. A decisão foi justificada pela opção socialista da Revolução Cubana.
A Venezuela é o primeiro país a denunciar a Carta da OEA desde a sua fundação, em 1948. De acordo com os estatutos da organização, passados dois anos da notificação de denúncia, que deve ser comunicada hoje a Almagro, o documento deixa de vigorar na Venezuela, que assim abandona a estrutura.
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