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Trabalhadoras adoecem nas limpezas em Espanha

No sector das limpezas, os produtos altamente tóxicos e os movimentos repetitivos pesam na saúde dos trabalhadores, gerando doenças profissionais que as empresas se recusam a reconhecer como tal.

Dos 1140 casos registados de doença profissional na Comunidade de Madrid em 2018 no sector dos serviços, 760 foram de mulheres (imagem de arquivo)
Créditos / kaosenlared.net

A reportagem que a jornalista Sara Plaza Casares ontem publicou no portal elsaltodiario.com centra-se na Comunidade de Madrid e destaca o caso de Ana Lucy, uma trabalhadora das limpezas, de 49 anos, que hoje sofre de sensibilidade química múltipla, tem uma acção em tribunal para que lhe seja dada baixa por doença e está à espera de que uma junta médica lhe reconheça a incapacidade permanente.

Ana Lucy contou à reportagem que trabalhou 12 anos para Associação La Rueca, tendo limpado espaços fechados e com pouca ventilação; sentia dores de cabeça permanentes e tinha problemas pulmonares. «Havia muito stress» e, em 2015, sofreu uma embolia pulmonar.

Doenças não reconhecidas

De acordo com os dados do relatório «A Sinistralidade Laboral na Comunidade de Madrid 2018», das centrais sindicais espanholas CCOO e UGT, nesse ano registaram-se, na área geográfica referida, 1533 ocorrências de doença profissional, 864 das quais correspondem a mulheres (56,4%) e 669 a homens (43%).

O sector com maior peso é o dos serviços – em que se incluem as limpezas –, no qual a presença de mulheres é cada vez mais preponderante. De 1140 ocorrências registadas, 760 dizem respeito a mulheres, assinala o El Salto.

Relativamente a Madrid, os sindicatos denunciam que existe um problema grande ao nível do registo de doenças profissionais – que, segundo a sua estimativa, é inferior em 60% à média no Estado espanhol –, acrescentando que muitas patologias do foro laboral são tratadas como «ocorrências comuns».

As trabalhadoras da limpeza, as camareiras dos hotéis ou as empregadas domésticas são das mais visadas por esta situação, em que as empresas não reconhecem as doenças – no seu caso, as lesões músculo-esqueléticas constituem o grosso das maleitas de origem profissional.

Rosa Bajo, uma médica de Cuidados Primários num centro de saúde de Lavapiés (Madrid), explica que as empresas dificilmente reconhecem as doenças de natureza profissional, como uma lombalgia «ou a síndrome do túnel do carpo, originada por movimentos repetitivos e muito característica das empregadas da limpeza».

A médica destacou ao El Salto que as mulheres têm de aguentar a sobrecarga, tanto física como emocional, de continuar a trabalhar em casa. «Surgem também questões de depressão e ansiedade. Por causa do stress do trabalho e também porque nos responsabilizamos pela carga e a pressão familiar, e isso pesa muito», frisou.

A situação das camareiras de hotel

De acordo com um estudo sobre as condições ergonómicas das camareiras na hotelaria na Comunidade de Madrid, a maioria das lesões geradas pelo trabalho decorrem do sobre-esforço; e quase metade dos acidentes laborais ocorre neste sector.

Em 2018, as camareiras ficaram a saber que, no registo de doenças profissionais, passavam a figurar três patologias próprias do sector: a síndrome do túnel do carpo, a bursite e a epicondilite, relacionadas com determinados movimentos repetitivos dos braços e das mãos próprios das tarefas que executam.


María del Mar Jiménez, porta-voz destas trabalhadoras em Madrid, afirma que, na prática, tudo continua igual. «Eu tenho uma hérnia discal por fazer camas, tendinite crónica no manguito rotador do ombro [bursite], também por fazer camas, e síndrome do túnel do carpo na mão por torcer a pano. Em cada quarto torço [o pano molhado] em média umas 200 vezes. Nunca me reconheceram uma doença profissional», denuncia.

«Nós fazemos entre 20 e 30 camas por dia. Aí o que mais usamos são os braços. Depois, em cada quarto temos de limpar a casa de banho, a cabine do duche, o bidé, o autoclismo – conta. Além disso, arrasto um carro de 100 quilos não motorizado por uma carpete.»

«Quando comecei, esfregava de joelhos; deixámos de o fazer há uns oito anos. Os hotéis de luxo não gostam de esfregonas», diz Jiménez, que tem tem mais de 30 anos de profissão, os últimos num hotel de luxo em Madrid.

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