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EUA expulsam haitianos por entre alertas da ONU e críticas a Biden

Os EUA continuam a deportar milhares de imigrantes haitianos, por entre alertas das Nações Unidas e fortes críticas à administração de Joseph Biden, que prometeu pôr a situação «sob controlo».

Agentes da patrulha fronteiriça no Texas a lidarem com migrantes haitianos 
Créditos / Brasil de Fato

A Casa Branca iniciou no fim-de-semana passado a expulsão de cerca de 15 mil cidadãos do país caribenho, que viajaram desde o Chile ou do Brasil, e passaram dias acampados debaixo de uma ponte que atravessa o Rio Grande, em Del Rio, na fronteira entre os estados do Texas (EUA) e de Coahuila (México).

As imagens das condições deploráveis em que as pessoas se encontram e de agentes da patrulha fronteiriça norte-americana a cavalo e de chicote na mão para impedir os imigrantes de avançar em território dos EUA deram a volta ao mundo, colocando pressão externa e interna sobre a administração de Biden.

O líder da maioria democrata no Senado norte-americano, Chuck Schumer, instou o presidente e o secretário da Segurança Nacional, Alejandro Mayorkas, a «porem fim imediato a estas expulsões e à política do Título 42 na fronteira sul», referindo-se a uma política da era Donald Trump (2017-2021) que se apoia em restrições associadas à pandemia de Covid-19, informa a Prensa Latina.

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Justiça federal bloqueia decreto de Trump contra pedidos de asilo

Ainda que temporário, o bloqueio constitui um revés para as políticas de imigração da administração norte-americana. O Departamento da Justiça considerou a decisão «perigosa» e anunciou um recurso.

Defensores dos direitos dos migrantes manifestam-se junto à fronteira dos EUA com o México, na Califórnia
Créditos / Prensa Latina

Um juiz federal, de São Francisco (Califórnia), travou esta segunda-feira, de forma temporária, o decreto firmado no passado dia 9, pelo presidente dos EUA, que impedia os imigrantes que entrassem ilegalmente no país de realizarem pedidos de asilo.

A administração norte-americana defendeu que estas restrições – e a sua implementação sem a aprovação do Congresso – se justificavam tendo em conta as caravanas de migrantes que se aproximavam da fronteira sul dos EUA, que Donald Trump tem caracterizado como uma «ameaça à segurança nacional».

Logo após a sua publicação, diversos grupos lançaram uma acção num tribunal de São Francisco com vista à impugnação do decreto, argumentando que é «ilegal». «A nova lei do asilo do presidente Trump é ilegal», disse então Omar Jadwat, director da União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU, na sigla em inglês). «Nem o presidente, nem os membros da sua administração podem ignorar a força da lei, mas é exactamente isso que estão a tentar fazer [com o decreto da imigração]», disse, citado pela PressTV.

O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) também criticou a administração norte-americana por «não cumprir as suas obrigações no que respeita à ajuda aos migrantes centro-americanos».

Ao pronunciar-se, esta segunda-feira, sobre a acção interposta pelas organizações de defesa dos direitos dos migrantes, o juiz referiu que, de acordo com a Lei de Imigração e Nacionalidade, de 1965, qualquer estrangeiro que chegue aos Estados Unidos, seja ou não por um posto fronteiriço oficial, pode solicitar asilo às autoridades.

Neste sentido, o decreto que proíbe a possibilidade de conceder asilo aos imigrantes que entrem no país evitando um posto fronteiriço está em conflito com a lei e com o que foi determinado pelo Congresso, refere a decisão judicial, que estará em vigor até nova apreciação e decisão em tribunal.

Entretanto, numa declaração conjunta, os departamentos da Justiça e da Segurança Interna defenderam o direito legítimo do poder executivo a lidar «com a crise na fronteira sul», onde o Pentágono mantém destacados cerca de 5900 militares.

Falando numa conferência de imprensa em San Diego (Sul da Califórnia), a secretária do Departamento da Segurança Interna, Kirstjen Nielsen, classificou a decisão judicial como «perigosa» e mostrou-se confiante na sua anulação, na sequência de um recurso que a administração de Trump irá interpor, refere a ABC.


De acordo com o diário La Jornada, ontem estavam concentrados mais de 3000 migrantes centro-americanos em Mexicali, capital do estado mexicano da Baixa Califórnia, e cerca de 2700 em Tijuana, no mesmo estado e onde há um posto fronteiriço com os EUA.

Alguns habitantes de Tijuana têm recebido com hostilidade os migrantes de vários países da América Central, provenientes sobretudo da Guatemala, de El Salvador e das Honduras, que se põem a caminho em busca de uma vida melhor, fugindo à miséria e à violência.

