Num comunicado conjunto, as sedes diplomáticas dos sete países latino-americanos denunciam de forma enérgica o leilão «Los Imperios de Luz (IV) Colecciones Privadas Europeas de Arte Precolombino», que deverá ter lugar na próxima segunda-feira, 3 de Abril, e foi organizado pela casa Millon et Associés.
«Mantemos o firme propósito de promover acções para travar a comercialização de bens que pertencem aos nossos respectivos estados e de realizar acções de sensibilização para que se reconheça que fazem parte do património histórico da humanidade», refere o documento.
O texto conjunto, ontem emitido, destaca que este tipo de transacções «fomenta o saque, o tráfico ilícito e o branqueamento de bens perpetrados pela delinquência organizada transnacional».
A Secretaria da Cultura e o Instituto Nacional de Antropologia e História do México condenaram um leilão de peças arqueológicas programado para Paris, porque são património histórico e cultural do país. Numa nota emitida esta quinta-feira, o governo mexicano informa que a casa Binoche et de Giquello, em Paris (França), agendou para o próximo dia 22 um leilão de peças incluídas no património cultural do país americano, apesar das reclamações feitas. Especialistas do Instituto Nacional de Antropologia e História (INAH) elaboraram um parecer em que examinam as características de forma, estilo, matéria-prima, proporções, acabamentos de superfície e estado de conservação de cada peça, revela o texto. Deste modo, determinaram que 62 objectos postos à venda são «monumentos arqueológicos mexicanos, definidos e protegidos pela Lei Federal sobre Monumentos e Zonas Arqueológicos, Artísticos e Históricos». A nota acrescenta que a antiguidade das peças, classificadas como pré-hispânicas, vai do período Pré-clássico Médio (1200 a.C. – 400 a.C.) ao Pós-clássico Mesoamericano (900 d.C. – 1300 d.C.), e correspondem aos estilos olmeca da Costa do Golfo, Pré-clássico do Altiplano Central, maia do Clássico, chinesco do Ocidente do México e totonaco da Costa do Golfo do Pós-clássico mesoamericano. Andrés Manuel López Obrador disse que as casas de leilões francesas foram longe demais na venda de objectos pré-hispânicos e lamentou a falta de legislação para controlar este tipo de acções. Referindo-se, na segunda-feira, aos leilões de património cultural do país azteca, o presidente do México considerou-os «imorais» e disse que as casas de leilões chegaram inclusive a enviar fotografias de relíquias ao Instituto Nacional de Antropologia e História (INAH) para perguntar à instituição mexicana se eram genuínas e as poder vender por mais dinheiro. A mostra, patente ao público até 26 de Abril na Cidade do México, evidencia a enorme riqueza cultural do país. Algumas peças foram repatriadas nos últimos 3 anos, outras são empréstimos de museus estrangeiros. «La grandeza de México» é uma mostra da história, arqueologia, artesanato, escultura, óleos, danças indígenas que expressam «a imensa riqueza cultural» do país americano, e que documenta ainda processos históricos e de luta, segundo nota dos organizadores. A exposição permanecerá aberta ao público até 26 de Abril deste ano nas suas duas sedes, ambas na capital mexicana: o Museu Nacional de Antropologia (MNA) e o Salão Ibero-americano, da Secretaria de Educação Pública (SEP). No total, ambos os espaços reúnem mais de 1500 peças (380 no MNA e 1145 no SEP), algo que, nalguns casos, só se tornou possível graças à acção da «diplomacia cultural» das autoridades mexicanas. Deste modo, indica o Instituto Nacional de Antropologia e História (INAH), é possível ver na Cidade do México «um panorama único sobre a vastidão do património cultural, a história e as identidades que foram criadas no território que é hoje o México». Dois dos curadores, Baltazar Brito Guadarrama e Karina Romero Blanco, sublinharam quão importante é reunir obras patrimoniais poucas vezes vistas e, inclusive, inéditas museograficamente. «A exposição celebra as múltiplas identidades do México, convidando