Os protetos de ontem dão sequência aos de sexta-feira passada, quando milhares de pessoas vieram para as ruas da capital haitiana, Porto Príncipe, e de várias outras localidades do país para exigir que o presidente, Jovenel Moïse, deixe o poder no próximo dia 7 de Fevereiro.
A mobilização do passado dia 15 foi a primeira de um conjunto de protestos anunciado pela oposição contra aquilo a que chama «regime corrupto e ilegítimo». Vários partidos e organizações sociais exigem que o presidente abandone o cargo e denunciam que a actual carta magna haitiana proíbe a sua alteração por via de um referendo, pelo que consideram ilegal a consulta popular convocada pelo governo de Moïse – com o apoio dos EUA, da ONU e da OEA.
A Polícia lançou gás lacrimogéneo contra os manifestantes, que responderam com pedras. Então, o director da Polícia Nacional do Haiti (PNH), León Charles, anunciou a proibição das mobilizações da oposição contra o presidente, convocadas pelo Movimiento Popular Dessaliniano (Mopod). Além disso, as forças policiais foram colocadas em estado de alerta máximo, informa a HispanTV.
Um dos dirigentes do Sector Democrático e Popular, André Michel, classificou a proibição como um «ataque grave ao direito de manifestação» e, ontem, os manifestantes voltaram às ruas, tendo como objectivo realizar uma marcha até à Embaixada dos Estados Unidos.
As forças policiais usaram gás lacrimogéneo e fogo real para dispersar vários grupos de manifestantes em Porto Príncipe. Segundo refere a Prensa Latina, só um pequeno grupo de activistas e dirigentes da oposição conseguiu ultrapassar os fortes dispositivos de segurança e aproximar-se da Embaixada dos EUA, para pedir à administração norte-americana que retire o seu apoio a Moïse, que acusam de ser corrupto e não respeitar a Constituição, com os seus planos de criar uma nova por via de um referendo.
Rony Timothée, um dos manifestantes, denunciou a violenta repressão policial sobre a marcha. Por seu lado, o dirigente político André Michel disse que a oposição se vai continuar a manifestar, criticou a Polícia pelo uso da violência e afirmou que esta não será notificada das próximas manifestações.
«Haiti contra o neocolonialismo»
Num texto publicado no diário mexicano La Jornada, o historiador e escritor Cristóbal León Campos afirma que «no Haiti aumentam os protestos contra o desacreditado presidente Jovenel Moïse, acusado de múltiplos crimes, que incrementa a repressão e a pobreza como sintomas comuns no país caribenho».
«Os interesses colonialistas do imperialismo mergulharam o país durante mais de dois séculos numa condição de dependência e injustiça de que o povo ainda não consegue sair», mas lembra que, por maior que seja o silêncio interessado, existe no Haiti «a resistência anticolonialista-imperialista e revolucionária que luta pela emancipação do povo e o estabelecimento da democracia e a justiça».
O Partido RASIN Kan Pèp La foi um de vários organismos que denunciaram «a atitude intervencionista» das Nações Unidas e da Organização de Estados Americanos (OEA), uma vez que, «com a desculpa de contribuir para a redacção de uma nova Constituição, ambas as entidades enviaram representantes alinhados com o governo repudiado». Num comunicado, sublinha que «esta prática é a expressão de uma visão intervencionista e colonialista, bem como do desprezo que têm pelo povo haitiano».
Numa outra declaração, lembra ainda Campos, várias organizações populares e revolucionárias haitianas referem que: «O regime de Jovenel Moïse no Haiti é completamente ilegítimo e corrupto. Os grupos [de criminosos] cometeram muitos crimes, atacando bairros populares e matando os opositores ao regime com impunidade. Com o aprofundar da crise política e económica, Moïse tem estado a pedir uma nova constituição para consolidar ainda mais o seu poder.»
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