Na terça-feira passada, refere La Stampa, o ministro das Infra-estruturas e Transportes do governo de extrema-direita italiano, Matteo Salvini, afirmou que «protegia o direito à greve» por ser «um direito constitucional».
Enquanto isso, voltou aos argumentos já utilizados noutras ocasiões para atacar esse direito, afirmando que tem de defender a mobilidade de todos os italianos e que os trabalhadores – em luta contra a precariedade e a exploração, por melhores salários e condições – «não têm o direito de parar o país por 24 horas».
Em Roma e nalgumas das principais cidades italianas, a circulação dos transportes públicos foi fortemente afectada, esta segunda-feira, no âmbito da paralisação de 24 horas convocada pela USB. Realizada sob o lema «Salário, segurança, dignidade», a greve nacional de 24 horas nos transportes públicos locais, convocada pela Unione Sindacale di Base (USB), tinha como uma das principais reivindicações «salários e condições de trabalho dignos», assim como o estabelecimento de um salário mínimo legal de 10 euros por hora. Os trabalhadores dos transportes públicos – autocarros, metro, eléctricos e parte da ferrovia – exigiram também a cessação dos contratos e subcontratos com empresas privadas que prestam serviços de má qualidade e pagam mal. Pronunciaram-se ainda em defesa de uma maior segurança no trabalho e a favor da introdução, no sistema penal, do crime específico de «homicídio no trabalho», refere a USB no seu portal. Com a paralisação de 24 horas, a USB fez questão de vincar a defesa do direito à greve nos serviços públicos considerados essenciais, afirmando que a actual legislação é aplicada «de forma cada vez mais agressiva», visando impedir os trabalhadores de exercerem o legítimo direito à greve. O ministro italiano das Infra-estruturas e Transportes reduziu de 24 para quatro horas a greve nacional de dia 29 no transporte público local. O sindicato USB reagendou a paralisação para 9 de Outubro. Michele Frullo, dirigente do USB – Transportes, afirmou que a Unione Sindacale di Base recebeu na terça-feira à tarde um decreto assinado pelo ministro Salvini a reduzir a duração da greve para quatro horas. Frullo criticou a decisão, que classificou como «um ataque vergonhoso do ministro Salvini», acrescentando que, para defender o direito dos trabalhadores à greve, num contexto de «salários baixos» e de «insegurança laboral» para os jovens, a organização sindical decidiu cancelar a paralisação marcada para sexta-feira e reagendá-la para 9 de Outubro, novamente com a duração de 24 horas. Para talhar tão seriamente a realização de uma greve nacional com a duração de um dia, o ministro de extrema-direita afirmou ter sentido «o dever de intervir» e, recorrendo a uma táctica antiga para sustentar a exploração, no âmbito das lutas dos trabalhadores pela conquista e defesa de direitos, alegou os «direitos de todos os trabalhadores». O ministro italiano, preocupado, mostrou-se também sensível aos esforços que «milhões de trabalhadores e estudantes» italianos teriam de fazer, obrigados a andar a pé «todo o dia e toda a tarde». Resumindo: «A greve de 29 de Setembro poderia ter criado graves transtornos à população, que teria visto o seu direito à mobilidade limitado.» O USB respondeu duramente à «censura» ministerial e afirmou que «quatro horas não bastam aos trabalhadores para reivindicar os seus próprios direitos». Por isso, decidiu passar a paralisação para 9 de Outubro, convocada novamente com uma duração de 24 horas, «para permitir aos trabalhadores dos transportes públicos locais sair para a rua e manifestar o seu descontentamento». Com a decisão do ministro, sublinha o sindicato numa nota, a jornada de luta de dia 9 ganha uma nova dimensão, porque diz respeito à «defesa do exercício do direito à greve nos serviços públicos essenciais». Sublinhando que se trata «do enésimo ataque ao direito de greve», o USB afirma que ele é perpetrado porque a paralisação é «incómoda» e «põe em causa as políticas» do governo de Meloni, além de «exigir salários e condições de trabalho dignas». «Este decreto absurdo degrada toda a história e o valor do direito à greve, como único meio de reivindicar os direitos dos trabalhadores», afirma a organização sindical no texto. Ali, lembra que os funcionários dos transportes públicos foram punidos «por anos de privatizações selvagens, baixos níveis salariais e protecções reduzidas ao mínimo». Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. A este propósito, ao apresentar os dados da adesão ao protesto (entre os 50% e a paralisação total) nas várias cidades e empresas durante a manhã, a USB lembrou que as cidades de Cosenza, Brescia e Génova, e a região Trentino Alto-Ádige ficaram de fora da jornada de luta, devido às limitações objectivas que as regulamentações actuais ali colocam ao exercício do direito à greve nos serviços públicos essenciais. Numa nota publicada ontem, a organização sindical italiana destacou não só a «elevadíssima adesão», como as mobilizações que tiveram lugar em Roma, Mestre, Veneza, Bolonha, Nápoles, Perúgia, Modena, Turim, Vicenza e Bari. Para a central sindical, tratou-se de uma resposta à «arrogância do ministro Matteo Salvini», que, enquanto titular da pasta dos Transportes e Infra-estruturas, havia reduzido para quatro horas a duração da greve anteriormente convocada para 29 de Setembro. Numa jornada de luta «contra as privatizações selvagens que alimentam a exploração e a precariedade», a USB agradeceu as mensagens de solidariedade que chegaram de várias latitudes, nomeadamente, das centrais sindicais CGPT-IN (Portugal) e CGT (França) ou do sindicato dos transportes RMT (Reino Unido). Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
Trabalhadores dos transportes públicos respondem a Salvini com elevada mobilização
Internacional|
Ataque «vergonhoso» de Salvini ao direito à greve, denuncia sindicato italiano
Jornada de luta de dia 9 ganha uma nova dimensão
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Em declarações recolhidas pelo periódico, o secretário-geral da Confederação Geral Italiana do Trabalho (CGIL), Maurizio Landini, respondeu de imediato, afirmando que as palavras do ministro «mascaram um ataque ao direito à greve».
«A greve não é um direito das organizações sindicais ou de qualquer sindicalista, mas das pessoas», disse.
«Travar Salvini para defender as liberdades de todos»
Num comunicado divulgado esta sexta-feira, subscrito, entre outros, pela Unione Sindacale di Base (USB), Partito della Rifondazione Comunista, Potere al Popolo, Partito Comunista Italiano, Movimento per il diritto all’abitare ou Opposizione Studentesca d’Alternativa, destaca-se que a intervenção de Salvini na greve convocada para 15 de Dezembro é «completamente ilegal».
Isto, apesar de o país transalpino já ter uma das legislações «mais restritivas da Europa no que respeita ao direito à greve, mas que evidentemente ainda não é suficientemente restritiva para os interesses patronais que Salvini decidiu proteger», acusam.
Trata-se de um «abuso de poder» e de «um gravíssimo ataque às liberdades democráticas», afirmam os signatários do documento, para quem o ministro dos Transportes e Infra-estruturas age com «hipocrisia».
«Salvini diz querer proteger o direito à mobilidade mas não intervém para combater os repetidos acidentes que se multiplicam nas linhas ferroviárias e que continuam a causar mortes entre trabalhadores e cidadãos», denunciam.
Acusando Salvini de ser «o homem dos decretos de segurança», mas de virar as costas quando se trata de intervir em questões de segurança no trabalho, e responsabilizando-o, enquanto ministro das Infra-estruturas, pela «dramática crise da habitação» que se vive no país, os signitários afirmam que o ataque ao direito à greve é «apenas uma de muitas áreas em que se assiste, há tempos, à redução das liberdades democráticas».
Neste sentido, lembram as múltiplas condenações a activistas sociais e sindicais, as proibições cada vez maiores às manifestações e, de forma mais lata, os projectos de revisão da Constituição, que «configuram uma torção autoritária do sistema».
Como resposta e porque «não é possível ficar a assistir», convocam uma manifestação em Roma, para dia 15, às 17h, na Praça da Independência, com o lema «A proibição da greve é uma medida fascista. Travar Salvini pela liberdade de todos».
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