o público a conhecer uma variedade de linguagens, culturas e manifestações artísticas que foram criadas em diferentes momentos da nossa história», disse Karina Romero, citada pelo INAH. No Salão Ibero-americano, 264 das 1145 peças são «nacionais», 879 são «repatriações» alcançadas nos últimos três anos e duas são empréstimos de obras de outros países, informa a SEP, que subdivide a mostra em regiões: Sudeste e área Maia; Altiplano e Norte do México; às quais junta um «módulo geral para documentar os processos de um povo em luta». Especialistas do Instituto Nacional de Antropologia e História (INAH) recuperaram uma vasilha de estilo Chocholá, gravada com um texto hieroglífico, durante trabalhos arqueológicos nas obras do Tren Maya. Um comunicado do INAH precisou que este tipo de cerâmica data de finais do período Clássico Inicial ao Clássico Tardio (entre 600 e 800 d.C.), atribuído à zona de Oxkintok, uma região que se propôs como a área de produção deste estilo de peças, no Iucatão, informa o diário La Jornada. Trata-se, esclarece, de um tipo de vasilhas com ampla presença no Norte do Iucatão, mas cuja maioria registada é proveniente de colecções privadas como resultado do saque e do comércio ilícito, sem que se conheça o contexto cultural arqueológico da proveniência – daí a importância da peça recuperada. As vasilhas Chocholá, explica o texto, caracterizam-se por apresentar texto hieroglífico, embora possam ou não apresentar cenas iconográficas. De um modo geral, a escrita trata de uma Sequência Primária Padrão ou frase dedicatória, que descreve o objecto e menciona o seu proprietário e o possível conteúdo. O estilo de vasilhas Chocholá, acrescenta o comunicado do INAH, foi assim designado pelo arqueólogo e epigrafista norte-americano Michel D. Coe, na sua obra The Maya Scribe and His World, devido ao facto de a maioria das peças apresentadas no catálogo referido terem sido adquiridas na zona de Chocholá, por parte dos coleccionistas. O arqueólogo Ricardo Abraham Mateo, membro da equipa de trabalhos arqueológicos do Proyecto Tren Maya, que leva a cabo a análise epigráfica da vasilha, detalha que, de acordo com os especialistas que estudaram a região, são poucas as vasilhas com estas características que se recuperaram no seu contexto original. Segundo o estudo epigráfico do especialista, o texto gravado na peça é uma Sequência Primária Padrão ou frase dedicatória. Consiste em cinco conjuntos de inscrições glíficas, que são lidas da seguinte forma: A1 u jay (u-ja-yi) «É a sua taça»; B1 yuk'ib (yu-k'i-bi) «o seu copo»; C1 ta yutal (ta-yu-ta) «para o seu afrutado»; D1 tsihil kakawa (tsi-li-ka-wa) «cacau fresco ou novo»; D1 Sajal (sa-ja-la?) «do Sajal» (homem subordinado ou exclamador). Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. A grande diversidade cultural e natural do país americano pode ser também apreciada nas 380 peças que integram a mostra no MNA, algumas das quais voltam a território mexicano pela primeira vez, como a Carta topográfica de la Ciudad de México, de 1550, proveniente da Universidade de Uppsala (Suécia); a vestimenta litúrgica elaborada com plumas de colibri, seda e linho do século XVIII, assim como outras peças que foram emprestadas pelo Museu do Quai Branly-Jacques Chirac e o Museu das Américas, ambos em França. «As peças pré-hispânicas, documentos originais e fac-similares, bem como os óleos de artistas mexicanos, revelam o nosso passado para dar um novo significado ao presente», refere ainda a nota dos organizadores. A exposição divide-se em cinco apartados temáticos: «Território: palcos de vida e paisagens culturais», «Espiritualidade: uma via para compreender o mundo», «O individuo: origem e centro das culturas», «Simbolismo: ideias e representações do mundo» e «O motor da história». Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. López Obrador disse ter dado ordens ao INAH para que não responda mais a esse tipo de solicitações. «Têm o descaramento, as organizações que se dedicam a leiloar estas peças, de pedir informação ao INAH mediante fotografias para que o INAH lhes diga se são autênticas ou falsas», disse, citado pela agência Associated Press (AP). O presidente mexicano criticou o governo francês por «não ter feito nada para impedir que seja leiloado este tipo de objectos nos últimos anos» e defendeu que os franceses deviam agir mais como o executivo italiano, que fez um esforço no sentido de identificar e devolver objectos antigos. Acrescentou que a sua esposa, Beatriz Gutiérrez Müller, escreveu ao ministro francês dos Negócios Estrangeiros para lhe pedir que seja travada a venda de cerca de 50 artefactos mexicanos, nos próximos dois leilões. Além disso, as embaixadas de Equador, Guatemala, México, Panamá, Peru e República Dominicana em França emitiram, esta terça-feira, um comunicado conjunto expressando «veemente repúdio» pelos leilões de bens culturais pré-colombianos em Paris. A casa Société Baecque et Associés leiloa hoje objectos de povos originários de todas partes do mundo. Para sexta-feira, dia 11, está marcado o leilão de vários artefactos pré-hispânicos de diversas partes da América Latina, na Société Binoche et Giquello. López Obrador disse que muitas das peças à venda são falsas e pediu aos eventuais compradores «que não ajam como delinquentes», refere a AP. Até ao momento, o México, que lançou uma campanha pela devolução de objectos das civilizações maia e azteca, bem como de outros povos pré-hispânicos, conseguiu recuperar 6000 peças, sobretudo provenientes de Itália, EUA, Alemanha e Canadá. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Ambas as instituições mexicanas apresentaram uma queixa junto da Procuradoria-Geral da República e, como noutras ocasiões, enviaram ofícios ao serviço jurídico da Secretaria dos Negócios Estrangeiros e à Direcção-Geral dos Assuntos Policiais Internacionais da Interpol, para que tomem medidas com vista à repatriação dos bens em causa. Além disso, a secretária da Cultura, Alejandra Frausto, apelou à ética e ao respeito pelo património cultural, e, em nome do governo do México, instou a casa Binoche et de Giquello a deter a oferta e a venda das peças arqueológicas mencionadas, cujo «valor histórico, simbólico e cultural» supera «qualquer interesse comercial». O executivo mexicano, que leva a cabo uma intensa campanha – intitulada «Mi Patrimonio No Se Vende» – pela devolução ao país dos bens arqueológicos e patrimoniais, no âmbito da qual recuperou milhares de peças, reafirma, no documento, o compromisso com a luta contra o tráfico ilícito de bens culturais. Pede ainda que se faça uma reflexão sobre a comercialização de bens culturais «ilegalmente espoliados», na medida em que «contribui para a desapropriação cultural e atenta contra a memória dos povos». Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. 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Além disso – denunciam as embaixadas –, os leilões «atentam contra a arqueologia moderna, ao incentivar escavações ilegais para extrair objectos», e «privam as peças substraídas da sua essência cultural, histórica e simbólica, reduzindo-as a simples objectos de decoração de particulares».
Bolívia, Colômbia, Equador, Guatemala, México, Panamá e Peru defendem ainda que estas transacções «minam a cooperação entre os estados para a protecção e conservação do património cultural», e «alentam um mercado de falsificações».
«Estamos comprometidos com uma diplomacia activa, em defesa dos nossos patrimónios pela via jurídica, bilateralmente com o governo francês, e multilateralmente, sobretudo via Unesco», afirma o texto.
No caso de França, acrescentam, a legislação que regula as vendas e leilões dos bens culturais decreta que a restituição das peças depende da vontade do possuidor privado, o que limita consideravelmente o âmbito de acção dos países que lutam pela protecção do património cultural pré-hispânico e colonial, e que procuram travar o seu tráfico ilícito.
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