O anúncio do reatamento das relações diplomáticas «ao mais alto nível para fortalecer os laços históricos bilaterais e consolidar as pontes que unem a América Latina ao continente africano» foi feito na quinta-feira e coincidiu com a visita ao Peru do ministro saarauí dos Negócios Estrangeiros, Mohamed Salem Salem Uld Salek.
Recebido pelo presidente da República do Peru, o diplomata saarauí entregou a Pedro Castillo uma mensagem do seu homólogo saarauí, Brahim Gali, refere o Sahara Press Service, acrescentando que Salek também se reuniu com o seu homólogo peruano, Óscar Maúrtua, para abordar as relações bilaterais e temas de interesse comum.
O secretário-geral do partido Perú Libre, Vladimir Cerrón, congratulou-se com este passo, que normaliza relações estabelecidas em 1987 e rompidas em 1996 pelo governo de Alberto Fujimori.
Numa conferência virtual, o movimento africano de solidariedade com o povo saarauí instou vários organismos a proteger os civis da repressão marroquina e a acelerar a libertação do Saara Ocidental. O apelo às Nações Unidas, à União Europeia (UE), à União Africana (UA) e ao Comité Internacional da Cruz Vermelha foi lançado no contexto da conferência virtual realizada esta quarta-feira para celebrar o 45.º aniversário da proclamação da República Árabe Saarauí Democrática (27 de Fevereiro de 1976). O evento contou com a participação de dignatários africanos, representantes de partidos políticos, sindicatos, organizações não governamentais, académicos, representantes de organizações juvenis, mulheres e órgãos de comunicação de dezenas de países, que expressaram o seu «apoio firme e inalterável à legítima luta do povo da República Saarauí pela sua independência e liberdade», informa o portal ecsaharaui.com. O movimento solidário africano fez um apelo «a todos os panafricanistas, amantes da paz e da liberdade para que permaneçam ao lado do povo da última colónia africana, já que África nunca será livre enquanto um dos seus países for ocupado e brutalizado». Neste sentido, os participantes instaram também os países africanos, os partidos políticos, sindicatos, organizações de mulheres e de jovens, e os meios de comunicação africanos a dar mais visibilidade e atenção «à heróica resistência do povo africano do Saara Ocidental» «A nova geração de África não pode permitir que os nossos irmãos e irmãs do Saara Ocidental fiquem abandonados nesta luta pela liberdade», lê-se no comunicado final do encontro, que pede à UA que assuma a sua responsabilidade de impor o respeito pela sua Acta Constitutiva e, assim, obrigar Marrocos a pôr fim à ocupação ilegal de partes do território da República Saarauí. No que respeita aos recursos naturais, os participantes pediram «à UE que ponha fim à violação da sentença do Tribunal de Justiça da União Europeia sobre a exploração ilegal dos recursos naturais no Saara Ocidental», considerando que o bloco europeu, ao fazer acordos comerciais com Marrocos, contribui directamente para a ocupação ilegal e as violações dos direitos humanos nos territórios ocupados. «A UE devia fazer parte da solução para o conflito e não do problema», sublinharam. Sobre os acontecimentos mais recentes e actuais, o movimento africano solidário recordou que «o Saara Ocidental é uma zona de guerra desde 13 de Novembro de 2020, devido à violação marroquina do cessar-fogo e ao ataque contra civis saarauís na região de El Guerguerat, informa a mesma fonte. Os participantes instam o Comité Internacional da Cruz Vermelha e a Comissão de Direitos Humanos e dos Povos da UA a intervir de imediato para proteger os civis saarauís das «violações sistemáticas de direitos humanos por parte de Marrocos nos territórios ocupados» e, ao abordarem a situação dos presos saarauís nas cadeias marroquinas, solicitaram a «libertação incondicional de todos os presos políticos e lutadores pela liberdade». Ao assinalar o 45.º aniversário da proclamação da RASD, o movimento africano de solidariedade com o povo saarauí comprometeu-se a continuar a apoiá-lo na «sua legítima luta pela liberdade e a independência», bem como a reforçar a coordenação para «promover todas as iniciativas e acções africanas nesse sentido». Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
Saara Ocidental: África não será livre enquanto for «ocupada e brutalizada»
«UE devia fazer parte da solução, não do problema»
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Um comunicado emitido pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros do Peru sublinha que o restabelecimento das relações diplomáticas está inspirado «nos princípios e propósitos da Carta da Organização das Nações Unidas e em conformidade com aquilo que estabelece a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas».
O diário conservador El Comercio criticou a medida, tendo afirmado que a Embaixada de Marrocos em Lima a encara como um «erro que deve ser reparado».
Por seu lado, a Comissão de Relações Externas do Congresso, que é presidida por Ernesto Bustamante (Fuerza Popular, de direita), afirmou numa nota que «este inusitado, súbito e não anunciado acto de reconhecimento põe em grave e desnecessário risco a estabilidade das relações do Peru com os reinos de Marrocos e Espanha».
Mais ainda, convocou o ministro dos Negócios Estrangeiros, Óscar Maúrtua, a comparecer no Parlamento com carácter de urgência, dia 13, para explicar a decisão, informa a agência AP.
No comunicado conjunto emitido dia 9 em Lima e Bir Lehlu, afirma-se: «Os governos da República do Peru e da RASD reafirmam o seu respeito pelo direito internacional e pelo princípio da livre determinação dos povos, em conformidade com o princípio da igualdade jurídica dos estados como base do respeito pela soberania nacional, a paz, a segurança e a cooperação nas relações internacionais.»
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