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Mayorkas, que qualificou a situação migratória dos haitianos como «desafiante», reiterou que quem tenta entrar no país de forma ilegal está a colocar a vida em risco, enquanto os serviços fronteiriços dos Estados Unidos confirmaram que a maioria dos imigrantes seria expulsa ao abrigo do Título 42 da lei que restringe a imigração, refere o Brasil de Fato.

Por seu lado, a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, afirmou que não conhecia o contexto, mas que as imagens eram «horríveis» e que, se se confirmasse que os agentes da patrulha fronteiriça levavam chicotes e os usaram para bater nos migrantes sem documentos, «não deviam fazer aquilo novamente».

Nações Unidas alertam para violação do direito internacional

«As expulsões em massa e sumárias que se realizam actualmente, sem tentar determinar as necessidades em termos de protecção, são contrárias ao direito internacional e podem constituir devolução forçada», declarou em comunicado o director da Agência da ONU para os Refugiados (Acnur), Filippo Grandi.

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Agentes em El Paso temiam motins de migrantes devido a «condições extremas»

Centenas de migrantes, detidos num centro em El Paso (Texas), foram mantidos em «condições insalubres», revelou a NBC News, referindo-se a documentos do Departamento de Segurança Interna.

Crianças retidas num centro instalado entre Ciudad Juárez (México) e El Paso (EUA)
CréditosIvan Pierre Aguirre / The Texas Tribune

Inspectores de controlo do Departamento norte-americano de Segurança Interna (DHS, na sigla em inglês) que visitaram as instalações do centro de detenção de El Paso no passado dia 7 de Maio depararam com condições extremas, como o facto de mais de metade dos 756 migrantes ali detidos serem mantidos no exterior, enquanto os que estavam no interior eram retidos em celas com cinco vezes mais ocupantes que os indicados para aquele espaço.

De acordo com a cadeia norte-americana, que revelou o relatório esta segunda-feira, situações como esta contradizem as afirmações proferidas esta sexta-feira pelo secretário interino da DHS, Kevin McAleenan, de acordo com as quais as denúncias sobre más condições nos centros de detenção de imigrantes não tinham fundamento.

As celas estavam tão cheias – 155 homens adultos numa área destinada a 35 pessoas – que os homens não se conseguiam deitar. Além disso, os inspectores encontraram apenas quatro duches disponíveis nas instalações. «Com o acesso limitado a duches e a vestuário limpo, os detidos usavam roupas sujas durante dias ou semanas», informou a NBC com base no relatório preparado pelo inspector-geral do DHS.


A NBC informou que os agentes que trabalham no centro de El Paso andavam armados, temendo que as condições extremas pudessem levar a distúrbios ou a greves de fome. Ainda de acordo com o relatório, no início de Maio aumentaram as preocupações relacionadas com as condições médicas nas instalações, sendo que alguns agentes afirmaram ter levado imigrantes doentes ao hospital cinco vezes por dia, tratado 75 pessoas com piolhos num só dia, e tentado pôr de quarentena os afectados por gripe, varicela e sarna.

Nas últimas semanas, a administração norte-americana foi alvo de fortes críticas, depois de um grupo de advogados ter denunciado as péssimas condições existentes no centro de detenção de Clint, também no Texas. Crianças ali detidas disseram aos advogados que não recebiam comida e água em condições, e que passavam longos períodos sem tomar banho.

O Congresso dos EUA aprovou, na semana passada, legislação destinada, entre outros aspectos, a melhorar as instalações sob controlo da Agência de Imigração e Controlo de Alfândegas e do Departamento de Saúde, revela o The Texas Tribune.

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O funcionário manifestou especial preocupação com as imagens que circulam a partir do Texas. Shabia Mantoo, representante do mesmo organismo, afirmou que «as pessoas que acampam debaixo da ponte podem ter motivos justificáveis para solicitar protecção internacional» e sugeriu que os pedidos de asilo sejam avaliados antes da deportação.

Entretanto, o presidente dos EUA disse, numa breve declaração à imprensa à saída da sede das Nações Unidas, que iria colocar a situação na fronteira com o México «sob controlo». A administração que lidera informou na segunda-feira que iria elevar para 125 mil o limite de refugiados a serem admitidos no país no ano fiscal de 2022 – uma proposta avançada na campanha eleitoral.

O Alto Comissariado para os Direitos Humanos das Nações Unidas também se pronunciou sobre a situação que se vive no Texas e as «imagens chocantes». «Estamos perturbados com as imagens que vimos e com o facto de que parece não haver uma apreciação individual, o que fez com que algumas pessoas não recebessem a protecção de que necessitavam», disse a porta-voz Marta Hurtado.

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