Era a última esperança a que muitas se agarravam. O Supremo Tribunal Americano considerou infundados os procedimentos jurídicos que tentaram bloquear a entrada em vigor da nova lei. Esta decisão pode significar o fim da sentença Roe v. Wade, que em 1973 determinou a legalidade do aborto em todos os Estados Unidos até ao momento em que o feto se torna viável.
A nomeação dos juízes Gorsuch, Kavanaugh e Barrett durante o mandato de Donald Trump estabeleceu uma confortável maioria conservadora, anti-aborto, no Supremo Tribunal Americano.
A «heartbeat bill», a lei do bater do coração, foi construída de uma forma ardilosa para escapar a estas limitações constitucionais. A legislação determina a proibição do aborto para lá das seis semanas, tendo como única excepção casos de emergência médica, devidamente sinalizados por um médico. Mulheres que tenham engravidado em resultado de violações ou de incesto serão obrigadas a levar a gravidez a termo.
No dia em que se assinala o Dia Internacional do Aborto Seguro, o Movimento Democrático de Mulheres (MDM) manifesta solidariedade com as lutas das mulheres por todo o mundo. O MDM afirma que todos os Estados devem garantir o acesso ao aborto legal e seguro como uma questão de direitos humanos. Neste sentido, recorda informação tecida por especialistas da Organização das Nações Unidas (ONU) em 2019, de que, sendo «essencial para a saúde reprodutiva de mulheres e meninas, o acesso ao aborto legal e seguro é chave para garantir seu direito fundamental à autonomia, igualdade e saúde física e mental». Não obstante, o aborto ilegal e clandestino subsiste como uma das maiores causas de mortalidade materna no mundo e, sublinha o MDM, 26 anos depois da Conferência Internacional da População e Desenvolvimento do Cairo, «em muitos Estados, o aborto ainda é criminalizado ou não é acessível na prática, mesmo onde ele é legal». Na América do Sul há mulheres que enfrentam a prisão pela decisão de interromper uma gravidez, mesmo quando a sua própria saúde está em risco. Porém, o MDM recorda que, de acordo com as normas internacionais de direitos humanos, os Estados têm a obrigação de abster-se do uso da lei criminal para punir as mulheres por interromper a gravidez, mas também de revogar leis e políticas restritivas «que colocam em risco a saúde, a segurança e a vida de mulheres e meninas». «A situação das mulheres, num mundo cada vez mais injusto, desigual, instável e violento conhece obstáculos e retrocessos nos direitos das mulheres, particularmente na saúde sexual e reprodutiva», refere a organização num comunicado, salientando que, apesar de algumas excepções, «este é um traço dominante em diferentes países e regiões no mundo, com maior ou menor grau de desenvolvimento». A ONU estima que 25 milhões de abortos inseguros são realizados a cada ano, causando a morte evitável de aproximadamente 22 mil mulheres, particularmente em países em desenvolvimento, e que sete milhões de mulheres e meninas sofrem lesões que resultam em incapacidade e infertilidade. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 270 milhões de mulheres não têm possibilidade de acesso a métodos modernos de contracepção. Sendo que as mulheres pobres, com deficiência, migrantes e indígenas, de minorias étnicas, ou as que vivem em zonas de conflito ou refugiadas continuam a ser as mais afectadas também no acesso aos cuidados médicos. «Mesmo nos países onde o aborto é legal, como a França, EUA, Polónia, há restrições dos serviços [...] ao mesmo tempo que ganham força perigosas movimentações de sectores políticos para fazer retroceder a lei», lê-se no texto. Por cá, o MDM lembra que persistem lacunas no Serviço Nacional de Saúde (SNS) que conduzem a «situações de desigualdades e assimetrias regionais inaceitáveis e que importa corrigir». Segundo o Movimento, a par de melhorar a capacidade de resposta no acesso à Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG), o SNS necessita de reforçar o número de profissionais de saúde, nos cuidados primários e na rede hospitalar, para diagnóstico e intervenção precoce. E investir nas campanhas de sensibilização e informação junto das camadas mais jovens, «a fim de melhorar o acesso gratuito à contracepção de emergência e ao planeamento familiar». Simultaneamente, o MDM alerta o Governo para a necessidade de investir na Educação Sexual nas escolas, tendo em conta «a sua importância no esclarecimento, sensibilização e informação junto das jovens», bem como na prevenção da gravidez na adolescência. Destacam-se progressos no nosso país desde que a lei da IVG por decisão da mulher foi aprovada, em 2007. Portugal continua a situar-se abaixo da média europeia no que respeita ao número de interrupções da gravidez por 1000 nados vivos e confirma-se um decréscimo consistente do seu número, ano após ano. Desde então, diminuiu o número de atendimentos por complicações abortivas e não houve mortes maternas associadas à interrupção da gravidez. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Nacional|
MDM saúda mulheres pelo acesso ao aborto seguro e legal
Mais investimento no SNS
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A lei da Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG) em Portugal consagra o direito das parturientes em terminar a gravidez até às 10 semanas, calculadas a partir da última menstruação. Estes prazos são alargados em caso de violação, malformação do feto ou emergência médica.
