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Novo mar de gente em Compostela contra o projecto da Altri

Mais de 80 mil pessoas manifestaram-se pelo «fim definitivo» do projecto da macrocelulose na Galiza. Ao cabo de 19 meses de mobilização, os organizadores afirmam que «é um êxito absoluto».

Mais de 80 mil pessoas manifestaram-se este domingo em Compostela, Galiza, pelo rejeição definitiva do projecto da Altri Créditos / CIG

Um ano depois da enorme manifestação contra a Altri, também em Compostela, milhares de pessoas voltaram a sair à rua, este domingo, para dizer um «não definitivo» à empresa, convocadas por diversas associações e organizações, nomeadamente a Plataforma Ulloa Viva e a Plataforma em Defesa da Ria de Arousa.

De acordo com a organização, mais de 80 mil pessoas percorreram o centro da cidade galega e encheram a Praça do Obradoiro, gritando «Altri não, fora já», exigindo à Xunta que suspenda as autorizações e rejeitando um projecto que, sublinham os promotores do protesto, ataca de forma directa o modo de vida da região da Ulloa, a qualidade das águas do rio Ulla e a sobrevivência da pesca e da mariscagem na Ria de Arousa.

Com este protesto, os organizadores esperam que a Altri seja definitivamente excluída do planeamento energético, da captação de água e da autorização ambiental integrada da Xunta. «É necessário enterrar este projecto de uma vez por todas, paralisando as autorizações pendentes do Governo da Galiza», sublinharam.

Xunta apontada como «responsável»

Em declarações à imprensa, na manifestação, Marta Gontá, porta-voz da Plataforma Ulloa Viva, destacou que «voltamos a Santiago com a mesma determinação e com o mesmo objectivo do ano passado: que a Altri não se instale nas nossas terras».

As razões do protesto «são simples e de bom senso», declarou Gontá, citada pelo diário Nós, afirmando a defesa da «qualidade de vida que temos» e criticando a Altri «nos dar 8754 quilos de gases poluentes por dia, que deixariam a população doente».

A porta-voz da Ulloa Viva sublinhou que a macrocelulose significaria também «a poluição do rio Ulla com o despejo de 60 toneladas de sulfatos por dia, a expropriação de terras e a entrega de enormes quantidades de água doce e terras férteis para que esta indústria possa arrancar as raízes das nossas montanhas a seu bel-prazer, enquanto um deserto verde de monocultura nos devasta».

Marta Gontá alertou que «querem tirar os bens e os recursos aos nossos filhos para os entregar a uma empresa privada que só procura o lucro à custa do que é necessário». Neste sentido, a porta-voz  deixou claro que «a Altri não se vai instalar nas nossas terras, vamos defendê-las a todo o custo», advertindo que «os responsáveis ​​pelo sofrimento da população e pela dimensão que este conflito está a tomar estão na Xunta de Galiza».

O progresso da nossa terra «não é saquear este país»

No final da mobilização, na Praça do Obradoiro, representantes da organização leram um manifesto em que se exige ao executivo galego que rejeite e arquive de imediato «um projecto que ataca os nossos interesses enquanto povo».

«Afirmamos com toda a veemência que a água é nossa, e não da celulose. Um governo que se gabe de se preocupar com os seus cidadãos, presentes e futuros, não pode hipotecar 46 milhões de litros de água por dia com uma concessão para o lucro de uma empresa com 75 anos de antecedência», afirmaram, citados pelo portal da Confederação Intersindical Galega (CIG).

Porque o progresso na nossa terra «não é saquear este país», mas «respeitar a nossa paisagem natural e cultural, o modelo produtivo e de vida das sociedades. É fazer com que os seus benefícios permaneçam na nossa terra e contribuam para distribuir a riqueza. É apoiar as nossas zonas rurais e a estruturação do território», disseram.

Se toda a actividade humana gera impactos, então «optamos por modelos industriais compatíveis com a nossa riqueza e não por projectos extractivos, como o Altri ou o Cobres San Rafael, que priorizam o lucro privado em detrimento dos nossos recursos».

«Queremos deixar claro que a Galiza não é uma terra de sacrifício: é casa, é memória, é futuro, é um território harmonioso. Ao arrancarem as nossas florestas, deixam-nos sem raízes», disseram, acrescentando: «Não o permitiremos, a dignidade de um povo vivo não pode ser arrancada.»

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