O presidente norte-americano assinou uma ordem executiva que acaba com a separação das famílias imigrantes, depois da agitação mediática, das críticas de organizações internacionais e das mobilizações de associações de defesa dos imigrantes que se seguiram, nos últimos dias, à divulgação de vídeos e imagens de centros de detenção de imigrantes nas fronteiras dos Estados Unidos, com crianças engaioladas e separadas dos seus familiares adultos.
Também vieram a público dados que apontavam para a separação de cerca de 2000 crianças, em pouco mais de um mês, dos seus pais e outros familiares adultos nas fronteiras dos EUA – imigrantes que, não tendo documentos, são considerados «criminosos» e alvo de processos judiciais.
Falando para os jornalistas reunidos na Sala Oval da Casa Branca, em Washington, Donald Trump disse ontem: «Vamos ter fronteiras fortes, muito fortes, mas vamos manter as famílias unidas», indica a PressTV, acrescentando que «não gostou de ver as famílias separadas».
Disse ainda, de acordo com a mesma fonte: «Vocês vão ter muita gente feliz», mas sem que se perceba bem o alcance da «felicidade» a que se refere. Por um lado, a medida agora tomada não se aplica às crianças separadas dos seus pais desde a implementação da política de «tolerância zero» nas fronteiras, em Abril último.
Por outro, os adultos das famílias que, a partir de agora, têm a possibilidade de permanecer juntas continuam a estar «detidos» em instalações do Departamento de Segurança Interna e a ser indiciados por «tentativa de entrada ilegal» nos EUA.
A este título, Donald Trump deixou claro que a chamada política de «tolerância zero», no âmbito da qual as crianças têm sido separadas dos seus familiares adultos que tentam entrar nos Estados Unidos «sem papéis», é para manter.
Acordo «Flores»
Ao abrigo de um acordo legal conhecido como Acordo «Flores», a administração Clinton aceitou, em 1997, não manter nenhuma criança imigrante num centro de detenção mais de 20 dias, mesmo quando acompanhada pelos pais. As administrações que se seguiram optaram por libertar as famílias – com a obrigatoriedade de comparecerem em tribunais de imigração – ou por deportá-las quando esse prazo era ultrapassado.
O ex-presidente Barack Obama também ficou conhecido pela aplicação da doutrina da «tolerância zero» nas fronteiras, sendo apodado por associações de latino-americanos como o «Grande deportador» – foi o presidente norte-americano em cuja governação mais gente foi expulsa do país.
Algumas das fotos de centros de detenção de imigrantes que apareceram nos últimos dias na Internet para denunciar as práticas recentemente implementadas por Donald referiam-se, inclusive, ao período Obama.
Medida provisória
A ordem executiva ontem assinada pelo presidente dos EUA está a ser encarada com reservas e críticas. Tendo em conta o Acordo «Flores», a medida não explicita o que o governo federal fará caso um processo judicial ultrapasse os 20 dias em que uma criança pode estar num centro de detenção de imigrantes.
Recorde-se que a administração norte-americana chegou a argumentar que era esse limite temporal de 20 dias que a forçava a separar as crianças dos pais, pelo que se espera que Donald Trump, para poder continuar a aplicar a sua política de «tolerância zero», procure rever o referido acordo, aumentando o número de dias em que famílias imigrantes podem estar detidas nos centros, enquanto decorrem os processos judiciais.
Face a este panorama, representantes de associações de defesa de imigrantes, como Francisca Porchas (Phoenix, Arizona), disseram que a medida assinada por Trump não constitui uma «reunificação familiar», mas uma «prisão familiar».
Por seu lado, Cesar Espinosa, da associação Famílias Imigrantes e Estudantes na Luta (Houston, Texas) disse estar «inteiramente contra a ordem, porque se continuará a deter crianças», indica a Prensa Latina.
Já a American Civil Liberties Union defendeu que a «ordem de Trump substitui uma crise por outra» e que «as crianças não devem estar na prisão, mesmo com os pais», revela a RT.
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