Às seis semanas de gestação existe uma grande probabilidade de que a gravidez ainda não tenha sido notada pela mulher, impossibilitando-a de fazer uma escolha consciente e informada sobre se quer ou não prosseguir com a interrupção voluntária da gravidez. Entre 85 e 90% das texanas a realizar uma IVG fazem-no após este período, de acordo com a ACLU, União Americana pelas Liberdades Civis.
O que faz a diferença nesta lei é a sua aplicação. A mulher que fizer o aborto após as seis semanas não é criminalizada, mas qualquer pessoa, seja o médico, a recepcionista, um membro da família ou o condutor do táxi que a levou ao local, podem ser processados por terem ajudado, ou apoiado, este acto médico.
Qualquer americano, texano ou não, pode processar um cidadão que tenha ajudado a realizar uma IVG, recebendo até dez mil dólares em troca da denúncia, se o caso lhe for favorável. Ao remeter a fiscalização da lei para o cidadão comum, o governador Texano torna-se inumputável.
Como nenhuma estrutura oficial do Texas vai avançar, por si, com estes processos, instaurados exclusivamente por cidadãos, o Supremo Tribunal considerou que não tinha condições para impedir a sua aplicação, não havendo nenhuma instituição oficial que pudesse julgar para impedir a efectivação da lei.
A aprovação do projecto de lei da IVG na câmara baixa argentina ocorreu depois de 20 horas de debate e fez libertar uma explosão de alegria na Praça do Congresso. A medida avança agora para o Senado. A Câmara dos Deputados aprovou esta manhã, com 131 votos a favor, 117 contra e seis abstenções, o projecto de lei da interrupção voluntária da gravidez (IVG), após um longo debate, que se prolongou por mais de 20 horas e foi seguido, na Praça do Congresso, em Buenos Aires, por milhares de manifestantes «verdes» (favoráveis) e «celestes» (contrárias), informa a agência argentina Telam. Quando, às 7h23, apareceu no quadro electrónico o resultado da votação e o presidente da Câmara, Sergio Massa, anunciou que o projecto seguia assim para o Senado, para debate e eventual aprovação final, soltaram-se os abraços e os gritos dentro e fora do recinto – onde milhares exibiam os lenços verdes da Campanha Nacional pelo Direito ao Aborto Legal, Seguro e Gratuito. Ao longo da extensa sessão do plenário, 164 oradores apresentaram argumentos a favor e contra o projecto enviado à Câmara pelo presidente argentino, Alberto Fernández. Mais uma vez, os campos mostraram-se muito divididos e houve deputados que afirmaram estar a sofrer ameaças, nas suas províncias, por defenderem o projecto de despenalização. «Na história grande da ampliação de direitos só se inscrevem os que lutam, e nós estamos a lutar», disse a deputada Silvia Lospennato. Por seu lado, a deputada Cecilia Moreau, ao apresentar o projecto de lei, afirmou que «se trata de um problema de saúde pública e que uma das tarefas centrais do Estado é garantir esse direito» a mulheres e gestantes. Imediatamente a seguir à aprovação do projecto de despenalização da IVG, começou a ser discutido o Plano dos Mil Dias de protecção integral até aos primeiros anos da infância. Ao anunciar ao país, em Novembro, o envio ao Congresso de dois projectos de lei para que as mulheres possam aceder ao direito à saúde integral, Alberto Fernández sublinhou que «a criminalização do aborto não serviu para nada; apenas para que sejam praticados clandestinamente em números preocupantes», acrescentando que todos os anos são internadas cerca de 38 mil mulheres por abortos mal feitos. Disse ainda que a lei salvará vidas de mulheres e permitirá preservar as suas capacidades reprodutivas, muitas vezes afectadas pelos abortos clandestinos. «Não aumenta o número de abortos, nem os promove; apenas resolve um problema que afecta a saúde pública», defendeu. Quanto ao segundo projecto, disse que tem como objectivo reforçar os cuidados médicos à mulher durante a gravidez e aos seus filhos e filhas durante os primeiros três anos de vida. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
Câmara dos Deputados aprova a despenalização do aborto na Argentina
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Outros estados norte-americanos, Idaho, Oklahoma and South Carolina, tentaram impor leis semelhantes este ano, retringindo o aborto após as seis semanas. Todas estas tentativas estão bloqueadas nos tribunais por não explorarem esta brecha na lei.
«O nosso criador concedeu-nos o direito à vida, mas milhões de criança perdem o seu direito todos os anos por causa do aborto», declarou o Governador do Texas Greg Abbott, durante a assinatura do projecto de lei. Um mês antes destas declarações, o Texas sofreu uma violenta tempestade gelada que matou pelo menos 210 pessoas, muito em consequência do um mercado eléctrico que Abbott desregulou, a favor do sector privado, e que não tinha capacidade de dar resposta à emergência.
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