|Coreia do Sul

Mulheres sul-coreanas prostituídas pelos EUA avançam com processo judicial

117 vítimas de exploração sexual por tropas americanas na Coreia do Sul apresentaram, na terça-feira, uma nova acção judicial contra os EUA. Para além de uma compensação financeira, exigem um reconhecimento formal de culpa.

Lee Yong-soo, uma mulher de conforto sul-coreana, prostituída à força, junto à estátua dedicada às mulheres vítimas de exploração sexual às mãos dos soldados japoneses, norte-americanos e sul-coreanos. Seul, 29 de Junho de 2021 
Lee Yong-soo, uma "mulher de conforto" sul-coreana, prostituída à força, junto à estátua dedicada às mulheres vítimas de exploração sexual às mãos dos soldados japoneses, norte-americanos e sul-coreanos. Seul, 29 de Junho de 2021 CréditosKim Hong-jim

«Todas as noites éramos levadas aos soldados norte-americanos e abusadas sexualmente. Éramos obrigadas, todas as semanas, a fazer exames para detectar doenças sexualmente transmissíveis. Se houvesse a menor anomalia, éramos trancadas numa pequena sala e injectadas com uma agulha grossa de penicilina», descreve uma mulher sul-coreana, que solicitou o anonimato, vítima de prostituição forçada aos 17 anos. À Agence France-Presse, relatou a história dos abusos que sofreu à mão do exército norte-americano.

«Ainda não consegui esquecer as vezes em que fui espancada por soldados americanos – chapadas por baixar a cabeça enquanto servia bebidas, por não sorrir ou sem motivo nenhum». O sistema de exploração sexual das mulheres (as mulheres de conforto) não acabou com a expulsão dos ocupantes japoneses da Coreia: perto de 40 mil mulheres foram exploradas sexualmente pelas tropas norte-americanas entre os anos 50 e 80.

A ditadura sul-coreana, intimamente ligada e comandada pelos Estados Unidos da América, assumiu as rédeas do negócio da exploração, de vital importância para o país e para agradar às dezenas de milhares de soldados norte-americanos que permaneciam na península. Alguns historiadores estimam que o negócio da prostituição de mulheres, contra a sua vontade, tenha representado quase 25% do Produto Interno Bruto da Coreia do Sul nas décadas de 60 e 70.

Em 2022, o Supremo Tribunal da Coreia do Sul determinou que o Governo do seu país tinha «instituído, gerido e operado» vários bordéis exclusivamente para a utilização do exército dos EUA. 120 mulheres foram, nessa ocasião compensadas financeiramente. O novo processo judicial visa responsabilizar conjuntamente o Governo sul-coreano e as autoridades militares dos EUA pelos actos ilegais cometidos nessas décadas.

Não podendo, no contexto da justiça sul-coreana, responsabilizar directamente outro país, as 117 mulheres que avançam com este processo querem que o Governo exija restituições financeiras ao Estado norte-americano. Os militares norte-americanos, afirma uma das organizações de direitos das mulheres envolvidas na acção, «ignoraram a constituição sul-coreana» e privaram as mulheres da sua liberdade pessoal, «destruindo as suas vidas».

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